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Artigo do Jornal: Jornal Março 2014

Sobre o autor

Ângela Delou

Ângela Delou

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Uma mulher à frente de seu tempo

Nise da Silveira, um nome que não pode ser esquecido. Médica psiquiatra que revolucionou os métodos de atendimento ao portador de transtornos mentais no Brasil, principalmente com os esquizofrênicos que até então eram isolados e considerados incompreensíveis. Nise dedicou sua vida à psiquiatria, contra todas as formas agressivas de tratamento da sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, o eletrochoque, a insulinoterapia e a lobotomia que deixava os pacientes em estado de torpor. 

Nasceu em Maceió, no dia 15 de fevereiro de 1905 e desencarnou aos 94 anos, após uma vida inteira dedicada à Medicina, empreendendo ações pioneiras e corajosas no tratamento de pacientes considerados incuráveis.

Cursou a Faculdade de Medicina da Bahia, no período de 1921 a 1926. Formou-se como a única mulher entre os 156 homens dessa turma. Figura entre as primeiras mulheres no Brasil a se formar em Medicina.

Seu marido foi o médico sanitarista Mario Magalhães da Silveira, colega de turma na faculdade. Em 1927, após o falecimento de seu pai, o casal veio morar no Rio de Janeiro.

Em 1933 Nise começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha. Por razões políticas ficou presa por 18 meses. Em 1944 foi reintegrada ao serviço público e iniciou seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no bairro do Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro.

Por recusar a aplicar eletrochoques nos pacientes foi transferida para a chamada “terapia ocupacional”, na verdade, eram as atividades de limpeza e manutenção exercidas pelos pacientes no hospital. Cria então os ateliês de pintura e modelagem dando início a uma radical mudança no tratamento psiquiátrico. Criou também oficinas de jardinagem, bordado, dança, teatro e desenho. Trata os pacientes como clientes e dá a eles a oportunidade de se expressarem através da arte. São revelados grandes artistas e começa a viagem pelo inconsciente.

Ridicularizada pelos colegas, ganha a confiança dos internos do Hospital Pedro II e passa a levá-los a passeios na praia e na Floresta da Tijuca.

O Museu do Inconsciente

Em 1952 funda o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, destinado à preservar os trabalhos produzidos pelos pacientes nas oficinas, abrindo também novas possibilidades para o entendimento do mundo interior do esquizofrênico. Participou de filmes e exposições importantes, como a “Mostra Brasil 500 Anos”.

Casa das Palmeiras

Clínica fundada em 1956 voltada à reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas. Outra ideia pioneira para os pacientes que viviam a fase intermediária entre o hospital e a sua volta à sociedade.

O afeto catalizador

Outra iniciativa inovadora apresentada pela Dra. Nise demonstra o valor do afeto; a cura pelo afeto que diminui as distâncias entre o paciente e o médico. Até então a regra era não se envolver o terapeuta com o paciente, ser neutro. Nise dizia que “se você estabelece uma boa relação com as pessoas você catalisa boas coisas.”  Os laços afetivos entre pacientes e animal demonstram isto. A responsabilidade de cuidar de um animal, como um gato ou um cão e o desenvolvimento de laços afetivos pode contribuir para a reabilitação de doentes mentais. Passa a entregar um animal para o paciente cuidar dele. O tratamento dá grandes resultados e os transforma em pessoas mais calmas, afetuosas e comunicativas.

Nise e Jung

Nise da Silveira estudou no “Instituto Carl Gustav Jung”. Ao retornar ao Brasil organizou em sua casa o “Grupo de Estudos Carl Jung”. Escreveu o livro “Jung, vida e obra”.

Foi membro fundador da “Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica”, com sede em Paris. Sua terapia ocupacional e todas as decorrências a partir de seus métodos revolucionários mereceram muitos registros através de filmes, documentários, cursos, conferências, simpósios, seminários e publicações.

Prêmios, condecorações e instituições

Recebeu diversos prêmios como a Ordem do Rio Branco, em 1987; o Prêmio Personalidade do Ano de 1992; a Medalha Chico Mendes e a Ordem Nacional do Mérito Educativo.

Museus, centros culturais e diversas instituições terapêuticas foram criadas no Brasil e no exterior inspiradas em seu trabalho.

O amor como solução

A benfeitora Joanna de Angelis apresenta em suas obras da chamada série psicológica o “amor como solução”, demonstrando o ensinamento de Jesus: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” como a regra áurea para a felicidade do espírito imortal.

Nise assim viveu e, certamente, na espiritualidade continua a vivenciar os postulados cristãos. Neste mês de comemoração ao Dia Internacional da Mulher homenageamos uma mulher à frente de seu tempo – NISE DA SILVEIRA.

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