
Bertrand Arthur William Russell, o 3º conde Russell, foi um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX. Em que pese ter tido diversos posicionamentos políticos ao longo de sua vida, muitos deles contraditórios, Russel foi, antes de tudo, um entusiasta da paz.
Em 1955, com o apoio de outro gênio do Século XX, Albert Einstein, redigiu um manifesto no qual alertava à raça humana: “Esta sombria perspectiva da raça humana está além de qualquer precedente. A humanidade encontra-se perante uma clara escolha: ou adquirimos um pouco de sensatez, ou iremos todos perecer. Uma reviravolta do pensamento político terá que acontecer para que seja evitado o desastre final” 1 .
Vivenciamos nos dias atuais um processo de loucura coletiva sem precedentes na história da humanidade. Cada vez mais estamos nos distanciando da verdade, cobrindo-a com mentiras para justificar atrocidades cometidas em nome de pensamentos dos mais diversos matizes. Sob a justificativa de fazermos o bem e com a certeza de que monopolizamos a virtude em torno de nossas convicções pessoais, espalhamos atos de violência e ódio em nome de ideologias que sequer conhecemos a fundo para defendê-las com tanta veemência. Assim, distanciados da verdade, apegados a versões falaciosas, somos abraçados pela ignorância e, por sua irmã siamesa, a violência.
Em seus últimos anos de vida, Bertrand Russell, em sua autobiografia, legou às gerações futuras um decálogo moral, inspirado no decálogo de Moisés, como forma de complementá-lo e contextualizá-lo à era contemporânea: “1. Não tenhas certeza absoluta de nada; 2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz; 3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso; 4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória que depende da autoridade é irreal e ilusória; 5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas; 6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te; 7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas; 8. Encontra mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda; 9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la; 10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso” 2 .
Da leitura de seus dez conselhos, resta claro que Bertrand Russell defende a busca pela verdade como forma de tornar o ser humano liberto e feliz. Nessa linha, guarda estreita relação de pertinência temática com o Evangelho do Cristo, em João VII: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” 3 .
Agraciado com o prêmio Nobel de literatura em 1950, Russell se notabilizou por seu discurso sempre caracterizado por forte bom senso e equilíbrio. Em 1959, durante uma entrevista concedida no programa Face to Face , apresentado por John Freeman na rede BBC de televisão, Russel foi arguido sobre qual conselho deixaria às futuras gerações. Com a simplicidade que caracterizam os sábios, ele respondeu que seriam dois: um intelectual e outro moral. O intelectual seria que os jovens sempre buscassem a verdade por de trás dos fatos e a atestassem, mesmo que não corroborassem suas opiniões e convicções pessoais. A verdade não deve ser abandonada por nada. Quanto ao conselho moral, vamos reproduzi-lo na íntegra por ser muito atual e por sua estreita ligação com a doutrina espírita: “O amor é sábio, o ódio é tolo. Nesse mundo que está ficando mais interconectado, temos que aprender a tolerar uns aos outros, temos que aprender a aceitar o fato de que algumas pessoas dizem coisas que não gostamos. Nós só podemos viver juntos dessa forma. E nós vivermos juntos e não morrermos juntos. Precisamos aprender a bondade da caridade e da tolerância. O que é absolutamente vital para a continuação da vida humana nesse planeta” .
1 Bertrand Russell, The Bomb and Civilization, The Glasgow Forward , vol. 39, No. 33, 15 de agosto de 1945, in Bertrand Russell: His Works. Volume 22: Civilization and the Bomb, 1944-47, Kenneth Blackwell, In progress
2 1967 – 1969, The Autobiography of Bertrand Russell , 3 vols., London: George Allen & Unwin.