Infância e juventude
Nicolas Camille Flammarion nasceu em Montigny- Le-Roy, França, no dia 26 de fevereiro de 1842, e desencarnou em Juvisy no mesmo país, a 03 de junho de 1925. Era o mais velho de uma família de quatro filhos.
Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de gramática e aritmética.
Tornou- se o primeiro aluno da escola onde frequentava. Para que seguisse a carreira eclesiástica, puseram-no para aprender latim com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento, a Oratória e interessou-se pelas maravilhas do firmamento celeste, pois Lassale lhe falava muito sobre a beleza da ciência e a grandeza da Astronomia. Etienne Jules, pai de Flammarion, presenteou-lhe certa vez com um livro de Cosmografia que explicava os sistemas de Ptolomeu, Copérnico e Tycho-Brahe. Este livro ajudou-lhe muito em seus estudos.
Após uma epidemia de cólera, seus pais passaram por dificuldades financeiras e foram obrigados a entregar suas economias aos credores, mudando-se para Paris. Flammarion contava, então, com quatorze anos de idade.
Para se manter, trabalhou como auxiliar de gravador, recebendo como pagamento casa e comida. Comia pouco e mal, dormia numa cama dura, sem o menor conforto. O trabalho era áspero e o patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez. Apesar de todo esse esforço, pretendia completar seus estudos, principalmente a matemática, a língua inglesa e o latim.
Ingressou na Associação Politécnica de Paris onde tinha a possibilidade de frequentar cursos gratuitos. Queria obter o bacharelado e por isso muito se sacrificava estudando sozinho à noite, trabalhando de 15 a 16 horas por dia. Ingressou na Escola de Desenho dos Monges da Igreja de São Roque, a qual frequentava todas as quintas-feiras. Na Escola dos Monges, Flammarion decidiu fundar a Academia da Juventude, com apenas 16 anos, proferindo a palestra de abertura sobre As Maravilhas da Natureza.
Primeiras publicações
A primeira obra que escreveu foi "O Mundo antes da Aparição dos Homens", o que fez quando tinha apenas 16 anos de idade. Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia Universal", um livro de quinhentas páginas.
Um domingo, desmaiou no decorrer da missa, devido a má alimentação, excesso de estudo e trabalho em exagero.
O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua cabeceira estava um manuscrito do livro "Cosmogonia Universal". Após ver a obra, achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu-lhe, então, colocá-lo no Observatório de Paris como aluno de Astronomia. Entrando para o Observatório, do qual era diretor Le Vèrrier, muito sofreu com as impertinências e perseguições desse diretor, que não podia conceber a ideia de um rapazola acompanhá-lo em estudos de ordem tão transcendental.
Em 1862, saiu do Observatório de Paris, tendo ficado com mais liberdade para os seus estudos. Neste mesmo ano publicou a sua obra "Pluralidade dos Mundos Habitados", atraindo a atenção de todo o mundo estudioso.
Outras publicações e reconhecimento
Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas. Em 1870 escreveu e publicou um tratado sobre a rotação dos corpos celestes, através do qual demonstrou que o movimento de rotação dos planetas é uma aplicação da gravidade às suas densidades respectivas.
Em 1878, publicou um catálogo de estrelas duplas visuais que foi, por muitos anos, considerado o melhor do mundo.
Pela publicação de sua "Astronomia Popular", recebeu da Academia Francesa, no ano de 1880, o Prêmio Montyon, que foi traduzido para as línguas mais faladas.
Em 1882 funda a revista L´Astronomie que é editada até hoje e que provocaria o surgimento do Boletim Astronômico do Observatório de Paris.
Seus livros repletos de ciência, filosofia e poesia granjearam a admiração em todo o mundo.
Observatório de Juvisy
É nesta época que recebe de um septuagenário de Bordeaux, a doação de uma imensa propriedade onde, após dois anos de obras, instala o seu Observatório de Juvisy. Este observatório foi fundado por Flammarion em 1883, onde passou a realizar seus trabalhos nas áreas de astronomia, climatologia e meteorologia.
Em 28 de janeiro de 1887 reúne em sua residência vários astrônomos, amigos da ciência e colaboradores para criar a Sociedade Astronômica da França com o objetivo de "difundir as Ciências do Universo e fazer os amadores participarem do seu progresso", que continua vigente até os dias de hoje.
