Um dos pontos de maior destaque da Doutrina Espírita, quanto religião de matriz cristã do mundo ocidental, reside na aceitação da reencarnação. Assim, dentro da Lei de Justiça, Amor e Caridade, a reencarnação é uma verdade inafastável, na qual Deus, em sua infinita sabedoria, opera a Lei de Justiça.
Vale ressaltar que a reencarnação é tratada em praticamente todas as religiões do mundo, seja para aceitá-la, seja para negá-la. Para o Hinduísmo, que é a religião mais antiga do mundo, é consenso a aceitação do samsara, que se trata de uma cadeia de nascimentos e mortes ligadas pela reencarnação, cujo objetivo é burilar o ser (moksha). Controlar o samsara é a lei do carma.
Os Hindus acreditam que todos os indivíduos acumulam carma durante uma vida. Boas ações geram bom carma e más ações criam carma negativo. Para o budismo, religião fundada há 2.500 anos, a crença hindu da reencarnação foi devidamente incorporada. Assim como os hindus, os budistas interpretam o samsara não esclarecido como um estado de sofrimento. Nós sofremos porque desejamos coisas passageiras. Apenas quando atingimos um estado de total aceitação e nos libertamos de todo desejo podemos nos livrar do samsara e alcançar o nirvana, ou a salvação.
Por sua vez, somente os seguidores da Cabala (revelação) acreditam na crença da reencarnação dentro do Judaísmo. Todas as outras correntes creem que, após a morte, o espírito fica em letargia, aguardando a ressurreição no dia do Juízo. O Islamismo, religião que foi fundada pelo profeta Maomé, com a revelação do Alcorão, baseada ainda no Torá (revelado à Moisés), nos Salmos (revelados a Davi) e na Boa Nova (revelada a Jesus), é contrário à reencarnação por entendê-la como violadora das Leis de Allah, que não pode permitir que alguém sofra sem ter consciência de seus erros. No Cristianismo católico, a doutrina da reencarnação foi considerada herética pela Igreja Católica a partir de 553 d.C., no Concílio de Constantinopla.
Diversos teólogos católicos, até então, a defendiam: a) Tertuliano (155-220, d.C.); b) Orígenes (185-254, d.C.); c) Gregório de Nyssa (354-430, d.C.); d) Agostinho (354-430, d.C.). Todavia, em aproximadamente 480 casos de exorcismo realizados pela Igreja Católica, entre 1970 e 2000, foram registrados depoimentos em que as entidades sobrenaturais envolvidas nas fases de infestação, opressão e possessão revelaram que se tratava de pactos (compromissos) assumidos em vidas passadas com consequências em vidas presentes e futuras. Conforme depoimento colhido do demonologista Edward Warren, no caso de Denise Goldstron: “Durante o intervalo, ela revelou um longo e complexo envolvimento com feitiçaria e práticas negativas, o qual se estendia para além dos limites de sua vida atual. (...) Seu conhecimento vinha de experiências adquiridas em vidas passadas – e conhecimento é algo que nunca se esquece, em especial o conhecimento negativo que é adquirido em outras encarnações. (...) Eu sinceramente não sei dizer se a reencarnação é um princípio ou processo pelo qual todas as pessoas passam naturalmente. O que posso afirmar é que tenho registros de casos que provam que certos indivíduos tiveram mais de uma vida”1. As diversas ramificações do protestantismo seguem o modelo católico adotado a partir do Concílio de Constantinopla.
O Espiritismo adota a reencarnação como um dos pilares inafastáveis de sua doutrina, considerando-a uma questão de justiça divina. Conforme o Espírito da Verdade nos esclarece: “166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se? Sofrendo a prova de uma nova existência. (...) 171. Em que se funda o dogma da reencarnação? “Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão. (...) A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam” 2.
1 BRITTLE, Gerald. Demologistas. Editora Darkside. Rio de Janeiro. 2017.
2 O Livro do Espíritos, Allan Kardec. Federação Espírita Brasileira.