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Artigo do Jornal: Jornal Outubro 2015

Sobre o autor

Jurema Seckler

Jurema Seckler

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“Trajados de branco, apresentavam-se caminhando pelas ruas lamacentas do vale, de um a um, em coluna rigorosamente disciplinada, enquanto, olhando-os atentamente, distinguiríamos, à altura do peito de todos, pequena cruz azul-celeste, o que parecia ser um emblema, um distintivo¹”.

 

Camilo Castelo Branco é considerado um dos maiores nomes da literatura portuguesa de todos os tempos.

Apesar de uma vida atribulada, hostilizado por muitos por seu caráter instável e pelos seus comprometimentos morais adquiridos pela sedução amorosa, Camilo era um artista excepcional, admirado como cronista, historiador, poeta, e que deixou para a língua portuguesa um acervo de obras riquíssimas, ele que foi um dos mestres do romantismo em Portugal.

No entanto, em 1º de junho de 1890, em sua casa de São Miguel de Seide – Vila Nova de Famalicão, Portugal, o grande escritor suicida-se com um tiro na têmpora direita.

Inicia-se então na vida de Camilo uma “outra história” que, em 1954 foi contada pela Federação Espírita Brasileira pela mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira no livro Memórias de um Suicida. Nele, Camilo conta o sofrimento aterrador vivido por ele e outros companheiros no Vale dos Suicidas por cerca de 10 anos.

Em um dos momentos mais emocionantes do livro, Camilo descreve seu resgate e de alguns companheiros feitos pelos Servos de Maria, caravana de espíritos ligados a Maria de Nazaré.

Apesar de Memórias de um Suicida ser, em todos os momentos de sua leitura, um livro impactante, o resgate do vale das sombras é a parte do livro que sempre me emocionou muito. Lia e relia o trecho da chegada da caravana com seus comboios luminosos, puxados por lindos cavalos brancos e precedidos por pelotão de lanceiros, que lembravam guerreiros egípcios da antiguidade, com o oficial comandante segurando uma flâmula azul-celeste onde se lia LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA.

Neste momento minha confiança em Deus se fortalecia, pois o livro nos mostra que nunca estamos desamparados e a misericórdia divina é infinita, dando-nos inumeráveis chances de rever nosso erros, recompor nossas personalidades e trilhar positivamente o caminho evolutivo.

Como nos conta Camilo, os caravaneiros “vinham à procura daqueles dentre nós cujos fluidos vitais, arrefecidos pela desintegração completa da matéria, permitissem locomoção para as camadas do Invisível intermediário, ou de transição... Eram espíritos que estendiam a fraternidade ao extremo de se materializarem o suficiente para se tornarem plenamente percebidos à nossa precária visão e nos infundirem confiança no socorro que nos davam²”.

Os bondosos trabalhadores de Maria faziam a chamada daqueles que deveriam ser recolhidos, e aquele que – ansioso como ele –, não ouvia o seu nome, voltava para a solidão temível do lugar.

Mas, um dia, Camilo ouve seu nome e entre lágrimas de emoção sobe no comboio e sabe que havia deixado para sempre o vale sinistro. Agradece então a Deus a grande mercê que recebia.

Iniciava nova trajetória agora no Hospital Maria de Nazaré e no futuro na Cidade Universitária.

Yvonne comenta que o livro nunca foi psicografado, pois ela via e ouvia as cenas descritas. Desde criança Yvonne via Camilo em sua casa. Ela tinha sido escolhida pelo autor para contar sua vida na espiritualidade, dada a identificação fluídica de suicida para suicida e as poderosas correntes afetivas espirituais que os uniam.

Neste trabalho a comunicação foi sempre muito difícil para Yvonne, que no fim o relegou para o fundo de uma gaveta até que, oito anos depois, Léon Denis empreendeu rigorosa revisão e compilação do livro, sendo por fim aceito pela FEB.

Aos amigos leitores fica mais essa sugestão: a leitura desta obra fundamental da literatura espírita. Fica ainda o conselho de Léon Denis:

“Que medites sobre estas páginas, leitor, ainda que duro se torne para o teu orgulho pessoal aceitá-las! E se as lágrimas alguma vez rociarem tuas pálpebras, à passagem de um lance mais dramático, não recalcitres contra o impulso generoso de exaltar teu coração em prece piedosa, por aqueles que se estorcem nas trágicas convulsões da inconseqüência de infrações às leis de Deus³”.

Fontes Bibliográficas:

¹- Pereira, Yvonne do Amaral. Memórias de um Suicida. FEB, RJ, 1954.

²- IDEM

³- IDEM

Ao caro editor Saulo de Tarso e à querida amiga Ângela Delou, agradeço a oportunidade de escrever 5 artigos acerca da vida e obra de Yvonne Pereira, o que muito me alegrou. Na próxima edição nossa amiga Ângela retorna.

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