
A crise econômica que vem afetando a vida dos brasileiros e que vai se agravando nesse meado de 2016 traz intranquilidade e desesperança para grandes parcelas da população. Demissões e desemprego, atraso no pagamento de salários e impossibilidade de saldar compromissos, mudança nos padrões de vida são alguns dos muitos problemas que podemos citar em meio a tantos outros.
É um momento difícil, de fato, mas que pode encerrar lições de grande valor, do ponto de vista da educação.
Na última década, inúmeras foram as famílias das camadas populares que conheceram uma elevação no patamar socioeconômico, permitindo-lhes desfrutar de bens e serviços antes inalcançáveis. Fenômeno ainda mais acentuado se verificou entre as de classe média, que adotaram padrões de consumo como nunca visto, até então. Como consequência, a nova geração passou a contar com facilidades e privilégios postos a serviço dos seus sonhos e fantasias. Foi um momento que parecia ter vindo para ficar.
Mas as mudanças começaram a se revelar, sem demora. A busca por novidades, a permanente insatisfação com o já conquistado, o desejo sempre crescente de ter mais, de usufruir mais, vem encontrando barreiras inesperadas. A realidade, com seus contornos sombrios, começou a se impor de forma gradativa, enevoando os projetos de formação universitária e de carreira promissora.
Pais verdadeiramente comprometidos com a educação espiritual dos seus filhos, que compreendem ser cada nova encarnação uma oportunidade para novas aprendizagens no campo do intelecto, mas também da moral e dos sentimentos, saberão tirar proveito da crise que ora vivemos.
Numerosos são os exemplos que temos visto de mudanças comportamentais de crianças e jovens diante das dificuldades por que passam suas famílias. Maior espírito de colaboração nas tarefas domésticas quando já não há mais os servidores para executá-las, freio no ímpeto consumista, crescente valorização e cuidado com o que se tem, compartilhamento de equipamentos antes usados com exclusividade, são alguns deles.
Dentre os relatos que ouvimos, um, em particular, chamou-nos a atenção: o de um jovem cuja mãe o conduzia de carro para toda parte e que, há alguns meses vem usando o transporte coletivo. Embora estranhando nos primeiros dias as longas viagens, a visão do desconforto de tantos trabalhadores, o entra e sai de ambulantes, o próprio custo das passagens, tudo isso o fez ter uma nova visão da vida. Percebeu o quanto tinha sido privilegiado e insensível ao sofrimento alheio, anteriormente.
É a hora difícil trazendo seu lado positivo. São novos olhares para o próximo, novos valores que vão surgindo, atingindo a essência do ser.
Se antes a bagagem que portava constava basicamente de bens materiais, agora ela começa a ser preenchida por bens do espírito, aqueles que a traça não rói nem a ferrugem consome, como afirmou o Mestre Jesus.
Muitas são as lições passíveis de serem aproveitadas nessa oportunidade em que a crise mostra o seu lado mais cruel.
Diante de um pai desempregado e que vai à luta, ainda que em condições inferiores à que desfrutava, é hora de ensinar o valor da honestidade e da dignidade, que não se abalam quando o caráter é nobre.
Frente à necessidade de se transferir de uma escola particular para uma da rede pública, o ensejo permite que se compreenda melhor as condições precárias com que se defrontam imensas parcelas de estudantes nas diferentes latitudes do País; que se tenha um olhar mais compreensivo para a figura do professor dessa rede; que se compartilhe o saber adquirido em experiências enriquecedoras como viagens e passeios, com aqueles que mal ultrapassaram os limites dos seus bairros.
Aos pais ou responsáveis, não faltarão chances de levar os filhos a uma análise crítica ou reflexão a respeito da própria vida, ante os noticiários que apontam dores e sofrimentos alheios, despertando a compaixão nos seus corações.
“Toda prova – diz-nos Emmanuel, através de Chico Xavier –, seja qual for, aparece na estrada, a fim de elastecer-nos a força e aperfeiçoar-nos a experiência”. Lembremo-nos disto quando o desânimo ameaçar nossa coragem ante as dificuldades dos dias que passam e avancemos, certos de que Deus não nos desampara.