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Artigo do Jornal: Jornal Setembro 2017

Sobre o autor

Lúcia Moysés

Lúcia Moysés

"O bem que praticas em qualquer lugar será teu advogado em toda parte." Emmanuel
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Há um vídeo que viralizou na internet mostrando dois sorridentes meninos de seis anos abraçados: um negro, de cabelos pretos e outro branco, de cabelos louros. Ambos se mostram com a cabeça quase raspada. É que eles acharam que cortando bem rente os cabelos iriam enganar a professora, que ficaria com dificuldade em distinguir um do outro.

Essa talvez seja uma das imagens mais preciosas publicadas nos últimos tempos sobre igualdade. A criança não tem preconceito. Ela o adquire em contato com o adulto.

Nestes dias marcados pela xenofobia preocupa-nos o fato de ver jovens que, pela idade, deveriam estar consolidando o conceito de igualdade, mas estão se tornando cada vez mais preconceituosos. Observamos, quase diariamente, estampadas nos jornais, fotos e notícias de grupos de pessoas a portarem cartazes de protesto contra outros grupos, movimentos ou ideologias com as quais não concordam. E o que mais nos chama a atenção é o fato de grandes parcelas serem formadas por jovens.

Tal é o caso de uma manifestação recente ocorrida na praia de Copacabana. Tudo começou quando um grupo de radicais atacou e agrediu um refugiado sírio que ali vendia comidas árabes. Uma reação imediata de apoio ao estrangeiro se alastrou pelas redes sociais, redundando em uma intensa procura por sua barraca e seus quitutes no dia seguinte. Em revide, um pequeno grupo de fiéis de um determinado segmento religioso, liderado por um dos seus representantes, saiu às ruas empunhando cartazes em que se lia: “Muçulmanos: assassinos, sequestradores, estupradores”. Seguiam, vestidos de preto, sob o aplauso de uns e o repúdio de outros.

É a face do extremismo e da intolerância religiosa se revelando ante nossos olhos estupefatos. Confiro as fotos nos jornais e nas redes sociais e, apesar de saber que já era tempo de me acostumar com isso, ainda me choco com os comentários e reações de apoio ao radicalismo intolerante. Agressões verbais, falta de respeito, ofensas e palavrões imperam nesse território cada vez que alguém levanta uma bandeira a favor da diversidade e da igualdade.

Como educadora espírita, situações como essas me remetem à responsabilidade que temos junto às crianças na formação de atitudes de respeito à igualdade. Diria mais: é nosso dever levá-las a vivenciar a real fraternidade desde os anos iniciais da vida. Nunca será demais ensinar e praticar o “amai-vos uns aos outros”, entendendo que, aos olhos de Deus, somos todos irmãos. A igualdade e a liberdade de consciência e de crença – valores inalienáveis – são direitos garantidos pela Constituição Brasileira em vigor. Saber respeitá-los é tarefa que se nos impõe em prol da convivência pacífica e do respeito ao próximo.

Nossas crianças nos observam o tempo inteiro. Pensando nisso, estejamos atentos ao que falamos, às ideias que defendemos, cuidando para que sejam sempre o que temos de melhor em termos de fraternidade, tolerância e respeito.

Sendo de uma família originária do Líbano, gosto de relembrar um episódio ocorrido comigo quando de uma visita àquela terra acolhedora. Um dos meus primos – católico maronita – era professor primário em uma escola pública situada em um bairro de maioria muçulmana. Conversando com ele, desejei obter detalhes do seu relacionamento com os alunos que professavam essa religião. Parecendo não entender bem o que eu perguntava (falávamos em francês), me disse apenas que tratava a todos como iguais. Ante a minha insistência em conhecer um pouco mais sobre a sua forma de lidar com os muçulmanos, me respondeu, um tanto irritado: “O que você imagina? Que sejam diferentes? Pois saiba que são todos libaneses. São todos cidadãos da nossa pátria!”. E continuou me explicando que no país há três importantes grupos religiosos: muçulmanos, cristãos e drusos, estes em minoria, e que todos os seus alunos mereciam dele o mesmo cuidado e dedicação. Contou-me da união que reinou entre todos os libaneses nos anos de guerra em que o país se vira envolto pouco tempo antes. Mostrou-me, enfim, ser um autêntico seguidor de Jesus. A fraternidade e o amor ao próximo, calcados no preceito da igualdade, mais do que simples palavras, constituíam a base das suas crenças e se manifestavam no seu ofício de educador. Ele, de fato, vivia o fazer ao próximo tudo aquilo que desejaria que lhe fosse feito.

Aquela foi, de fato, uma bela lição aprendida, que trato de repassar sempre que possível, na certeza de confirmar o eterno valor da tolerância e da paz.

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