
Prezados Leitores,
Em forma de agradecimento, nesta edição e nas próximas, a coluna Correio Mulher publicará uma série de artigos elaborados, carinhosamente, pela querida amiga de infância, Jurema Seckler.
Estudiosa da vida e obra da Benfeitora Espiritual Yvonne Pereira, Jurema organizou esse presente especial a fim de homenagearmos essa alma nobre e linda que é muito querida aos nossos corações, a amada Yvonne do Amaral Pereira.
Portanto, aproveitem bastante. Desejamos a todos uma boa leitura!
Angela Delou
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Por Jurema Seckler
“As únicas horas de alegria e felicidade que desfrutei neste mundo, devo à prática da Doutrina dos Espíritos, exposta por Allan Kardec, e ao convívio espiritual com as entidades habitantes do Além. O mundo nada me concedeu a não ser o ensejo para resgatar antigas faltas. Por isso mesmo, amo essa Doutrina, sirvo-a com amor, consoante as minhas forças, e certa estou da Verdade que ela encerra, pois o Além tem me concedido tesouros morais e espirituais inavaliáveis”.
Ivonne Pereira (Rio 21-2-1975)
Em um país de médiuns gloriosos destaca-se a TUTI - apelido carinhoso de Ivonne de Amaral Pereira, “a assistida de Bezerra”.
Relembrar sua trajetória de espírita e médium fortalece nossa fé e amplia o conhecimento acerca das amplas possibilidades da mediunidade à qual Ivonne se dedicou com total afinco, dado que, nesta encarnação deveria, segundo suas próprias palavras “... morrer para si mesma, renunciando ao mundo a às suas atrações, para ressuscitar o espírito...”
Ivonne nasceu em 24 de dezembro de 1900 no Sítio do Raspa Queijo, na antiga Villa de Santa Thereza de Valença, hoje a pitoresca cidade de Rio das Flores no sul fluminense. A região nos meados do século XIX era rica produtora de café e hoje ainda podemos visitar algumas de suas históricas fazendas. Mas na época em Ivonne lá nasceu, a decadência cafeeira já se fazia sentir na cidade.
Devido a “complexos traumáticos” adquiridos pelo suicídio em outras vidas Ivonne vivenciou ainda em tenra idade fenômenos psíquicos que a faziam relembrar sua vida anterior e muitas vezes procurar detalhes de sua antiga casa, não reconhecer o próprio pai, desejar seus ricos vestidos, a carruagem, sua bela casa. E só muitos anos depois identificar tal lugar como a Barcelona do século XIX.
Um de seus casos mais impressionantes, contado no livro Recordações da Mediunidade, fala de uma experiência que viveu aos 29 dias de nascida quando “morre por sufocamento” devido a um acesso de tosse, um dos complexos que nutria pelo afogamento em outra existência pelo suicídio. Dada como morta pelo médico da cidade sua família organizou o enterro. Seis horas depois da “morte” sua mãe, inconformada, faz uma prece a Maria, entrega sua filha aos cuidados da mãe de Jesus, e vê sua filha prorromper em pranto, verificando que a grinalda de rosinhas lhe ferira a cabeça.
Este relato dá ensejo a que um dos grandes amigos de Ivonne, Bezerra de Menezes, ainda em Recordações da Mediunidade, trate dos casos de catalepsia e letargia e nos deixe uma lição preciosa sobre o assunto.
Mas, a mediunidade de Ivonne era tal que aos quatro anos já se comunicava com os desencarnados: via-os e falava com eles. Dizia ela que já nascera médium. E aquele pai de quem tanto lembrava, ela o via frequentemente e o descrevia em minúcias. Era Charles, espírito muito ligado a Ivonne, que a amava profundamente de vidas passadas em que foi amante, pai, irmão e que nesta encarnação a protegia com sua presença amorosa a fim de ajudá-la a não falir novamente.
Ivonne exerceu, ao longo de sua vida, o labor mediúnico com afinco. Suas possibilidades mediúnicas eram realmente muito vastas: psicografia, psicofonia, conselheira, receitista, passista, premonitória, de desdobramento, intuitiva, de efeitos físicos, de cura, vidência e oratória.
Com a ajuda dos amigos e guias Charles e Bezerra de Menezes trabalhou muito na desobsessão. E foram eles que a incentivaram e orientaram na produção de uma rica literatura mediúnica, destacando-se a trilogia Nas Voragens do Pecado, o Cavaleiro de Numiers e o Drama da Bretanha onde Ivonne, não só assiste como vivencia passagens de suas vidas passadas.
Mas o seu trabalho mais famoso é Memórias de um Suicida que descreve a trajetória do espírito Camilo Castelo Branco após sua desencarnação pelo suicídio e que recebeu de Chico Xavier o comentário de que este seria um dos livros mais importantes da literatura espírita.
Ivonne Pereira desencarna em 9 de março de 1984 e segundo Dora Incontri nossa heroína “... deixou para o mundo um exemplo inesquecível de equilíbrio e fidelidade.”
Foram muitos os seus biógrafos, entre eles Augusto Marques Freitas que escreveu O Vôo de uma Alma, título muito feliz, pois Ivonne é uma dessas almas que superou dificuldades íntimas imensas com o exercício da mediunidade com Jesus. E sempre afirmou que sua mediunidade não era uma missão, mas resgate e prova dolorosa.
Em Rio das Flores, Augusto Marques fundou o Centro Espírita Ivonne Pereira, por coincidência próximo ao local onde Ivone nasceu. Lá sentimos a presença da querida amiga espiritual que se dedica a prevenção e amparo dos suicidas.
Neste mês em que comemoramos 158 anos do Livro Espírita fica uma dica: a leitura da rica bibliografia de Ivonne Pereira que nos encanta e esclarece.