O conhecimento humano evolui, basicamente, por meio da pluralidade de opiniões. Entre os círculos de pesquisadores, é comum haver discordância e críticas nas diversas teses e opiniões entre seus pares. Observe-se que discordar é a ação de apresentar, apenas, um contraponto.
Por sua vez, criticar se trata, tão-somente, do ato de se expor um juízo de opinião. Importante destacar que a retórica é o campo da filosofia que se dedica ao estudo da argumentação, ao passo que a dialética é o ramo filosófico que estuda o debate. Por fim, há que se ter em mente que a axiologia é o campo filosófico onde se analisam os valores. O exercício tanto da argumentação, quanto do debate pressupõem que sejam feitos em um ambiente axiológico, em que prevaleçam valores de respeito, tolerância e prudência.
Todavia, é muito comum, dada a nossa inferioridade moral, que desnaturemos os conceitos acima, tratando a discordância e a crítica como ataques pessoais às nossas ideias. Desta forma, o ambiente axiológico para exercício da retórica e da dialética, isto é, da argumentação e do debate, se corrompe em uma arena de disputa moral, onde não prevalece o senso comum pela soma de ideias, mas a disputa em torno da imposição de um pensamento sobre o outro. As virtudes morais de respeito, tolerância e amor, se pervertem em vícios morais de raiva, intolerância, escárnio e desrespeito.
Nas contendas jurídicas, aprendemos que temos adversários, nunca inimigos. Tal ambiente tóxico se faz presente em todas as aglomerações humanas e em todos os segmentos sociais, inclusive nos espaços dedicados ao culto do sagrado. Todavia, como alerta Paulo de Tarso, o apóstolo de todas as gentes, “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos” (Hebreus 6:9). Isso porque o Cristo ensina que seus discípulos serão conhecidos por muito se amarem (João 13:35). Logo, no ambiente axiológico de culto ao sagrado, a retórica e a dialética devem primar para que prevaleça, antes de tudo, o amor.
Assim, o cristão não deve entrar em contendas para impor seus pontos de vista aos demais fiéis, mas auxiliá-los expondo pontos e contrapontos, teses e antíteses, e, desta feita, somar ideias para que o amor prevaleça, acima de tudo.
A filosofia grega concebia o amor por meio de suas mais variadas expressões. Para tanto, os helenos entendiam que a primeira forma de amor era o Eros, que representa o amor carnal. Tinha como pressuposto a atração física que um ser exercia sobre o outro. Era muito próximo ao Patos, que representava a paixão doentia, na qual se procurava possuir e não compartilhar o objeto de desejo de forma egoística e insana. Daí a paixão na cultura helênica derivar do radical Patos, que significa doença. Insta salientar que, Platão apresenta uma visão muito peculiar sobre o Eros.
Embora o filósofo entenda que esta expressão de amor seja inicialmente operacionalizada por meio da contemplação da beleza física de outrem, o mesmo afirma que o Eros pode se depurar sendo expressão de admiração da alma e dos valores internos e imanentes do objeto de desejo. Assim, Platão entende que o amor não é apenas o desejo carnal, mas um sentimento (amor platônico) que se opera no plano metafísico das ideias, podendo, inclusive, estar despido de atração física.
Para Platão, o Eros propicia o conhecimento da recordação da beleza da alma e contribui para a compreensão da verdade espiritual. Sublimando o amor carnal, evoluía-se para o Philia, que traduz o amor fraternal, que se sente por amigos e pela família. Trata-se de um conceito elaborado por Aristóteles, que se baseia em identificação, igualdade e semelhança. É uma forma de amor que traduz as características gregárias do ser humano, permitindo que ele se associe e forme suas comunidades.
Para Epícuro, o Philia seria a expressão máxima da paz no meio que se vive, que conduz os seres à felicidade. Evoluindo do amor fraternal, chega-se à Ágape, que é uma expressão de amor universal, que se sente pelo próximo, operacionalizando-se por meio da caridade que se faz de forma solidária e altruísta. É o sentimento que se percebe de forma indistinta, seja por amigos ou, até mesmo, por inimigos. É a forma mais sublime de se proceder e se conduzir no meio em que vivemos. É a forma de amor que Jesus nos ensina, uma vez que não pede nenhum sacrifício a seus seguidores, apenas pede que se tratem como gostariam de ser tratados.
Assim, o limite do amor ao próximo (Ágape) e o amor próprio (autoestima), nada além disso. Como nos ensina a doutrina espírita, no Evangelho segundo o Espiritismo: “Amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queira que estes lhe façam” (Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo IX, item 10).
Guardemos a máxima do Cristo.
Bíblia on line; Evangelho segundo o Espiritismo, FEB.