Cada artista traz consigo os seus gostos e valores na medida certa para evolução espiritual, embora não deva se iludir porque somente a responsabilidade e o dever moral poderão justificar uma carreira de sucesso absoluto, mediante a consciência pacificada ao ver concluída a sua tarefa de reajuste.
É preciso verificar cuidadosamente cada passo na estrada da vida, porque servir pelos caminhos da arte requer de cada candidato muito mais empenho e dedicação, muito mais trabalho e vigilância, muito mais conhecimento e caridade.
O verdadeiro artista é o que procura transmitir as alegrias e as belezas celestes, com todo amor e toda pureza do coração, não se deixando levar pelas aparências das ilusões do mundo.
O artista, sincero com o seu compromisso assumido, é como um pássaro em liberdade, que viaja pelas plagas exuberantes dos mundos criados por Deus, recolhendo as informações positivas para em seguida ofertá-las aos que aguardam sua resposta de elevação, paz, amor e esperança.
Auguste Rodin, que nasceu em Paris em 12 de novembro de 1840 e morreu em 17 de novembro de 1917, foi educado tradicionalmente, embora ele nunca tenha sido aceito na principal escola de arte de Paris.
Suas esculturas são reverenciadas nos principais museus. Da pedra bruta retirou as mais belas formas, demonstrando assim que a arte de elevação é capaz de introduzir em nossa consciência a verdadeira manifestação desse amor mais além, ainda pouco explorado em nosso mundo, infelizmente.
A arte tem a responsabilidade de instruir, bem como de provocar o interesse das pessoas pela busca do conhecimento a partir de suas inquietações.
Hoje, certamente, a visão de Auguste Rodin está mais apurada e ampliada, a ponto de enxergar o sentido da arte espiritual, cujo movimento, cor, luz, perspectiva e profundidade, sejam por ele analisadas sobre outra atmosfera criativa.
No livro L’Art, Paris, 1924, no diálogo com Paul Gsell, ele faz admiráveis considerações sobre a Arte e demonstra ser menos acadêmico e mais transcendental:
- "A arte é a contemplação. É o prazer do espírito que penetra na natureza e aí adivinha o espírito de que ela própria é animada. É a alegria da inteligência que o universo com clareza recria iluminando-o a consciência. A arte é a missão mais sublime do homem, porque é o exercício do pensamento que procura compreender e fazer compreender o mundo."
Interessante que tais considerações se aproximam do que diz Allan Kardec em Obras Póstumas. Talvez seja por isso que eu veja nele um artista/espírita.
Vejamos essa outra exortação, quando responde a Paul Gsell, com respeito à arte dos insensíveis, que nada desejam conhecer além do que podem ver e descartar:
- "Mas hoje em dia a humanidade acredita que pode prescindir da arte. Os homens não querem mais meditar, contemplar, sonhar: querem ter apenas prazer físico. As verdades mais altas e profundas lhe são indiferentes: basta-lhes satisfazer seus apetites corporais. A humanidade de hoje é bestial: não sabe o que fazer com seus artistas".
Essa visão dos emergentes é tão cotidiana, quanto em sua época em Paris.
Hoje as pessoas não procuram mais os artistas pela sua qualidade profissional, mas pelo culto da sua fama transitória, sempre motivada pelas mídias.
Deixo mais esta resposta de Auguste Rodin, quando responde sobre a insensatez da sociedade sobre o belo e bom:
- A arte é também gosto. Em todos os objetos que um artista modela, ela é o reflexo do seu coração. É o sorriso da alma humana sobre a casa ou sobre o mobiliário... É o encanto do pensamento e do sentimento incorporado a tudo o que serve aos homens. Mas quantos entre nossos contemporâneos sentem a necessidade de morar ou mobiliar a casa com gosto? Antigamente, na velha França, a arte estava em tudo. Os mais humildes burgueses, até mesmo os camponeses, só faziam uso dos objetos bonitos de se ver. Suas cadeiras, mesas, panelas e jarros eram lindos. Hoje a arte está banida da vida cotidiana.
O que é útil – segundo se diz – não tem necessidade de ser belo. Tudo é feito e fabricado à pressa e sem graça por máquinas estúpidas. Ah! Meu caro Gsell, você quer anotar as divagações de um artista. Deixe-me olhá-lo: você é um homem verdadeiramente extraordinário!