
“Berthe de Sourmeville (Yvonne) não era de têmpera a sofrer esperas e incertezas. Era uma alma positiva e arrojada, insofrida e intimorata, que não se resignara a situações passivas. No dia em que essa alma se renovasse para o amor de Deus e se desse à prática do Bem seu triunfo repercutiria nos Céus e ela seria considerada exemplo para as almas frágeis, que se deixam descrer do próprio progresso”.
Charles
A literatura espírita se insere no rol das mais lidas no Brasil. São inúmeros os romances que vem encantando e inspirando leitores de várias gerações e é comum encontrarmos aqueles que se tornaram espíritas iniciando-se na leitura de um deles. Neste cenário destaca-se a produção psicográfica de Yvonne Pereira, um dos maiores fenômenos mediúnicos que o Brasil já produziu, como nos diz Pedro Camilo, um de seus biógrafos.
Yvonne era um espírito comprometido com a Justiça Divina. Suicida em vidas passadas, vinha na atual com sérias dificuldades, como a lembrança, na primeira infância, de suas vidas passadas e que lhe traziam grandes transtornos. Sua mediunidade se apresentou muito cedo. Mas, como diria mais tarde, foi um grande esteio para sua vida apesar de a considerar uma grande prova.
Dentre sua bibliografia destaca-se a famosa trilogia de romances, todos obtidos por via mediúnica, com assessoramento do espírito Charles, amigo amoroso que a acompanhava em várias encarnações.
Yvonne Pereira explicava que seus romances não eram psicografados, pois era conduzida, em espírito, aos locais onde se passaram os fatos. Yvonne então revivia os acontecimentos, sentindo as mesmas sensações daqueles momentos, já que os fatos se referiam a ela própria: “... meu espírito alçava ao convívio do mundo invisível e as mensagens já não eram escritas, mas narradas, mostradas, exibidas à minha faculdade mediúnica para que, ao despertar, maior facilidade eu encontrasse para descrevê-las...”
Tal método causava-lhe grande sofrimento, mas como lhe dizia Charles: “... não deixarei que esqueças certos episódios por ti vividos na anterior existência, porque será o único meio de te fazer refletir para a emenda definitiva. Não te pouparei os sofrimentos daí advindos. O que poderei fazer é ajudar-te a suportá-los com firmeza de ânimo, e isso eu o farei”.¹
Os 3 romances representam a trajetória de almas em conflito que, desde o tempo de Roma, encarnavam em conjunto: Yvonne, Charles e Roberto de Canalejas. Os romances foram “ditados” de trás para diante e devemos lê-los na seguinte ordem: Nas Voragens do Pecado, O Cavaleiro de Numiers e O Drama da Bretanha, obras publicadas pela FEB.
A história começa na França no dia 24 de agosto de 1572, com a tristemente famosa “Matança de São Bartolomeu”, quando Ruth-Carolina de La Chapelle (Yvonne) inicia a vingança de sua família trucidada, que a levaria durante algumas existências a grandes sofrimentos e ao suicídio.
Em continuidade, a vemos como Berthe de Sourmeville-Stainesbourg, ainda na França, no romance O Cavaleiro de Numiers, que se passa na segunda metade do século XVII.
No terceiro romance a encontramos em 1804, em Portugal, e nossa Yvonne é Andrea de Guzman, que se suicida no rio Tejo.
Os romances foram “ditados” por Roberto de Canalejas e finalizados por Charles, pois Roberto despediu-se para reencarnar, o que aconteceu em Varsóvia, na Polônia.
Os romances de Yvonne Pereira constituem leitura encantadora, prazerosa e antes de tudo esclarecedora.
“Estes três romances nos oferecem a triste história de corações em luta redentora, ...mostrando-nos que a Lei de Causa e Efeito é inexorável, dando, a cada um, segundo suas obras e a todos ligando por vínculos que o tempo e o espaço não podem destruir”.
(Reformador, n° 4, julho/agosto/setembro – 1984)
¹ PEREIRA, Yvonne A. Recordação da Mediunidade. Orientação Adolfo Bezerra de Menezes, 9° Ed – Rio de Janeiro. FEB,2000.