
A loucura sempre esteve irremediavelmente associada à poesia e à arte. Não foram poucos os que atravessaram a ponte que liga o mundo real ao imaginário na busca de si mesmos, na tentativa de expressar um sentimento íntimo e ao mesmo tempo universal.
Assim, começava a matéria jornalística feita pela repórter Nayse López da Tribuna da Imprensa, no dia 2 de abril de 1992, quando, também, em Uberaba celebrava-se o aniversário do médium Francisco Cândido Xavier, que esteve no dia da inauguração do Hospital Psiquiátrico Pedro de Alcântara, no Rio Comprido, Rio de Janeiro. Na ocasião, o médium mineiro recebeu a mensagem psicografada do soneto ditado pelo patrono do hospital.
A data da reportagem é emblemática, porque marcou o divisor de águas na psiquiatria do HPPA, quando o médico Ricardo Krause e os poetas Cazé Pecini e Mano Mello passaram a desenvolver um tratamento nada ortodoxo, onde o jovem médico acreditava ser possível, através da terapia da palavra e do sentimento, revelar melhoras consideráveis e seguras de mulheres com transtornos mentais serem as protagonistas de uma revolução clínica a partir da poesia.
O médico Ricardo Krause e os poetas Cazé Pecini e Mano Mello fizeram da sala de repouso um espaço de intervenção poética e teatral, onde a vivência e a criatividade transformaram o ambiente sombrio e frio num ardente e aconchegante anfiteatro, com mulheres internas dispostas a experimentar a arte como benefício e satisfação física, mental e espiritual.
As respostas sobre as inquietações do tratamento nada convencional logo vieram à tona e ganharam as manchetes, impressionando pela simplicidade do exercício dramático e pela diminuição dos remédios. O médico Ricardo Krause explicava em meio à sua satisfação que as pessoas que sofrem de doenças mentais são mais sensíveis que as pessoas consideradas normais.
De lá para cá, o HPPA continua no seu labor dignificando um serviço de amor às portas dos seus setenta anos de atividades, acreditando ser possível o atendimento a 80 mulheres em suas necessidades emocionais e existências, com respeito e dignidade, procurando sempre humanizar o tratamento difícil e invisível aos olhos da sociedade.
Paulo Hobaica, atual presidente da Associação Espírita Obreiros do Bem, mantenedora do HPPA, explica com emoção à alegria de manter vivo um serviço de Saúde Mental há quase sete décadas, embora considerando as dificuldades no setor, mas ao mesmo tempo dizendo ser possível a cada dia renovar as esperanças graças à ajuda do Movimento Espírita, de alguns poucos empresários, do quadro de associados, de anônimos e da parceria do SUS (Sistema Único de Saúde).
O HPPA acredita ser possível alcançar novos rumos com a participação de todos, visto estar empenhado na reforma interna e externa, visando trazer novos serviços de atuação no setor, dando a todo corpo hospitalar, social e administrativo, as condições favoráveis para o serviço de excelência, com as pacientes e os seus familiares.
Baseados no livro A Loucura Sob Novo Prisma, de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcante, que trata do estudo de caráter psíquico-filosófico onde aprofunda a pesquisa espírita, comprovando o pensamento como função específica do espírito, sendo a loucura resultado, em alguns casos, da ação fluídica de espíritos desencarnados sobre o espírito encarnado, como também a Escola para Espíritos de Eurípedes Barsanulfo, entre outros colaboradores importantes do Espiritismo, bem como a equipe mediúnica da AEOB, ampliando suas atribuições espirituais, em conjunto com as atividades sócio-educativas em prol da saúde integral do ser.
Bezerra de Menezes afirma, a certa altura do livro: pelos meios espíritas, que nos dão a ciência da loucura por obsessão, é que podemos fazer, com segurança, o diagnóstico diferencial desta espécie, ainda desconhecida da Medicina, que a confunde com a loucura por lesão cerebral. E, uma vez feito aquele diagnóstico, cumpre aplicar-se à obsessão um tratamento especial, como é de lógica rigorosa. Esse tratamento é misto, isto é, moral e terapêutico, principalmente moral.
No princípio, enquanto os fluidos maléficos do obsessor não têm produzido lesão cerebral, deve-se procurar elevar os sentimentos do obsediado, incutindo-lhe na alma a paciência, a resignação e o perdão para seu perseguidor, e o desejo humilde de obtê-lo, se em outra existência foi ele o ofensor.
Essas considerações somente reforçam o trabalho espiritual da AEOB, que no dia a dia, procura oferecer o melhor para o bem-estar de todos.