
Esse título já é bem conhecido do público espírita que gosta de ler e se deliciar com esse gênero literário português, que se tem conhecimento desde o século XII.
De conceituação própria, diferenciando da Quadra e da Poesia de Cordel, e do Poema musicado da Idade Média, tinha o grande valor artístico e interesse da sociedade portuguesa e espanhola.
Francisco Cândido Xavier teve a tarefa mediúnica de transcrever algumas trovas de autores do outro mundo, possibilitando assim, maior intercâmbio entre as duas dimensões de vida.
Essa cultura trovadoresca teve igual importância no panorama histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero, tem agora uma nova mensagem, com valores do amor, da compreensão e da realidade sobre a vida eterna.
Se ontem a linguagem empregava os vigores pelas lutas e disputas, hoje, no entanto, encontramos a melodia suave da compreensão, da compaixão e dos afetos.
A Arte possui esse viés maravilhoso onde os seus autores utilizam a palavra, de acordo com as suas emoções e sentimentos, valorizando somente o que de melhor lhe couber no coração.
Para tanto, o Espírito Emmanuel, encarregado em prefaciar esse livro, nos diz, que a poesia é um idioma diferente dentro do idioma e a trova é uma poesia diferente, dentro da poesia.
A trova, como sabemos, diz o mentor espiritual: é o poema de quatro versos heptassílabo com rima e sentido completo. Já a Quadra é toda estrofe formada por quatro linhas de uma poesia.
Emmanuel diz ainda: que as quatro linhas de uma trova encerram um mundo de imagens vinculadas às fontes da emoção e da ideia que as produzem.
Isto nos permite considerar que, em poucas palavras, podemos alcançar um vasto mundo de imagens, que nos levará a reflexões diversas a cerca de um único assunto.
O Espiritismo, que veio colaborar com a imortalidade da alma, nos assegura que a vida no Além, abre novas perspectivas de interesse e trabalho artístico, movendo nossos passos na direção desses jogos florais, como fontes de elevada formação literária.
Aqui na Terra, temos à nossa disposição as mesmas oportunidades para desenvolvê-las, embora tenhamos ainda o acanhamento natural de projetar esse mundo mais além, pelos motivos do esquecimento ou da própria insegurança das percepções.
Os nossos artistas espíritas pouco se interessam por esse gênero literário, talvez por considerá-lo muito comum e ingênuo, penso eu.
Lembro-me, que na década de 70, ouvia nas reuniões públicas, tanto no início ou no término das explanações doutrinárias, uma bela trova como abertura ou complemento do argumento proposto, a indicar o caminho das pedras.
Hoje, a trova ficou esquecida em nossos arraiais, e quando um explanador erudito resolve dizer uma, o público fica pensando horas com “cara de paisagem”.
Viajando, certa vez pelo Nordeste, tivemos a oportunidade de ouvir inúmeras delas, o que nos causou alegria, porque além de aprender com lições rápidas, tivemos até a oportunidade de sorrir com alegria pela objetividade de seus autores.
É bom ressaltar que no Nordeste brasileiro, o Cordel, deixado pelos portugueses, é muito utilizado no seu dia a dia.
Nos centros espíritas, por exemplo, são utilizados como modelo pedagógico na compreensão doutrinária, na evangelização e no entretenimento dos eventos sociais.
Traçando ainda um paralelo com o prefácio de Emmanuel, podemos assegurar não ser diferente em outras extensões da vida espiritual, quando ele próprio ainda nos fala que os trovadores, que se despediram ontem da experiência terrestre, prosseguem hoje no Além, mais vivos e mais inspirados que nunca, oferecendo-nos gemas preciosas de pensamento, em sínteses de consolo e esperança, beleza e ensinamento, paz e luz.
A Arte do trovadorismo é tão recente quanto atual e pode ilustrar melhor os nossos verdadeiros objetivos de progresso, a partir da palavra cantada ou recitada, demonstrando suas sutilezas e ações criativas, que, certamente, hão de produzir e renovar nossas esperanças em prol de uma sensibilidade harmoniosa, moral e elevada.
O tempo não volta atrás,
Dia passado correu;
Tempo é aquilo que se faz
Do tempo que Deus nos deu.
(Leonel Coelho)