Manhã de verão na praia rasa e calma. Diversão para todo lado. A família amiga chega com a filha de sete anos. Nas mãos, traz uma versão infantil de snorkel (aquele aparelho que permite observar debaixo d’água) e corre para o mar. Quer ver os peixinhos a nadar. Daí a pouco, duas crianças se aproximam curiosas e, em pouco tempo, já estão interagindo. As horas seguintes serão passadas entre brincadeiras na areia e no mar, inventadas ali mesmo, sob o olhar atento dos pais.
Quando pergunto pelo filho de quinze anos, fico sabendo que preferiu ficar no apartamento com seu smartphone, navegando na internet, jogando videogame, conferindo o que se passa nas redes sociais, acompanhando os youtubers da moda, postando, checando...
Esse comportamento tem sido alvo de análise por parte de estudiosos da chamada geração Y ou millennial, a que já nasceu em uma era marcada pelos avanços tecnológicos.
Coerente com a Lei do Progresso, esse mundo tecnológico trouxe benefícios e recursos que vieram facilitar nossa vida, oferecendo-nos conforto, comodidades, entretenimento, informação, e muito mais. Foram mudanças tão rápidas e intensas que ainda não conseguimos encontrar o ponto de equilíbrio no seu uso, sobretudo em se tratando da internet. Sabemos que os adolescentes são seus principais usuários. Conectados por longas horas dão preferência às redes sociais, verdadeiras vitrines onde são vistos e veem o que se passa na vida das pessoas.
As opções tão diferenciadas daqueles dois irmãos constituem uma oportunidade para reflexão, ainda que breve, do impacto do uso das mídias digitais sobre as aprendizagens socioemocionais de crianças e adolescentes.
Ela sai de casa, usufrui da companhia dos pais e de momentos ao ar livre, explora um novo ambiente, experimenta soluções, interage com outras crianças, mostra-se educada. Com a mente aberta, cria, inventa e se diverte. Observando-a, diria que traz internalizadas as regras aprendidas no lar. Ele, ao contrário, prefere ficar só, no ambiente fechado. Seu modo de agir, típico da maioria dos adolescentes na atualidade, tem inúmeros componentes que têm merecido a atenção dos estudiosos sobre os efeitos negativos do uso exagerado do smartphone.
Diferente do que acontece no espaço virtual, o mundo real nos leva a estabelecer novos contatos e a conviver com uma ampla gama de pessoas. Umas próximas e amadas, outras que apenas compartilham conosco certos ambientes; algumas que nos agradam, outras que nos aborrecem ou nos provocam desentendimentos. No caso da criança e do jovem, vivenciar tais experiências concorre para o desenvolvimento de competências sociais e emocionais necessárias para se tornarem adultos capazes de enfrentar, com sucesso, os desafios do dia a dia.
Estudos recentes, ao analisar o perfil de adolescentes que vivem presos aos seus celulares, vêm constatando uma significativa incidência de problemas no desenvolvimento social, que se traduzem em dificuldades de fazer amizades, lidar com frustrações, arriscar-se diante do desconhecido, tomar decisões e resolver problemas. Como grande parte das relações que mantêm com outras pessoas é mediada por recursos digitais, verifica-se, com frequência, a opção de deletar aquelas das quais diverge, fugindo do debate ou da crítica. Assim agindo, deixa escapar excelentes oportunidades de aprender a resolver conflitos.
Outra característica desses adolescentes que vem sendo observada por familiares e pesquisadores é não admitir sentir tédio. Se ele surge, as mãos logo se voltam para seus aparelhos em busca de novidades e entretenimento. Também não veem necessidade de estudar, de aprender coisas novas e de saber esperar – a internet informa o que se quer saber, em segundos. Sem paciência, acabam por ter uma visão muito superficial de tudo, o que poderá gerar forte insegurança ante a necessidade de solucionar problemas impostos pela vida. Não tendo saído da concha, falta-lhes autonomia, criatividade, pensamento crítico e, até mesmo, capacidade de conviver com o diferente.
Como a vida nos reserva momentos de sofrimento, reveses e angústias, é preciso estar preparado. Coragem e resiliência são os ingredientes necessários para enfrentá-los, e ambos são construídos a partir da infância.
Assim sendo, e tendo em vista a imperiosa necessidade que cada um de nós tem de evoluir como seres espirituais que somos, é tarefa dos pais ajudar os filhos no uso equilibrado de tudo aquilo que mundo virtual oferece.
Comparando as condutas dos dois irmãos, fácil é concluir que, em termos de aprendizagens socioemocionais, a menina superou, e muito, o rapaz. Por mais atrativas que sejam as informações proporcionadas pelas máquinas, nada substitui a presença física do outro nas nossas relações. Ainda temos um longo caminho a percorrer e é na convivência diária, errando e acertando, que vamos burilando as imperfeições que trazemos no coração. Na escola da vida, seguir em paz ao lado do outro ainda é a nossa melhor lição.