
Que os espíritos estão em toda parte e mantém contato conosco, já o sabemos. Allan Kardec, orientado pelos Espíritos Benfeitores, recebeu a esse respeito uma resposta que não deixa dúvida, ou seja, que os espíritos influenciam nossos pensamentos e nossos atos muito mais do que imaginamos, pois frequentemente são eles que nos dirigem (Questão 459 de O Livro dos Espíritos).
Nessa mesma obra, há inúmeras alusões à forma como se dá o contato entre os homens encarnados e os espíritos, deixando claro o papel da sintonia espiritual nesse intercâmbio. Boas ou más influências irão depender, basicamente, dos nossos próprios desejos, pensamentos e ações. Quem age no bem encontra, certamente, a companhia dos bons espíritos; os que, ao contrário, se afinam com o mal, acabam atraindo espíritos inferiores, que os induz a persistir nas atitudes e comportamentos equivocados.
Muitas vezes, quando tratamos desse assunto, verificamos, entre as pessoas, uma tendência para imaginar que essa atuação malévola só se faz nos casos extremos, como, por exemplo, induzindo a pessoa ao crime, ao uso de drogas e entorpecentes, ao suicídio etc. No entanto, ela pode estar presente no dia a dia da nossa família, causando desarmonias e dificuldades de relacionamento, problemas que, na maioria das vezes, nascem da nossa invigilância. Por vezes são fatos corriqueiros para os quais não damos a devida importância, situações que vão se instalando dentro de casa e que acabam se transformando em padrões de conduta.
Vejamos alguns exemplos.
Há lares sem regras, nas quais os filhos vão, pouco a pouco, testando seus limites – raramente definidos – e impondo seus desejos e seus caprichos aos pais. Depois de instalada a situação, marcada pela inversão de valores (os filhos mandam), passa a ser muito difícil manter o equilíbrio nas relações pais e filhos. Muitos pais, ao perceberem que perderam o controle, se desestruturam, passando a manifestar um comportamento marcado por agressões de ambos os lados. Instala-se o desrespeito e, junto a ele, a sintonia com as esferas inferiores da espiritualidade.
Brigas entre o casal são, sem dúvida, outra porta de entrada para a sintonia com o mal. Num lar onde o desrespeito se manifesta na presença dos filhos, impossível não imaginar o tipo de espírito que para ali é atraído.
Outras vezes são práticas consideradas inofensivas que desencadeiam as más sintonias. A maledicência tem, nesse território, lugar de destaque. Com os novos arranjos familiares, frutos da sociedade moderna, vemos, com frequência, casais separados que trazem os filhos para o contato com seus novos companheiros. Esta seria uma relação que poderia ser positiva, na medida em que agregasse novos elementos ao clã familiar. A verdade, porém, é que muitas vezes os ex-parceiros, inconformados com a separação, envenenam os próprios filhos contra o genitor que refez sua vida matrimonial. Ironias, deboches e gozações são formas veladas dessa maledicência, mas que surtem o mesmo efeito: atração de vibrações inferiores para dentro do lar, uma vez que aquele que foi alvo dessas atitudes percebe as verdadeiras intenções de quem as manifestou, reagindo negativamente a elas.
Igualmente considerado inofensivo é o tipo de entretenimento utilizado pela família no reduto doméstico. Programação de TV, jogos eletrônicos, participação nas redes sociais e a própria internet podem igualmente ser polos de atração para companhias espirituais, pois são os nossos desejos e nossos pensamentos que os atraem. Dependendo da qualidade daquilo que nos entretém, estaremos convidando para a nossa presença espíritos evoluídos ou não.
Os espíritos do bem, porém, estão sempre prontos a nos ajudar. "Nossa missão é colocar-te no bom caminho, e quando as más influências agem sobre ti, é que as atrai pelo desejo do mal, pois os Espíritos inferiores vêm auxiliar-te no mal quando tens o desejo de o praticar. [...] mas, também, tereis outros que procurarão auxiliar-te para o bem, o que restabelece o equilíbrio da balança e te deixa senhor de teus atos".
Estas são palavras de um espírito benfeitor a Kardec (Questão 466 de O Livro dos Espíritos), que termina com esta conclusão que nos faz refletir sobre o nosso livre-arbítrio: "E assim, Deus deixa à nossa consciência a escolha do caminho que devemos seguir e a liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós".
Que O Senhor da Vida nos inspire a seguir sempre o melhor caminho, para o nosso bem e o dos nossos entes queridos. Para isto nos dotou de livre-arbítrio.