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Artigo do Jornal: Jornal Agosto 2015

Sobre o autor

Jurema Seckler

Jurema Seckler

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“Dentre as abençoadas faculdades medianímicas postas a serviço da fraternidade humana e do bem, a de natureza curadora reveste-se de recursos preciosos para, em nome do Terapeuta Divino, socorrer as criaturas em carência de saúde e sob tormentos variados”. ¹ (Vianna de Carvalho)

 O Brasil, na segunda metade do século XIX, era formado por um “caldo” de culturas que misturavam as crenças dos africanos, dos indígenas e dos descendentes europeus católicos que viam com naturalidade a existência de uma vida espiritual. Esta situação com certeza facilitou a propagação da Doutrina Espírita pelos diversos segmentos sociais. Introduzido no Brasil por uma elite europeia, na verdade sua expansão se deveu à caridade fruto da opção pela mediunidade com Jesus. Grande foi a contribuição da Homeopatia que, introduzida no Brasil em 1840, logo se propagou. A Homeopatia e o Espiritismo tinham em comum o conceito de força vital do médico alemão Samuel Hahnemam e o de fluido vital trazido pela Doutrina de Kardec.

Os médicos homeopatas tornavam-se espíritas. Estes médicos, pautando-se na caridade e na própria filosofia da Homeopatia que preconizava o seu caráter social praticavam a medicina gratuita entre os mais pobres, sempre carentes no Brasil de atendimento na área da saúde. E conquistavam assim corações e mentes. “A propagação do Espiritismo no Brasil, de fato, deve muito à atuação dos médiuns receitistas. A cura mediúnica, além de um fim em si mesma, vale como uma comprovação da realidade e da interferência do mundo extrafísico, sendo a forma mais direta de expandir a crença”. ²

Mas foram muitos os que, sem diploma médico, prescreviam a homeopatia, consolidando uma tradição bem brasileira: a do médium que, através de seu espírito-guia, receita os medicamentos de Hahnemann.

Segundo Ubiratan Machado, “convidativa à experiência espírita era a própria casa urbana brasileira. A sala ampla e acolhedora oferecia a ambiência ideal para os contatos com o além. Isso explica o caráter doméstico, familial, do espiritismo brasileiro...” ³ em seus primeiros anos.

E era essa a simplicidade que Yvonne Pereira encontrou no Centro Espírita de Lavras (hoje Centro Espírita Augusto Silva) no sudoeste do Estado de Minas Gerais, onde segundo ela viveu os mais belos fenômenos espíritas. Para Yvonne o centro de Lavras seria muito especial “pelo caráter fervoroso dos adeptos do Espiritismo, que então ali se desdobravam em doce fraternidade e harmonia de vistas, lembrando mesmo os primeiros cristãos”.

E foi lá que Yvonne viveu um dos casos mais interessantes de cura relatado em seu livro Recordações da Mediunidade4. No trabalho, a médium servia como intérprete de Bezerra de Menezes e de Roberto de Canalejas. O caso era de um jovem de 12 anos “paralisado” por uma obsessão de 10 anos, subjugado pelo escravo que ele, reencarnação de seu bisavô escravocrata, também subjugara no passado. Observando a situação, Bezerra de Menezes comentou: o caso é simples, e receitou: o doente deveria se submeter a um tratamento de passes diários, no próprio centro, com uma corrente de três ou mais médiuns e assistir às reuniões que pudesse, orientação que foi seguida religiosamente. Logo na primeira sessão o obsessor foi encaminhado. O remédio: Beladona e China da 5ª dinamização e seis vidros de antigo reconstituinte muito usado na época salvaram o rapaz. E toda família se tornou espírita.

Em Lavras a atuação espiritual era imensa, eram muito os necessitados e poucos os recursos. Mas muitos doentes eram tratados e curados somente com água fluidificada e passes.

Yvonne conta que numa ocasião escreveu ao presidente da FEB, Frederico Figner, solicitando remédios homeopáticos e recebeu durante seis meses sessenta vidros de remédios de sessenta gramas. São palavras dela: Só Deus sabe as grandes curas que esses sessenta vidros mensais de remédios fizeram”.

Yvonne, com a ajuda de Eurípedes Barsanulfo e Bittencourt Sampaio trabalhou muito em curas de paralíticos, mas se permitia atender os necessitados em qualquer parte, fosse na residência deles ou na dela. Conseguiu curas significativas pois entendia que não há hora ou local para fazer o bem. É ela quem diz “...desde o ano de 1926 exerço a mediunidade sem desfalecimentos e pode-se mesmo dizer que a minha maior tarefa no campo espírita foi através da mediunidade, principalmente no setor de receituário e passes para curas, que pratico há 54 anos”.5

Ao leitor relaciono as obras consultadas para maiores informações:

  1. CARVALHO, Vianna de (Espírito). “Médiuns e mediunidade”. Psicografia Divaldo Franco. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 1994.
  2. DAMÁSIO, Sylvia. “Da elite ao povo: advento e expansão do Espiritismo no Rio de Janeiro”. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
  3. MACHADO, Ubiratan. “Os intelectuais e o Espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis”. Rio de Janeiro: Edições Antares/Pró-Memória, 1983
  4. PEREIRA, Yvonne. “Recordações da Mediunidade”. Rio de Janeiro: FEB, 2000.
  5. MARQUES, Augusto”. Yvonne do Amaral Pereira. O Voo de uma Alma”. Rio de Janeiro: edições CELD, 1999.
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