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Artigo do Jornal: Jornal Novembro 2018

Sobre o autor

Lúcia Moysés

Lúcia Moysés

"O bem que praticas em qualquer lugar será teu advogado em toda parte." Emmanuel
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Bons exemplos precisam ser reconhecidos e aplaudidos; os que vêm de servidores públicos mais ainda. Por isso, é importante dar destaque àqueles que fogem à regra. Walda Carvalho é um deles. Gerente de um posto de atendimento do INSS em uma pequena cidade do interior fluminense, ali trabalha há 35 anos.

Necessitando resolver uma pendência com esse órgão e sendo aquele local o único que oferecia agendamento em data próxima, optei por ir até lá, apesar da grande distância.  No caminho, conjecturava sobre o que iria encontrar. Só não imaginava que teria a oportunidade de conhecer uma pessoa extraordinária, daquelas que fazem a diferença na vida de qualquer um. Cheguei pouco depois das três da tarde. O setor a que me dirigi estava praticamente vazio. Recebida por um estagiário, ao ouvir, à distância, o meu questionamento, ela me atendeu de pronto, com boa vontade e competência.

A minha situação, que requeria certa pesquisa, ficou a cargo do rapaz. Teria de esperar. Enquanto aguardava, aproximou-se do balcão uma jovem com um profundo ar de desalento. Walda, ao vê-la, iniciou uma conversa. Pela intimidade demonstrada, percebi que se tratava de alguém muito conhecido e, de fato, era. A mocinha, de apenas vinte anos, já era mãe de quatro filhos. O marido fora ao posto para tratar de um benefício a que tinha direito. Igualmente jovem, tornara-se paraplégico aos 18 anos e agora, graças às providências tomadas por aquela servidora, conseguira se aposentar por invalidez, fazia fisioterapia e obtivera uma cadeira de rodas. Vida de extrema miséria, aquela família encontrara na gerente um porto seguro.

Interessei-me por conhecer a história do casal. Soube, então, que ela havia tomado para si a responsabilidade de cuidar daqueles seres tão desamparados. Providenciou creches e escolas para as crianças; deu-lhes roupas, cobertas e móveis; apoiou-lhes física e moralmente.

       Como se não bastasse, tem um profundo olhar de compreensão para com a jovem. Entende suas carências, seu comportamento por vezes relaxado, outras vezes inconsequente.  Com extrema candura, eu a vi dar conselhos e recepcionar o marido, interessando-se pelo resultado da sua perícia médica.

Quando os dois foram embota – a garota a empurrar a cadeira de rodas –, ela me confidenciou, com a maior naturalidade, que está decidida a ir, em um sábado, ao casebre onde moram para fazer uma faxina e orientá-la quanto à higiene da família e à organização do ambiente. Diante de tanta grandeza de alma, não resisti à pergunta: o que a levava a agir assim? E a resposta foi simples: trabalhava para Jesus. Era presbiteriana.

Descobrimos afinidades espirituais. E foi ali, naquela pequenina repartição, que conheci o Projeto “A responsabilidade é minha”, que ela desenvolve na Secretaria de Ação Social da Igreja Presbiteriana do Brasil, órgão de âmbito nacional, do qual ela é a titular.

Amar e servir a Jesus cuidando dos carentes e necessitados – o principal objetivo do projeto – passou a ser o norte da sua vida. Na bela revista que me oferece (SAF em Revista, uma publicação da sua Igreja), passo a conhecer esse projeto que, na verdade, se aplica a todos os cristãos de boa vontade. Por exemplo: desenvolver o espírito de serviço com a prática concreta do amor cristão; incentivar o trabalho de assistência social em presídios, lar de idosos, orfanatos hospitais, creches etc.; realizar projetos sociais entre a população de baixa renda; promover palestras, cursos e oficinas de apoio à comunidade. Entendo, então, o seu proceder no ambiente de trabalho: o coração pronto a auxiliar a quem precisa, sem esperar nada em troca.

Já em casa, lendo seu projeto, encontro passagens que me incitam a refletir. “É nossa responsabilidade contribuir, despertando o amor cristão entre nossos irmãos. Por isso precisamos fazer a diferença. Podemos fazer mais, nos envolver mais, cuidar mais, por Jesus”. E termina com um apelo ao qual faço coro: “Vamos estender as mãos. No amor de Jesus.”

Nessa ou naquela grei religiosa, seguidores que somos do Cristo de Deus poderíamos, realmente, fazer mais, nos envolver mais e cuidar mais dos nossos irmãos, nesse país tão desigual, onde a fome, a miséria e a escassez moral escancaram as dores dos que sofrem e esperam de nós uma ajuda. Indiferentes, todavia, a tudo isso, prosseguimos com o discurso evangélico na fala sem jamais concretizá-lo na prática.

Voltei para casa com um profundo sentimento de gratidão ao Mestre Jesus. Sua mão me conduziu até aquele posto e me ensinou, mais uma vez, o que significa ser um servidor Seu. A gerente Walda me fez lembrar que, diante da dor do próximo, a responsabilidade é minha de agir para minimizá-la.

Que o seu exemplo possa contagiar a todos nós.

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