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A cena já se tornou corriqueira: o pai ou a mãe chega a casa com um aparelho eletrônico novo, não consegue fazê-lo funcionar, pede ajuda ao filho e este, em poucos minutos, resolve o problema. Ele já nasceu sabendo, dizem os pais. E, ao que parece, estão certos.
Qual seria a explicação para isto?
Platão, o grande filósofo grego que viveu há mais de 2.400 anos, afirmava que aprender é recordar-se. Para ele as ideias são imutáveis, eternas, incorruptíveis e não criadas, e estariam na esfera superior dos céus, ou no dizer espírita, nos Planos Superiores da criação. Na sua concepção, este plano só é parcialmente visível para as almas que estão desligadas do próprio corpo. Quando o homem renasce, se esquece da visão das ideias que contemplou nessa esfera, mas à medida que começa a se defrontar com as situações da nova vida que o fazem se lembrar do que havia visto naquele mundo, vai resgatando o conhecimento que, na verdade, sempre existiu no seu espírito.
Platão se referia ao conhecimento das grandes verdades, da perfeição, da beleza. A Doutrina Espírita nos mostrou que o filósofo estava certo. E mais, que certas habilidades e tendências que demonstramos ter na vida atual são reflexos das nossas histórias pregressas.
Nossas crianças, que demonstram tanta familiaridade no uso dos aparelhos eletrônicos, provavelmente já os conheceram anteriormente, aqui ou no Além.
No livro Memórias de um Suicida, psicografado por Yvonne do A. Pereira e ditado pelo espírito Camilo Castelo Branco, há inúmeros relatos sobre tais aparelhos, inimagináveis por nós à época em que se passa a história: 1906. A obra relata os tormentos de cinco espíritos que na última encarnação haviam se suicidado e que passaram a conviver desde que se tornaram internos em um posto de emergência próximo a Terra. Em lá chegando, foram matriculados como pacientes em um hospital, tendo passado antes por uma seção de registro, na qual deveriam prestar inúmeras informações a respeito de suas vidas enquanto encarnados. Aquilo que deveria ter sido uma atividade demorada foi realizado em menos de meia hora, porque os processos eram diferentes do habitual. Diz o autor espiritual: “as respostas dos pacientes foram inicialmente gravadas em discos singulares, espécie de álbuns animados de cenas e movimentos, graças ao concurso de aparelhamentos magnéticos especiais. Tais álbuns reproduziriam até mesmo o som de nossa voz, como nossa imagem e o prolongamento do noticiário sobre nós mesmos, desde que posto em contato com admirável maquinismo apropriado ao feito, exatamente como discos e filmes na Terra reproduzem a voz humana e todas as demais variedades de sons e imagens neles existentes e que devam ser retidos e conservados” (p. 57).
Hoje, qualquer aparelho celular com câmera de vídeo seria capaz de fazer tais registros, transferindo-os para um DVD. Este, ao ser colocado em dispositivos próprios, reproduziria fielmente a cena gravada.
Mais adiante, o personagem central faz uma descrição de uma aparelhagem provida de um visor que nos remete às atuais telas de plasma ou LED, utilizadas em computadores, televisores e dispositivos móveis de comunicação. A característica principal é permitir que pessoas situadas em locais distantes, uma das outras, conversem online, vendo-se mutuamente, como por exemplo, nos softwares que transmitem voz e vídeo.
Prosseguindo, relata ainda uma experiência que o deixou fascinado: conseguiu acompanhar, à distância e por meio de imagens numa tela que se expandiu ao toque de mãos, tudo o que se passava fora dali com um dos seus companheiros, exatamente como nas transmissões ao vivo, em uma tela sensível ao toque.
Muitas outras passagens nesse livro abordam questões semelhantes, o que nos leva a encontrar explicações para a grande facilidade encontrada pelas crianças no manuseio de aparelhos com tecnologia de ponta. De fato, aprender é recordar, como dizia Platão.
Acresce-se a isto o fato de a geração presente ser sempre mais adiantada que a anterior, como nos ensina a Doutrina Espírita (Livro dos Espíritos, Conclusão, parte IV). Então, é natural que os meninos e meninas deste início de século apresentem familiaridade com os equipamentos que ainda causam embaraço à geração mais velha.
O importante, porém, é não glamourizar demais este fato. Ao contrário, vendo-o como algo absolutamente normal, os pais e educadores não deveriam se sentir diminuídos diante dessas dificuldades, pois seu campo de ação junto à nova geração é muito maior: é o da ordem dos valores morais.