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Artigo do Jornal: Jornal Julho 2015

Sobre o autor

Ângela Delou

Ângela Delou

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“No dia de seu primeiro contato, Tolstoi a arrebatou, em desdobramento, manifestando não somente a sua intenção de escrever, mas também de transmitir regionalismo russo. Acreditando-se despreparada para um feito de tamanha monta (o regionalismo é algo muito melindroso, principalmente pelas vias mediúnicas), Yvonne negou, a princípio, a proposta. No entanto, Tolstoi afirmou que não seria difícil, visto que a médium já havia reencarnado na Rússia, conservando, nos arquivos do inconsciente, as informações necessárias para o ditado”. CAMILO, Pedro. Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa. São Paulo, SP: Lachâtre, 2005.p 69.

 

Um dos aspectos mais interessantes da vida da médium brasileira Yvonne do Amaral Pereira é o rol de amigos que granjeou durante sua última encarnação na Terra. Pelo jeito simples e atencioso de ser e pela correspondência volumosa que não media esforços em responder, foi uma grande consoladora de corações. “Mercê de Deus, eu sempre soube tratar com as criaturas sofredoras, os pobres, os humildes, os mendigos, os chamados caipiras e até com os criminosos. Durante o longo exercício da minha mediunidade tratei com todos eles e entre essa sociedade dos ‘filhos do Calvário’, para me servir da bela expressão do Espírito Emmanuel, consegui amigos sinceros”.

Mas merece destaque em sua biografia os amigos espirituais que se expressaram por ela ou que a ajudaram na árdua tarefa da mediunidade de prova como sustentava Yvonne.

Aos quatro anos de idade Yvonne já se comunicava com espíritos desencarnados, através da visão e da audição. Dentre eles amava e reconhecia como pai o espírito Charles que realmente o fora em outra vida. Charles, seu guia e orientador, tinha como missão a de protegê-la de seu maior perigo, a volta ao suicídio a que tinha fraquejado em existências anteriores.

Um outro espírito com quem conviveu desde sua primeira infância era a figura triste de Roberto de Canalejas, companheiro de outras existências e que segundo ela muito tinha ferido em vidas sucessivas. Apresentava-se com a indumentária típica da metade do século XIX, o que possibilitou a Yvonne reconhecer a época de sua última existência: de 1830 a 1870, na França de Kardec, Vitor Hugo, de Chopin.

Yvonne amava aqueles espíritos, sentia grande saudade quando não os via e sabia do amor que nutriam por ela.

Na adolescência, devido aos transtornos psíquicos e desequilíbrios causados por estas vidências e lembranças constantes de fatos dolorosos do passado, Yvonne passou a frequentar a Assistência Espírita Bittencourt Sampaio em Barra Mansa. E foi Bittencourt que a advertiu das tarefas que a aguardavam na lide espírita.

Bittencourt Sampaio (1834-1895), quando em vida foi advogado, poeta, jornalista, político e espírita. Era médium receitista sob inspiração mediúnica. Espírito de grande envergadura espiritual, segundo Manoel Philomeno de Miranda é o Embaixador de Ismael, guia espiritual do Brasil. Assistida por ele Yvonne realizou muitas curas, com a homeopatia, preces e água fluidificada.

Dentre os amigos de Yvonne aquele que mais tempo permaneceu junto a ela foi Camilo Castelo Branco, o grande romancista e poeta português, visto por ela desde os 12 anos de idade. Suicida para “fugir” da cegueira certa, Camilo permaneceu ao lado de Yvonne até que seu desejo se concretizasse de narrar sua estada no plano dos desencarnados. Para Camilo a médium era uma escolha perfeita dada a relação fluídica que conseguira estabelecer com ela. E foi por ela, também uma ex suicida, que Camilo descreve a desdita do suicido no livro Memórias de um Suicida, uma das mais importantes obras da literatura espírita de todos os tempos.

Mas o grande músico Chopin também se apresentou a Yvonne. É ela que conta: ...”Esse encantador Espírito, não obstante nossa insignificância pessoal (...) tem sido um dos mais ternos amigos que adquirimos através da mediunidade... Frederico Chopin, que já variou a indumentária quatro vezes em suas aparições, deixando-se perceber, em duas delas, apuradamente trajado à moda de sua época (reinado de Luís Filipe, na França) mas todo envolto num como luar azul translúcido como neblina”.

Amigo de Charles e um dos mais importantes escritores de todos os tempos Lev Tolstoi foi um querido amigo de Yvonne. Tolstoi, mestre da literatura russa do século XIX escreveu Guerra e Paz e Anna Karenina. Já tendo vivido uma encarnação, quando se conheceram, Tolstoi se aproxima de Yvonne para ditar uma obra que alertasse sobre o suicídio que inadvertidamente estimulou em muitas leitoras ao levar sua heroína. Anna Karenina a este fim.

A obra Ressureição e Vida, de Tostoi e Yvonne emociona a todos, em especial no capítulo em que Tolstoi encontra Zaqueu na espiritualidade.

São muitos os amigos de Yvonne: Bezerra de Menezes, um de seus orientadores e que a guiou em momentos difíceis de sua vida, Eurípedes Barsanulfo, César Gonçalves, Inácio Bittencourt, e outros.

A leitura das obras de Yvonne, obrigatória a todo espírita, em especial aos médiuns, não deve prescindir de O Vôo de uma Alma, de Augusto Marques de Freitas, Recordações da mediunidade (de Yvonne e orientação de Bezerra de Menezes), Devassando o Invisível (Yvonne e guias espirituais), Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa (de Pedro Camilo), de onde tiramos as informações para este artigo.

Mas para aquilatarmos a abrangência de suas amizades espirituais registramos a aproximação de Yvonne com o Padre Sebastião Bernardes Carmelita, reencarnação do espírito Antonio Palau y Termens. Bispo de Barcelona, que em 09 de outubro de 1861 incinerou 300 obras espíritas na Praça do Quemadero em Barcelona, Espanha. O antigo bispo manifestou-se inesperadamente poucos dias depois de sua desencarnação em 1862, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas já revendo sua posição. Renascido em Uberaba em 1917, teve com Yvonne 25 anos de correspondência.

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