O inverno apresentava-se mais forte do que o normal. Não causou espanto ver, naquela manhã, tanta gente no Campo de São Bento, uma grande área verde da minha cidade. Por suas alamedas sinuosas desfilavam famílias inteiras com suas crianças, idosos com seus passos lentos, pessoas com seus pets de estimação. Entre as barraquinhas de artesanato, os quiosques de venda de petiscos e de plantas há um rinque de patinação, não muito longe do lago com o seu belo chafariz. O que mais atrai a garotada, porém, é o parque de diversão. A música do carrossel misturada ao alarido das crianças; as risadas que se seguem às batidas inofensivas dos carrinhos do bate-bate; o vaivém das gangorras; os pais jogando bola com seus meninos desfilam ante os meus olhos, aquecendo o meu coração naquele domingo.
Sentada, sozinha, em um banco, despertou-me a atenção a presença de uma garotinha miúda, aparentando ter oito ou nove anos, que parou bem à minha frente. A blusa de moletom que vestia talvez a aquecesse um pouco mais do que a calça de malha fina, muito curta, a revelar toda a sua magreza. E a desgastada sandália de borracha, deixando ver os pés empoeirados, completava o conjunto, tão destoante das demais crianças que por ali passavam. A caixinha repleta de paçocas atestava que estava trabalhando a mando de algum adulto.