“Há muito ódio e muita discórdia envenenando as almas”. Mais do que nunca essas palavras de Emmanuel refletem os sentimentos que são agasalhados por milhões de pessoas hoje, na Terra. Nascidos da ignorância, eles oprimem, vergastam e destroem relações e afetos. O que fazer? Como agir em um panorama tão sombrio?
É o próprio benfeitor quem nos aponta a saída: “É necessário acender a lâmpada sublime da piedade, avançando sempre". E continua, nos convidando a lançar a nossa semente de fraternidade e sabedoria, de auxílio e compreensão a fim de superarmos essas dificuldades.
Destaquei essa passagem do livro Correio Fraterno, psicografado por Francisco Cândido Xavier, depois de ter dinamizado uma roda de conversa com mães de uma creche em uma comunidade pobre e muito violenta. A convivência familiar era o tema central. Estimuladas a participar, algumas relatavam casos problemáticos envolvendo os próprios familiares, outras, situações humilhantes, como discriminação racial da qual foram vítimas. Mas o que preponderou foram as histórias relacionadas a conflitos familiares. Muitas, se pudessem, viveriam em uma ilha isolada com o marido e os filhos. Algumas, somente com esses.
Evidenciavam-se as dificuldades de relacionamento com os mais próximos; ódios alimentados dentro do próprio lar, envenenando as almas. Tramas nascidas, muitas vezes, em outras vidas e que, ao invés de serem desembaraçadas, ampliam-se e se fortalecem cada vez mais. Verifica-se a ausência de amor, de compreensão e, principalmente, de piedade.
Em situações de grupo, como a aqui relatada, é muito comum ver uma queixa desencadear uma série crescente de narrativas lamentáveis. Assim é, por exemplo, a de mulheres que têm ou tiveram companheiros com problemas comportamentais como agressividade, mentiras, vícios etc. Suas falas provocam uma onda de comentários negativos. O mesmo se dá quando a conversa gira em torno da sogra ou de familiares idosos, casos frequentemente acompanhados de deboches e piadas. Há como uma unanimidade de opiniões, sempre denegrindo a pessoa em jogo. O que a maioria não percebe, todavia, é a criação de um clima favorável à perturbação espiritual que vai, aos poucos, se instalando no local.
O que se passa no grupo é, de certa maneira, semelhante ao que ocorre em casa ou entre vizinhos e colegas quando as conversas resvalam para a maledicência ou, até mesmo, para os impropérios em relação aos ausentes não amados. Também nesses ambientes o desequilíbrio e a baixa sintonia vibratória se fazem presentes, atraindo espíritos que se comprazem no mal.
Fazer parar a onda negativa é um grande desafio. Atuando na dinamização de grupos não espíritas, venho utilizando uma técnica que apresenta bons resultados. Começo por incentivar a fala, ouvir uns poucos casos e, sem deixar que a onda cresça e contagie os demais, passo a fazer perguntas que promovam a reflexão. Uso exemplos que façam ver que tais situações só fazem crescer o ódio e o ressentimento. A partir daí tento, de alguma forma, falar da lei de reciprocidade e da importância de nos vermos como seres interdependentes.
Tudo seria, no entanto, muito mais fácil se pudesse argumentar utilizando o conhecimento advindo do Espiritismo.
A Doutrina Espírita nos explica porque passamos por situações problemáticas e o Evangelho do Mestre Jesus nos convoca a usarmos a tolerância e o amor para com o próximo. Essas são, pois, as duas potentes chaves capazes de abrir as portas do entendimento daqueles que estão em vias de instalar o desequilíbrio no ambiente.
Sabemos que os familiares difíceis, que transformam a convivência diária em um campo de lutas, não raro são aqueles que, em vidas passadas foram prejudicados, perseguidos ou abandonados por nós e que agora vêm ao nosso encontro para que aprendamos a ampará-los, a protegê-los e a amá-los. Ninguém sofre injustamente. Deus, nosso Criador, é Pai de justiça e de amor. Se passamos pelas vicissitudes terrenas, é para refazer os passos equivocados e entrarmos, novamente, na estrada que nos irá alçar ao Reino do Céu, como prometeu o Amigo Divino.
É importante assinalar que, ao conseguirmos substituir o clima de desequilíbrio espiritual por outro, caracterizado pela paz, tudo muda. Os corações se apaziguam, renovam-se os painéis mentais e o clima fica propício à oração e ao entendimento.
Semeando a luz nos corações, afastamos todo o mal que possa se interpor na nossa jornada terrena. Levamos a luz ao nosso irmão e esta mesma luz ilumina nosso caminhar.