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Artigo do Jornal: Jornal Maio 2017

Sobre o autor

Lúcia Moysés

Lúcia Moysés

"O bem que praticas em qualquer lugar será teu advogado em toda parte." Emmanuel
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Nesses dias conturbados em que vivemos, todos anseiam pela paz. Poucos, porém, estão dispostos a abrigá-la no santuário do coração.

Falta-nos, muitas vezes, a disciplina do sentimento, a perseverança no caminho do bem e a convicção de que a paz é mandamento divino. Sem essas forças, nos é mais difícil a concretização de ações pautadas no amar e servir, em conformidade com os preceitos do Evangelho do Cristo Jesus.

Sabemos todos que a paz que desejamos no mundo começa em nós. Esse saber, todavia, não ultrapassa o campo da razão, na maior parte das vezes. Estacionados, não transitamos da razão para o sentimento. Ao contrário, ante os embates da vida, deixamos de lado o coração, esquecendo-nos dos ditames da paz.

No nosso cotidiano, vemos, com frequência, pessoas que reagem agressivamente a qualquer provocação, perdendo o controle diante de situações que consideram erradas, trocando o equilíbrio pela perturbação, o bom senso (por ações precipitadas) pelo raciocínio precipitado, a calma pela irritação. No lugar das palavras de compreensão, o insulto, as ofensas e os gestos de ódio. O noticiário está repleto de casos de pessoas que perderam a vida por atos impensados, ou a liberdade por alguns segundos de insensatez.

Quantos de nós buscamos a felicidade nas sensações, nos prazeres fáceis, sem nos darmos conta de que ela reside na harmonia interior, no coração apaziguado.

Como pais, preocupamo-nos, em demasia, em tornar felizes os nossos filhos, esquecendo-nos, muitas vezes, de lhes preparar para o encontro com a paz no refúgio da alma.

Não raro, tenho observado as brincadeiras que atraem as crianças desse nosso mundo tecnológico. Vejo meninos com seus aparelhos jogando videogames sozinhos ou com parceiros, assistindo suas séries favoritas, ou – hoje em dia com menos frequência – seus programas na TV. Basta uma pequena conferida nos conteúdos daquilo que os hipnotizam para nos darmos conta de que há neles grandes parcelas de violência e agressão.

Vi outro dia três meninos, na faixa entre seis e nove anos, intercalando a atividade virtual com o mundo real. As paradas que faziam funcionavam como um exercício prático do que acabavam de assistir: repetiam as mesmas lutas, faziam reféns, perseguiam e matavam como no mundo virtual. Tudo isso usando as mesmas falas e entonações dos personagens que os excitaram minutos antes.

Em outros momentos os vi montando os brinquedos que acabaram de ganhar: Star Wars (Guerra nas Estrelas), com suas naves, armas de destruição, guerreiros e heróis. Curiosa, sentei-me ao lado e comecei a observar: uns eram do bem; outros do mal. Esses, porém, se disfarçavam, atuando como justiceiros, para poder melhor atacar e destruir seus adversários. Novamente aqui, as falas se assemelhavam aos vídeos e filmes. E o mais grave: ao passar por ali outro menino que havia se interessado pelos brinquedos, vi o menor deles reagir com um soco no rosto à simples aproximação do garoto. Agressão gratuita, revelando o quanto já introjetara esse padrão de comportamento.

Gerações anteriores sempre brincaram de bandido e mocinho e cultivaram seus super-heróis, os paladinos do bem, em luta constante contra o mal. Hoje, porém, o que, como educadora observo, é uma superexposição da criança a situações que estimulam a belicosidade. A indústria de entretenimento infantil – aí incluídos brinquedos, vídeos, filmes e jogos – está permanentemente oferecendo novos e variados artigos voltados para a guerra, em detrimento da paz. Conhecendo profundamente o psiquismo infantil, manipulam desejos, oferecendo à criança uma gama inimaginável de produtos que a farão permanecer, fascinada, nesse universo.

Claro está que por traz de tudo isso há um adulto que fornece esses “objetos do desejo” para as crianças, esquecido do seu papel de orientador, e que se deixa envolver acriticamente pelo marketing que o induz à aquisição de tais mercadorias.

Mas se almejamos a implantação da paz no mundo, deveríamos ter como divisa o pensamento do Mestre Jesus, quando afirma: “Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). Pacifiquemos, pois, a nós próprios em primeiro lugar, para que possamos ser, para nossas crianças, o espelho onde elas verão refletidos a nossa essência e o nosso exemplo. Troquemos os estímulos à violência por aqueles que induzem à cooperação, à solidariedade e à construção de um mundo melhor, marcado pelo amor. Façamos a nossa parte, tranquilizando a vida em torno de nós, confiantes de que estamos formando os futuros pacificadores do amanhã.

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