
Há cerca de quatro anos eu me dirigia para a casa espírita onde coordenava a tarefa da Evangelização Infantojuvenil e do Grupo de Pais quando, ao me aproximar do portão, fui abordada por um homem aparentando cinquenta anos, muito simpático. Desejava obter informações sobre as atividades oferecidas pela instituição. Mostrava-se particularmente interessado pelo trabalho junto à infância e adolescência. Era pai de três filhos e havia se mudado há pouco tempo para o bairro. Foi com grande prazer que não somente lhe repassei as informações desejadas, como o convidei para nos visitar no sábado seguinte, no horário das nossas atividades educacionais voltadas para a família.
Não poderia imaginar que naquele momento estivéssemos começando uma relação tão frutífera. O convite foi prontamente aceito e, para nossa alegria, no dia marcado, tivemos o prazer de recepcioná-lo, juntamente com a esposa e os filhos. O entrosamento do casal ao Grupo de Pais deu de forma natural. Em pouco tempo todo o grupo pôde constatar o grande cabedal de conhecimento espírita que os novos companheiros traziam. Ele, em particular, crescera em lar espírita e tornou-se, para mim, um grande parceiro.
O mesmo entrosamento não ocorreu com os filhos: dois jovenzinhos gêmeos, de 11 anos e uma menina de nove. Muito tímidos e bastantes infantis, foi necessária muita atenção e carinho para que eles se achegassem aos respectivos grupos. A impressão que nos davam era a de que não levavam a atividade na casa espírita a sério. Os garotos viviam rindo e brincando durante os encontros semanais. Esse comportamento, no entanto, começou a se modificar lá pelo quinto ou sexto mês. Quanto à menina, precisou de um tempo maior para deixar de lado o seu jeito arredio. Ao final do primeiro ano, no entanto, a situação já se revelava completamente diferente: todos se mostravam integrados, muito participativos e afetuosos.
Nos três primeiros anos, toda a família participava das atividades com relativa assiduidade. A partir do quarto ano, quando os filhos se tornaram adolescentes e grandes mudanças ocorreram na direção daquele trabalho, a família foi deixando de frequentar a casa espírita. O pai, que os levava, passou a trabalhar nas manhãs de sábado. Acomodando-se à situação, os jovens se desinteressaram por completo da atividade, abandonando a instituição. A perda foi sentida pelo grupo de pais e, principalmente, pelos educadores.
Por isso, em um misto de surpresa e alegria, numa manhã de junho eles viram chegar de mansinho um dos rapazes. Viera sozinho e por conta própria. Alegria maior aconteceu quanto, algumas semanas depois, retornou o seu irmão gêmeo. “E a menina? Por que não vem?", perguntavam os colegas. E a resposta era desanimadora: preferia ficar dormindo.
Já havia se passado dois meses. Nos corações daqueles seareiros do bem a esperança de vê-la retornar mantinha-se viva. E ela voltou. Espontaneamente.
Mesmo sem a companhia dos pais, voltaram os três. Estão, mais do que nunca, participativos, dando mostras de querer recuperar o tempo perdido.
A evasão de crianças e, sobretudo, de jovens da instituição espírita é um fato. Muitos são os fatores que concorrem para isto. Desinteresse, envolvimento em outras atividades – escolares, desportivas ou sociais – nos horários da evangelização e afastamento dos pais da casa espírita são alguns deles.
Por isso, percebo neste episódio uma lição alentadora para pais e educadores espíritas: sementes plantadas em solo fértil frutificam, cedo ou tarde, apesar das intempéries.
No caso em pauta, assinalo alguns fatores decisivos para o desfecho ocorrido: foram crianças que nasceram e cresceram em um lar no qual as luzes do Evangelho de Jesus e do Espiritismo se faziam presentes, tendo sido estimuladas a frequentar as atividades próprias das suas idades na casa espírita. E puderam ainda contar com o acolhimento amoroso dos seus evangelizadores, em uma instituição que oferecia um programa atraente e motivador.
Mas estou particularmente convencida de que o fator que mais pesou na decisão dos jovens foi algo muito maior: o próprio conhecimento que a Doutrina Espírita oferece àqueles que desejam conhecê-la. Na idade em que estavam, esses jovens possivelmente começaram a encontrar respostas a seus questionamentos mais filosóficos, passaram a compreender o sentido da vida, percebendo o encadeamento das reencarnações que se sucedem e que nos fazem construtores do nosso porvir. Algo irresistível quando se está em plena adolescência.
Levar à criança e ao jovem o conhecimento da Doutrina Espírita é acender um farol que irá iluminar o caminho por onde eles hão de passar.