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Sobre o autor

Dirceu Machado

Dirceu Machado

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A infância e primeiros estudos

Gabriel Delanne nasceu em 1857, ano da publicação de “O Livro dos Espíritos”. Era filho de Alexandre Delanne e de Marie Alexandrine Didelot. Seu pai exercia a profissão de representante comercial e exerceu, juntamente com a Sra. Delanne, uma importância muito grande na introdução de seu filho Gabriel ao espiritismo. Os biógrafos de Gabriel Delanne contam que seu pai ao ouvir uma conversa entre dois homens sobre a doutrina espírita não concordou com os argumentos do que defendia os conceitos espíritas e este, então, lhe recomendou lesse os livros publicados por Kardec. Incentivado por sua esposa, Alexandre Delanne adquiriu os livros e passou a estudá-los com afinco. Quando já tinha lido "O Livro dos Espíritos" e "O Livro dos Médiuns", conseguiu juntamente com sua esposa, marcar uma reunião com Allan Kardec onde, além das orientações recebidas, ficou estabelecida a fundação de um grupo de estudos em sua casa.

O grupo, em pouco tempo, obteve comunicações e fenômenos dos mais variados. Um episódio que Delanne pai trouxe a público posteriormente foi a comunicação do Cardeal Lambrusquini, obtida através da Senhora Potet, redigida em idioma Piemontês, desconhecido dos membros do grupo e reconhecido por dois visitantes. No dia seguinte a Senhora Delanne serviria de intermediária entre os visitantes e os espíritos comunicantes. O cardeal respondeu a perguntas formuladas mentalmente pelos compatriotas, registradas em um pedaço de papel para que se pudesse apurar o conteúdo das comunicações. Assim viveu Gabriel Delanne sua infância e juventude em contato direto com as faculdades mediúnicas de sua própria mãe e dos médiuns que frequentavam sua casa.

Ele iniciou seus estudos no Colégio de Cluny, passando a seguir para o Colégio de Gray e sendo admitido, em 1876 na Escola Central de Artes e Manufaturas, que abandonou no ano seguinte, possivelmente devido à situação financeira de sua família.

 

Atividades profissionais

Foi admitido como engenheiro na Companhia de Ar Comprimido e Eletricidade Popp, onde trabalhou até 1892. Possivelmente se deve a este emprego o fato de alguns autores se referirem a Gabriel Delanne como engenheiro. Posteriormente Delanne trabalharia alguns anos como representante comercial, até 1896. Após esta data ele dedicou-se integralmente ao Espiritismo.

Delanne possuía problemas de saúde que foram agravados com o tempo. Na infância ele ficaria cego de um olho em decorrência de um abcesso. Por volta de 1890 sua ataxia já se fazia notada no andar e o agravamento da doença de base o faria, a partir de 1906, andar com duas muletas.

Ele mantinha um imenso respeito e amizade com os membros de sua família, tanto assim que quando escreveu o livro "A Evolução Anímica" fez questão de dedicá-lo a sua tia Anette Delanne nos seguintes termos: “como prova de reconhecimento da ternura que povoou a minha infância". Também prestou uma homenagem póstuma a Kardec dedicando-lhe o livro "O Fenômeno Espírita" nos seguintes termos: "À alma imortal de meu venerando mestre Allan Kardec eu dedico este livro, obra de um de seus mais obscuros mas de seus mais sinceros admiradores."

Delanne não se casou durante sua vida, embora houvesse mantido estreito contato com sua família. Em 1905 ele adotou a menina Suzanne Rabotin, com sete meses, que lhe fez companhia até a morte.

Delanne e o Movimento Espírita

Em 1880, durante as homenagens a Kardec, Delanne fez um discurso no túmulo do Codificador, em Père Lachaise, onde expôs, entre outras idéias, a posição de que Allan Kardec não viera trazer nenhum culto, mas sim que ele adotara a moral cristã e que havia ainda um campo inexplorado para estudos, que são as relações entre o mundo dos espíritos e o nosso.

Em 1882, participou da criação da União Espírita Francesa mantendo sempre a idéia de que Ciência e Espiritismo não são incompatíveis. Em certa ocasião, recebeu da Sra. Elisabeth D´Esperance, famosa médium e respeitada até os dias de hoje, a importância de 5000 francos para editar um jornal espírita. Surge, então, o periódico bimestral "Le Spiritisme" onde Delanne assume o encargo de redator geral. O primeiro volume foi publicado no mês de Março de 1882. Lantier afirma que Delanne era um redator criterioso e rejeitava artigos dos amigos que não apresentassem os rigores exigidos pela ciência.

Em 1883, Delanne se vê envolvido com um debate público com Guérin, onde o tema central é a encarnação de Jesus Cristo. A posição de Delanne é a de que Jesus não possuía nenhuma natureza especial, embora tivesse notáveis inteligência e evolução.

