O que faz alguém ser feliz na vida? Seriam coisas como o dinheiro, a fama, o prestígio e o poder? O que nos mantém saudáveis por longos anos? Buscar resposta para essas e outras questões foi o principal objetivo de uma pesquisa iniciada há aproximadamente 80 anos, e ainda em andamento, sobre o desenvolvimento humano (Study of Adult Development). Nela, pesquisadores da Universidade de Harvard acompanharam a vida de cerca de 700 pessoas – uma parte, estudantes da própria universidade e outra de crianças que viviam em bairros pobres de Boston. A pesquisa – hoje sob a direção do seu quarto diretor, o psiquiatra Robert Waldinger – seguiu essas pessoas durante toda a vida, monitorando seu estado mental, físico e emocional. A esse grupo original veio se somar outros, contando, atualmente, com cerca de mil participantes, incluído mulheres (no início eram todos homens).
Os pesquisadores coletaram dados, ininterruptamente, ao longo de suas vidas, sobre vida familiar, trabalho, lazer, estados de saúde, entre outras. Muitos se tornaram profissionais liberais, outros, trabalharam em profissões mais braçais, como pedreiros e operários. Alguns se tornaram alcoólatras, tiveram carreiras decepcionantes ou sofreram doenças mentais e depressão.
Aqueles jovens e crianças envelheceram. Os que ainda estão vivos já têm noventa anos de idade.
Agora, depois de tantas décadas, o estudo pôde encontrar respostas àquelas perguntas. As incontáveis análises de dados apontaram que o fator que mais concorreu para que aqueles pesquisados se mantivessem felizes e saudáveis ao longo da vida foi a qualidade dos seus relacionamentos. A pesquisa mostrou que as pessoas mais satisfeitas nas suas relações, mais conectadas com o outro, permaneceram com o seu corpo e cérebro saudáveis por mais tempo. Ficou patente, também, que o que torna uma vida feliz é a segurança que se tem nos relacionamentos, algo que permite a cada um ser ele próprio, sem máscaras ou medos. E isso funciona com familiares, amigos e com a comunidade, mas principalmente com o parceiro. O estudo comprovou que os que tinham relações mais estreitas estavam protegidos contra doenças crônica e mentais, ainda que tivessem experimentado altos e baixos na vida.
Esses resultados se tornaram mundialmente conhecidos através de uma conferência do Dr. Waldinger gravada em vídeo e apresentada na internet1
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“A solidão mata!” – É o alerta que ele nos faz. Indagado sobre que recomendações daria às pessoas que buscam a felicidade, respondeu: "As possibilidades são infinitas", explicou. "Algo tão simples como substituir o tempo que passamos diante de uma tela pelo tempo para viver juntos, ou reavivar um relacionamento monótono, realizando uma atividade em comum, como fazer caminhadas ou sair para passear”.
Dentre os inúmeros conselhos que o diretor do estudo faz, destacamos: “Entre em contato com o familiar com quem você mal fala, porque as disputas familiares que são tão comuns geralmente afetam aqueles que estão ressentidos". São palavras de um psiquiatra, mas que já vêm ecoando ao longo dos séculos quando, de forma bem parecida, foram proferidas por Jesus ao nos recomendar reconciliação com o adversário.
Em resumo, aprendemos que são os nossos afetos, nossos bons relacionamentos que tornam a vida mais feliz e não a posse do dinheiro, ou a fama e o poder. Ter amigos nos quais possamos confiar; saber que, haja o que houver, eles estarão ao nosso lado quando precisarmos, nos protege das doenças e garante o nosso bem-estar.
Amizades começam na convivência do dia a dia e tendem a se consolidar transformando-se em sentimentos de amor e fraternidade. “Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem” – João 13:35.
Tantos, porém, passam a vida em busca dos valores amoedados que lhes garantam bem-estar material, ignorando que o verdadeiro tesouro está na relação com o próximo. Quantos filhos sofrem a ausência dos pais que, preocupados em lhes garantir um futuro melhor, lhes roubam as horas de convívio ameno e carinhoso, esquecidos da exortação do Mestre Amado: “Não ajunteis tesouros na terra, [...] Mas ajuntai tesouros no céu” – Mateus 6:19-20.
Este é, sem dúvida, um conhecimento que deveríamos levar para as nossas vidas, colocando-o em prática enquanto há tempo.
1 TED: What makes a good life? Lessons from the longest study of happiness