Recentemente, o ato mediúnico de cura passou a frequentar os noticiários da imprensa, de forma não tão amistosa, o que nos impele a concatenar alguns argumentos sobre o tema. Inicialmente, há que se ter em mente que o processo de cura de enfermidades sempre foi uma constante nas religiões, como ato de benção da divindade cultuada.
O Evangelho é rico em diversas passagens de curas promovidas tanto pelo Cristo, quanto por seus apóstolos e seguidores. Vale destacar que, dos 35 milagres registrados na Boa Nova e atribuídos a Jesus, 23 passagens são de cura, a saber: 1. Transformou água em vinho (João 2.1-11); 2. Curou uma criança (João 4.46-54); 3. Curou um paralítico no poço (João 5.1-9); 4. Curou um cego de nascimento (João 9.1-41); 5. Alimentou 5.000 pessoas com 5 pães e 2 peixes (João 6.5-13); 6. Pegou altas ondas sem prancha e sem se molhar! (João 6.19-21); 7. Ressuscitou Lázaro da morte (João 11.1-44); 8. Pescou 153 grandes peixes sem se molhar! (João 21.1-11); 9. Expulsou um homem dominado por demônio (Lucas 4.33-35); 10. Curou a sogra de Pedro (Lucas 4.38-39); 11. Pescou peixes que enchiam dois barcos (Lucas 5.1-11); 12. Curou um leproso (Lucas 5.12-13); 13. Curou um paralítico descido pelo telhado (Lucas 5.17-25); 14. Curou o homem de mão aleijada (Lucas 6.6-10); 15. Curou o empregado de um oficial romano (Lucas 7.1-10); 16. Ressuscitou o filho da viúva (Lucas 7.11-15); 17. Acalmou uma tempestade (Lucas 8.22-25); 18. Curou o homem dominado por legião de demônios (Lucas 8.27-35); 19. Curou a filha de Jairo (Lucas 8.41-56); 20. Curou a mulher com hemorragia (Mateus 9.18-26); 21. Curou um menino endemoninhado (Lucas 9.38-43); 22. Expulso um demônio de mudez (Lucas 11.14); 23. Curou a moça torta de 18 anos (Lucas 13.11-13); 24. Curou o homem com as pernas e braços inchados (Lucas 14.1-6); 25. Curou 10 leprosos (Lucas 17.11-19); 26. Curou um mendigo cego (Lucas 18.35-43); 27. Previu a negação de Pedro (Lucas 22.31-34); 28. Sarou a orelha cortada do empregado do Sumo Sacerdote (Lucas 22.50-51); 29. Curou dois cegos (Mateus 9.27-31); 30. Tirou uma moeda da boca dum peixe (Mateus 17.24-27); 31. Curou a filha endemoninhada da mulher Cananéia (Mateus 15.21-28); 32. Alimentou 4.000 pessoas com 7 pães e alguns peixes (Mateus 15.32-38); 33. Secou uma figueira infrutífera (Mateus 21.18-22); 34. Curou um surdo-mudo (Marcos 7.31-37); 35. Curou outro cego (Marcos 8.22-26).
No Brasil, praticamente todos os segmentos religiosos tem no centro de suas atividades o processo de cura pela fé. Do candomblé a umbanda, do espiritismo a renovação carismática e ao neopentecostalismo, há a presença de líderes messiânicos com dons de cura.
Nossa Constituição assegura como direito fundamental a liberdade religiosa de credo, culto e liturgias, conforme previsto no art. 5º, VI. Todavia, nosso Código Penal, no art. 284, criminaliza a conduta de curandeirismo. A separação entre a prática religiosa válida e o crime de curandeirismo, situa-se no campo da boa-fé objetiva dentro da fé do agente e dos demais envolvidos. Jesus Cristo tinha como máxima, após conceder uma cura, lembrar ao agraciado que “tua fé te curou” (Lucas.18.42-43). Por fim, nos ensina o Espírito de Verdade que: “O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam. Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam”1.
1 Notas: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 112ª Ed. FEB. 1995; Biblia on line. https://www.bibliaonline.com.br/ consulta realizada em 02.11.2016, às 14:00 horas. Constituição Federal do Brasil; Código Penal.