D. Pedro II é um dos primeiros membros fundadores (nº 85), bem como o "Pai da Aviação" e astrônomo amador, Alberto Santos Dumont. Milhares de astrônomos profissionais e amadores de todo o mundo, voltados aos mesmos ideais de contemplar, observar e estudar o céu, fazem parte da Sociedade.
Em 1896, descobriu o chamado "Ciclo de Flammarion", período de 54 anos no qual os eclipses do Sol se repetem nas mesmas regiões da Terra.
Camille Flammarion e o espiritismo
Certo dia, em novembro de 1861, passando pelo teatro Odéon, deteve-se nas galerias desse teatro para folhear as publicações em evidência. Abrindo uma delas, seus olhos incidiram sobre uma página que ostentava o título "Pluralidade dos Mundos". "Ora, precisamente nessa época" - escreve Flammarion - "eu trabalhava numa obra referente a tal assunto, que seria lançada no ano seguinte". A publicação por ele aberta era "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec. O que mais o intrigou é que a origem das informações não era de cientistas mas sim, atribuída a espíritos, o que ele resolveu verificar.
Refeito da surpresa, levou o volume e leu-o com redobrado interesse, característica de sua imensa sede de conhecimento.
Procurou conhecer o autor, Allan Kardec, e passou a assistir às reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, onde exercitava-se semanalmente na "escrita automática". Pouco tempo depois o mestre o convidou a ingressar na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como "Membro Associado Livre". Flammarion declara, sem esconder sua justa satisfação, que o respectivo documento de inscrição, datado de 15 de novembro de 1861, fora assinado pelo próprio presidente, Allan Kardec.
Tornou-se amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à beira do túmulo do Codificador do Espiritismo, a quem denominou "O Bom Senso Encarnado".
Principais obras
Suas obras podem se divididas em duas categorias: as de cunho científico e as de cunho espírita, ainda que, de uma forma geral, todas girem em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados.
Seus livros científicos são: Pluralidade dos Mundos Habitados (1861), Viagem extática às regiões lunares, Os mundos imaginários e os mundos reais (l865), As maravilhas celestes (obra popular de divulgação da astronomia), Estudos e leituras sobre astronomia (1867), Viagens aéreas (1867), Galerie Astronomique (1867), Contemplações científícas (coletânea de escritos publicados nas revistas Siecle, Magasín Pittoresque e Cosmos - 1870), A atmosfera (1871), Astronomia Popular (1880), O mundo antes da criação do homem (1885), Os cometas, as estrelas e os planetas (1886), Astronomia para amadores (1904) e Raio e trovão (1906), Descrição Geral do Céu, Narrações do Infinito, O Fim do Mundo.
Seus livros espíritas são: Os Espíritos e o Espiritismo (1860), Fontenelle e os Espíritos Batedores (1864), Lúmen - relato Extraterrestre (1867), Deus na Natureza. (1867), O Homem antes da História - Ancianidade da Raça Humana(1867), O Espiritismo e a Ciência(1869), As Casas Mal-Assombradas, Sonhos Estelares, Urânia, Estela, O Desconhecido, A Morte e seus Mistérios, Problemas Psíquicos, e outras.
Carlos Imbassahy (1951, p. 111-112) considera que Flammarion eleva a ciência a uma posição ímpar, procurando com seus métodos equacionar as questões do espírito. Diz ele:
"Ora, Flammarion é um simples cientista, que só no último quartel de suas experiências admitiu a comunicabilidade dos mortos. Não se trata, nunca se tratou, de um doutrinador. A Ciência para ele era tudo. A certeza de que o fenômeno psíquico era devido à alma dos defuntos custou-lhe uma existência de trabalhos, de lutas, de verdadeira violência às suas antigas convicções. (...) Não se lhe podia pedir muito, nem pedir mais."
Segundo Gabriel Delanne, Camille Flammarion foi um filósofo enxertado em sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion -"poeta dos Céus", como o denominava Michelet - tornou-se baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e inovador.
Camille Flammarion, explorador e revelador dos céus, popularizou a Astronomia em todo o mundo e é mais um exemplo de que Ciência e Espiritualidade podem caminhar juntas.