
No livro O Consolador, Emmanuel relata que o artista verdadeiro é sempre o médium das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráveis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.
Há uma história que representa muito bem o valor dessa beleza divina, desse sentimento humano que, às vezes, faz a gente ir mais além e produzir algo maior que eterniza a bondade do Criador às suas criaturas:
Quem de nós não teve um momento de extremada dor?
Quem nunca sentiu, em algum momento da vida, vontade de desistir?
Quem ainda não se sentiu só, extremamente só, e teve a sensação de ter perdido o endereço da esperança?
Nem mesmo as pessoas famosas, ricas, importantes, estão isentas de ter seus momentos de solidão e profunda amargura.
Foi o que ocorreu com um dos mais reconhecidos compositores de todos os tempos, chamado Ludwig Van Beethoven, que nasceu no ano de 1770 em Bonn, Alemanha, e faleceu em 1827, em Viena, na Áustria.
Beethoven vivia um desses dias tristes, sem brilho e sem luz. Estava muito abatido pelo falecimento de um príncipe da Alemanha que era como um pai para ele.
O jovem compositor sofria de grande carência afetiva. O pai era um alcoólatra contumaz e o agredia fisicamente. Faleceu na rua, por causa do alcoolismo. Sua mãe morreu muito jovem. Seu irmão biológico nunca o ajudou em nada e, além disso, cobrava-lhe aluguel da casa onde morava. A tudo isto, soma-se o fato de sua doença agravar-se. Sintomas de surdez começavam a perturbá-lo, ao ponto de deixá-lo nervoso e irritado. Beethoven somente podia escutar usando uma espécie de trombone acústico no ouvido, o que seria para nós, hoje, um tipo de aparelho auditivo.
Ele carregava sempre consigo uma tábua ou um caderno para que as pessoas escrevessem suas ideias e pudessem se comunicar, mas elas não tinham paciência para isto, nem para ler seus lábios. Notando que ninguém o entendia nem o queriam ajudar, Ludwig se retraiu e se isolou. Por isso conquistou a fama de misantropo.
Foi por todas essas razões que o compositor caiu em profunda depressão. Chegou a redigir um testamento dizendo que ia se suicidar.
Mas como nenhum filho de Deus está esquecido, veio a ajuda espiritual através de uma moça cega, que lhe fala quase gritando. Ela morava na mesma pensão pobre para onde Beethoven havia se mudado, e daria tudo para enxergar uma noite de luar.
Ao ouvir Beethoven ela se emocionou até as lágrimas. Afinal, ele podia ver! Ele podia escrever sua arte nas pautas. A vontade de viver voltou-lhe renovada e ele compôs uma das músicas mais belas da humanidade: Sonata ao Luar.
No seu tema, a melodia imita os passos vagarosos de algumas pessoas. Possivelmente os dele e os dos outros que levavam o caixão mortuário do príncipe, seu protetor.
Olhando para o céu prateado de luar e lembrando da moça cega, como a perguntar o porquê da morte daquele mecenas tão querido, ele se deixou mergulhar num momento de profunda meditação transcendental.
Alguns estudiosos de música dizem que as três notas que se repetem insistentemente no tema principal do 1º movimento da Sonata, são as três sílabas da palavra por quê? Ou outra palavra sinônima, em alemão.
Anos depois de ter superado o sofrimento, viria o incomparável Hino à Alegria, da 9ª sinfonia, que coroa a missão desse notável compositor, já totalmente surdo. Hino à Alegria: expressa a sua gratidão à vida e a Deus por não haver se suicidado.
Tudo graças àquela moça cega que lhe inspirou o desejo de traduzir, em notas musicais, uma noite de luar. Usando sua sensibilidade Beethoven retratou, através da melodia, a beleza de uma noite banhada pelas claridades da lua, para alguém que não podia ver com os olhos físicos.
Através dessa narrativa, podemos dizer que o verdadeiro artista é sempre o médium das belezas eternas, conforte afirma o espírito Emmanuel.
A Arte Espírita possui a sutileza da simplicidade que a faz mais magnífica diante de quaisquer circunstâncias. Ela é a essência da bondade divina espalhada por todo o Universo, onde podemos vivenciar os mais belos espetáculos todos os dias e contribuir de acordo com o nosso progresso espiritual.