
Sobre quantas vidas pode impactar um mau passo de um pai ou de uma mãe? Sobre quantas gerações um erro de um deles pode se fazer sentir?
Às vezes, nós achamos que é fácil corrigir um erro, pagando por ele ou voltando atrás para consertar o passo. Na vida, porém, nem sempre é assim. Vejamos o caso divulgado recentemente em um jornal e que nos fez refletir sobre esse tema.
Trata-se do relato de uma avó, atualmente com 57 anos, responsável por três netos pequenos que está vendo a sua família ser destruída em função de um erro seu, no passado. Era uma jovem mãe quando foi condenada a sete anos de prisão por ser usuária e traficante de drogas. Enquanto cumpria a pena, sua filha, ainda muito nova, engravidou das crianças. Com tantos problemas, e sem um amparo familiar, buscou a saída na bebida, tornando-se alcoólatra. Depois que mãe ganhou a liberdade, essa filha, abandonou os próprios filhos, tomando rumo ignorado. A avó, movida por grande remorso, assumiu, com desvelo, a manutenção e educação dos netos. Vida difícil, de miséria física e moral. Com grande esforço, conseguiu soerguer-se, trabalhando dignamente. Hoje, porém, vê tudo começar a se desmoronar: seu neto de oito anos, o mais velho dos três, abandonou a escola, vive nas ruas e está se deixando levar pelos apelos do tráfico.
Duas coisas chamam a atenção no relato feito pela avó: o sentimento de culpa por sua história pregressa e a sua quase desistência de lutar contra o caminho que o neto está seguindo.
Aprendemos com a Doutrina Espírita que não é o acaso que une os membros de uma família. Os laços que nos prendem uns aos outros são geralmente muito mais fortes do que supomos. Ao longo das existências – e nós já vivemos muitas vezes – assumimos vários papéis, dentro do mesmo grupo familiar. Nele renascemos não somente para corrigirmos nossos erros, fazermos novas aquisições intelecto-morais, avançando espiritualmente, mas também para ajudarmos os que estão conosco nessas mesmas tarefas.
Quando a família recebe um novo membro pelo nascimento, sua aparência frágil e sua dependência favorecem o florescimento dos sentimentos mais nobres por parte dos pais. Educá-lo desde a mais tenra idade é sua missão.
No caso relatado, penso que seria necessário analisarmos o que aconteceu antes, nessa família, voltando às gerações anteriores, para tentar compreender o que a poderia ter levado à situação atual. Como nenhum de nós reencarna para regredir, comecemos por admitir que talvez tenha sido uma falta de orientação ou de educação moral na infância que levou aquela avó, ainda na juventude, a se enveredar pelo crime e pela dependência química. Não é difícil imaginar as consequências disso sobre sua própria vida e a daquela que renasceu como sua filha, hoje viciada no álcool, e desta sobre seus filhos. Quedas sobre quedas. Vidas de angústias e desgostos permeando gerações.
A avó lamenta o caminho pelo qual enveredou quando jovem, pois sabe quanto sofrimento lhe causou. Arrependeu-se, cumpriu pena, reconquistou a liberdade, optou por seguir uma vida digna. No entanto, o mal que fez no passado refletiu sobre a vida da sua filha e agora, ameaça a do seu neto.
Algo que parecia, na sua juventude, menor e sem muita importância – o uso de drogas – foi a porta de entrada para tanta desventura.
E é por isso que nos lembramos sempre das mensagens contidas no Pentateuco Espírita, de Allan Kardec, sobre a responsabilidade dos pais sobre a evolução espiritual dos filhos. As palavras que os Imortais usam são sempre marcantes e inquestionáveis: missão, dever, obrigação, encargo. Deixando claro que a educação dos filhos é um compromisso assumido antes da reencarnação pelos pais, os Benfeitores Espirituais se preocuparam também em lhes apontar o que deveriam fazer para se desincumbirem bem dessa missão: orientar os filhos, guiá-los pelas sendas do bem e corrigir-lhes as más tendências; ajudá-los com bons conselhos, consolá-los nas suas aflições, levantando-lhes o ânimo nas provas. Não se esqueceram, ainda, de dizer que deveriam amá-los, amparando os seus passos, servindo-lhes de “estacas” para que crescessem firmes em direção ao Mais Alto.
Quando tais cuidados e esforços não são levados em conta pelos pais, fatos como os vividos por aquela família têm mais chance de ocorrer, repercutindo nas gerações subsequentes.
Fica-nos, então, o alerta. Reponsabilidade para com os filhos é tarefa intransferível daqueles que os trouxeram ao mundo. Fracassar no presente pode significar colher frutos amargos no futuro.