Era para ser uma comemoração de aniversário de uma criança, em um salão de festas. Iniciadas em um final de tarde, as brincadeiras corriam por conta de uma animadora profissional, que atuou por quase três horas. Cantado o “Parabéns”, ela se retirou, assim como grande parte das famílias. A festa, porém, não havia acabado.
Em um salão à meia luz, a brincadeira continuou. Agora, ao som de música eletrônica, algumas crianças ainda se mantinham animadas. Correndo de um canto para outro, elas tentavam pisar nos reflexos luminosos que um globo de espelhos refletia no chão enquanto rodava. Coisa de criança.
No entanto, em um dos cantos, duas meninas, aparentando seis anos, dançavam repetindo coreografias eróticas. A sensualidade revelava-se em cada gesto, em cada expressão facial. De olhos semicerrados, simulavam atitudes de mulheres que usam a dança com fins de sedução.
Foi com o olhar de educadora e espírita que passei a analisar o fato. Sei que nascemos com uma carga erótica que pode ser intensa ou suave, dependendo da forma como a conduzimos em reencarnações passadas. Neste mundo, renascemos frutos de uma relação sexual. Trazemos a erotização como parte das nossas características mais primitivas. “Instintos e paixões – diz Emmanuel, no capítulo 24 do livro Vida e Sexo – são energias e estados inerentes à alma de cada um, que as leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a transformar e elevar, no rumo da perfeição.”
Se é verdade que a maioria de nós ainda não se libertou dessa energia erotizada, também é fato que cada novo mergulho na carne é uma oportunidade para irmos transformando-a em energia criadora capaz de alavancar o nosso progresso espiritual.
Sabemos que Espíritos Protetores nos ajudam a escolher as circunstâncias e provas da nossa próxima experiência na carne. Nesse trabalho, conscientizamo-nos dos pontos fracos que precisam ser burilados e, normalmente, concordamos em não mais falir. E a sexualidade é um deles.
Por isso, ver as menininhas reproduzindo atitudes eróticas e provocantes chamou a minha atenção. Percebi que aquele cenário poderia estar se constituindo um gatilho capaz de acionar recordações pretéritas daqueles espíritos, ora vivendo a quadra infantil. Despertar, assim, a sensualidade em uma idade tão precoce, poderia trazer muitas consequências indesejáveis, sob inúmeros pontos de vista, um pouco mais adiante, como problemas psicológicos, gravidez precoce, DST, entre outras.
Considerando tais consequências, deveríamos ter um olhar mais cuidadoso sobre certos comportamentos infantis que concorrem para o despontar antecipado da sexualidade. Há atitudes que, de tão simples e comuns, que podem se constituir em plugs para a sua eclosão, imperceptíveis a muitas mães. O uso de maquiagem fora das situações de brincadeiras; roupas muito curtas, justas e adereços semelhantes aos que as moças usam para ir às baladas; provocações do tipo: “quem é o seu namorado?”; exibições para os adultos de danças eróticas com a intenção de fazer gracinha e tantas outras são comportamentos vistos como naturais... Mas não são.
Energias sexuais são extremamente positivas, mas precisam encontrar sua expressão na hora certa, pois deveríamos vê-las como “a usina dos estímulos espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos, em regime de colaboração mútua, visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento entre os homens”, como nos diz, ainda, Emmanuel.
Na certeza de que os pais desejam, de fato, o melhor para os seus filhos, seria importante que eles entendessem que criança é criança e como tal precisa ser vista. Ante situações como as relatadas, caberia aos pais ser mais vigilantes quanto ao conteúdo a que ela tem acesso. Procurar saber, por exemplo, onde ou com quem teriam aprendido aquele comportamento tão fora dos padrões infantis. De igual modo, exercer certo controle sobre os eventos que frequenta, optando por aqueles que privilegiam brincadeiras compatíveis com a sua idade e seu amadurecimento., a bem do seu equilíbrio emocional e espiritual.