Delanne - Escritor

Seu primeiro livro foi publicado em 1885 com o título "O Espiritismo perante a Ciência". Dividido em cinco partes, trata inicialmente das diversas teorias relacionadas à existência da alma, da história e teoria do magnetismo, sonambulismo e hipnotismo, dos experimentos que provam a imortalidade da alma, do perispírito, provas de sua existência, sua composição e seu papel na desencarnação, concluindo com uma parte que trata da mediunidade. A edição brasileira deste livro foi traduzida por Carlos Imbassahy e revista por Lauro S. Thiago para a segunda edição de 1993.

Também em 1885 foi eleito vice-presidente da União Espírita Francesa, e nos cinco anos que se seguiram proferiu inúmeras conferências na França e no exterior.

Em 1896 Delanne publica seu segundo livro "O Fenômeno Espírita", que é uma espécie de curso introdutório ao Espiritismo. O livro apresenta a comunicação com os mortos desde a antiguidade até os dias de então. Trata do desenvolvimento do "new spiritualism" anglo-americano desde as irmãs Fox, até o trabalho de Kardec e as pesquisas alemãs de Justinus Kerner. Sua tradução para o Português foi realizada por Ewerton Quadros e publicada pela FEB.

Ainda em 1896 uma nova revista seria fundada com o suporte financeiro de Jean Meyer: a Revista Científica e Moral do Espiritismo, cuja publicação foi interrompida em 1914 por motivo da I Guerra Mundial tendo retornado em 1918 ao final da Guerra.

Em 1897 Delanne publica "A Evolução Anímica" com tradução para o Português por Manuel Quintão. Esta obra é uma análise comparativa dos postulados espíritas frente à Psicologia Fisiológica da época.

Em 1898 publica seu quarto livro, cujo título poderia ser traduzido como "Pesquisas

 

Sobre a Mediunidade".

Neste mesmo ano, Delanne prefaciou o livro "Katie King: histoire de ses aparitions".

Em 1899 Delanne publicou "A Alma é Imortal", quinto livro consecutivo em cinco anos de trabalhos. Nele se trata da imortalidade da alma, do perispírito, do desdobramento    do ser humano, do corpo fluídico após a morte, as experiências de De Rochas sobre a exteriorização da sensibilidade, as fotografias de espíritos desencarnados, as criações fluídicas da vontade, e as teorias científicas do tempo, espaço, conservação da energia e ponderabilidade. Este livro foi traduzido para o português por Guillon Ribeiro.

Em 1892 desencarnou seu irmão, Ernesto; em 1894 sua mãe e em 1901 seu pai, Alexandre Delanne, amigo e companheiro de trabalhos no meio espírita.

Delanne participou da comissão de organização do Congresso Espírita e Espiritualista de 1900 onde fez a conferência de abertura.

Auxiliou o professor Richet (prêmio Nobel de medicina) em suas pesquisas com a médium Marthe Béraud na casa do general Noël em Alger. O episódio passou à história com o nome de "o fantasma de Bien Boa".

Após um intervalo de quase dez anos Delanne traz a público a obra que todos os seus biógrafos consideram sua obra prima. Em língua portuguesa ela poderia ser traduzida por "As Aparições Materializadas dos Vivos e dos Mortos". Seu primeiro volume foi publicado em 1909 e seu segundo volume em 1911.

O "canto do cisne" do pesquisador dos espíritos foi ditado em 1924 e parece ter tido publicação póstuma em 1927, pois sua desencarnação se deu em 1926, um ano depois da desencarnação da prima que lhe auxiliava com a doença que praticamente lhe impedia de andar. O título da obra foi traduzida para o Português por Carlos Imbassahy como"A

 

Reencarnação".

Certamente, o espírita que tiver estudado a obra deste gigante do pensamento espiritista terá uma visão bastante sólida quanto aos espíritos e a mediunidade. Convicção embasada em fatos e em reflexão. Convicção filosófico-científica. Assim é que Gabriel Delanne é mais um exemplo de que Ciência e Espiritualidade podem caminhar juntas.

O presente artigo se baseou no trabalho do GEAE - Grupo de Estudos Avançados Espíritas, que por sua vez se baseou na biografia de Delanne publicada por vários autores, dos quais citamos:

  • BODIER, Paul, REGNAULT, Henri. Gabriel Delanne: vida e obra. Rio de Janeiro: CELD, 1990.
  • DUMAS, André. História do Espiritismo. in: História do ocultismo Porto: Nova Crítica, 1980
  • LANTIER, Jacques. O Espiritismo. Lisboa: Edições 70, 1971. p. 74-83.
  • MIRANDA, Hermínio. Diversidade dos carismas. Niterói: Arte e Cultura, 1991.
  • WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec (vol. III). Rio de Janeiro: FEB, 1980. p. 120-122, 314-316, 373-379
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