
Allan Kardec disse, em A Gênese, “que a ciência ainda não possui condições de explicar a origem da vida, mas que se pode encaminhar soluções”. Até o momento não temos as soluções definitivas para a origem da vida, mas já possuímos algumas aquisições científicas que nos permitem uma melhor visualização da questão.
O cuidado de Kardec constitui sempre uma tônica vibrante ante as análises dos temas que foram surgindo em sua época. Quando não existia um fato científico comprovado, apreciava-o sob forma de hipótese. Jamais afirmou algum fato que não tivesse a chamada chancela científica, por mais que fosse atraente e plausível determinado evento.
Isso ocorre em toda obra kardequiana, não se encontra qualquer afirmativa que se mostre descabida e mesmo incompreensível, apesar do tempo decorrido. Os assuntos científicos de sua época sempre foram apreciados com bastante senso de responsabilidade e respeito à verdade. Analisava-os com sobriedade e cuidadoso toque que a sua inteligência e extensa cultura propiciavam, de modo a causar, em nossos dias, com 155 anos de espaço, uma atuante presença.
Em A Gênsese, seu último livro, editado em 1868, ainda podemos anotar questões científicas consideradas, por alguns leitores aligeirados, como ultrapassados. E o ponto mais crucial, nessas questões, refere-se à Geração Espontânea, abordada no capítulo X do referido livro.
Nesse capítulo, Kardec jamais asseverou que a geração espontânea era uma verdade comprovada. Assim escreveu:
“No estado atual dos nossos conhecimentos, não podemos estabelecer a teoria da geração espontânea permanente, senão como hipótese, mas como hipótese provável e que um dia, talvez, tome lugar entre as verdades científicas incontestes.”
O aparecimento da matéria com seus elementos químicos perfeitamente organizados seria consequência da concentração de forças dinâmicas que obedeciam a uma Ordem, a uma Lei.
Os corpos mais velhos da série química, do urânio ao laurêncio, tendem, pela radioatividade, que é maturidade de substância neste setor dimensional, a ceder seus elétrons ao mundo dinâmico das energias, estabelecendo um ciclo que, num oportuno momento, se abrirá em vórtices maiores; isto é, quando o mundo dinâmico das energias alcançar grau avançado de maturação não teria necessidade de novas transformações em matéria por condensação, e sim daria nascimento às forças iniciais de consciência, em sua dimensão apropriada, como resposta evolutiva.
Por tudo, existiria um ciclo cadenciado de materialização e consequente desmaterialização da Substância Universal (fluido universal de Kardec) trafegando em suas próprias dimensões.
As energias originárias da matéria pela radioatividade obedecem a uma escala relacionada em vibração e comprimento de onda. Os vórtices eletrônicos fechados, característicos da matéria, abrem-se tomando nova direção, penetrando outra dimensão (saindo da dimensão-volume e penetrando na dimensão-tempo), onde novos ritmos dinâmicos se organizam.
A energia inicial que nasce pela irradiação da matéria maturada possui alta vibração e mínimo comprimento de onda – energia de gravitação, imediatamente transformada em Raios X, isto é, radioatividade, e por evolução e sucessivas transformações percorre todo o restante da escala dinâmica: radiações químicas, luz, calor, eletricidade e som. No som, o dinamismo já se apresenta com 10.000 vibrações por segundo e comprimento de onda com metragem bastante extensa, embora já se apresente como um fenômeno físico.
A geração espontânea foi a única saída científica, na época, que Kardec pode arrecadar nos conhecimentos em voga, a fim de explicar a inexplicável aparição da vida microscópica; mesmo assim, no seu bom-senso, não fez qualquer afirmativa. Apenas acenou como possibilidade, cabendo à ciência futura a sua comprovação ou não.
Apesar de tudo, não devemos dar qualquer espaço ao conceito sobre geração espontânea, tal qual hoje a entendemos, simplesmente por não existir tal fato como verdade científica, mas, de incontestável valor histórico, por ter nutrido uma época ainda obscura e despertado novas aquisições para o conhecimento humano.
São essas diatribes científicas que convidam o homem a observar e analisar, nos horizontes da ciência, as luzes de que tanto necessita e se nutre. Que dirá a geração futura do Terceiro Milênio sobre as considerações científicas que hoje estamos vislumbrando?