Os primeiros anos
William Crookes nasceu em Londres, Inglaterra, no dia 17 de junho de 1832. Era o primeiro filho de Joseph Crookes, com a sua segunda esposa, Mary Scott. Joseph Crookes era um alfaiate vindo do norte do país. William Crookes iniciou sua instrução em uma escola de ensino médio em Chippenham, Wiltshire, Inglaterra. Sua carreira científica, entretanto, só começou quando, aos quinze anos, ingressou no Royal College of Chemistry (Faculdade Real de Química) na Praça Hanover, em Londres, sob a orientação de August Wilhelm von Hofmann.
De 1850 a 1854 foi professor assistente no Royal College of Chemistry onde realizou um trabalho original com certos compostos chamados as seleniocianidas do elemento selênio. Seus primeiros artigos científicos publicados em 1851 foram , justamente, sobre este assunto. Em 1855, foi designado conferencista em Química na faculdade de Chester. Em 1856 desposou Ellen, filha de William Humphrey, de Darlington, com a qual teve três filhos e uma filha. Em 1859 fundou a Chemical News (Notícias de Química), uma revista científica que foi editada, por muitos anos, de modo bem menos formal do que as revistas das sociedades científicas à época. O trabalho de Crookes se estendeu tanto nas áreas da Química quanto da Física. Sua característica marcante foi a originalidade de concepção dos seus experimentos e o talento da sua execução.
Primeiras Descobertas
Em 1861, descobriu um elemento que tinha uma linha de emissão verde brilhante no seu espectro, ao qual deu o nome de Tálio, do grego thalos (um broto verde), que é o elemento químico de número atómico 81. Foi o inventor do radiômetro de Crookes, vendido ainda como uma novidade. Desenvolveu uma pesquisa bastante eficiente sobre os raios catódicos, dando origem aos conhecidos tubos de Crookes. Em 1863 foi nomeado membro da British Royal Society.
Após persistentes estudos em torno do espectro solar, descobriu, em 1872, a aparente ação repulsiva dos raios luminosos, o que o levou à construção, em 1874, do Radiômetro de Crookes. Em 1873, ele determinou o peso atômico do novo elemento Tálio, em uma pesquisa que é ainda hoje um modelo de precisão analítica
Em 1875 descobriu um novo tratamento para o ouro.
Carreira gloriosa
Por muitos anos, Crookes conduziu laboriosos experimentos de separação dos elementos de “terras raras”, utilizando métodos especiais de separação devido à grande semelhança entre as propriedades químicas dos mesmos. Ao longo de seu trabalho, utilizou métodos de espectroscopia para seguir o curso e testar a integralidade da separação entre um elemento e outro. O que tinha sido uma das regiões mais obscuras da química inorgânica aos poucos se tornou mais claro.
Em 1895 identificou a primeira amostra conhecida do gas hélio.
Suas pesquisas sobre a passagem de descargas elétricas através de gases rarefeitos foram de importância significativa pois descobriu que, à medida que se aumentava a atenuação do gás, o espaço escuro em torno do eletrodo negativo aumentava, enquanto os raios, hoje conhecidos como raios catódicos, procediam do eletrodo. Ele investigou as propriedades destes raios, mostrando que eles se propagam em linhas retas, causando fosforescência nos objetos sobre os quais são aplicados e produzindo grande quantidade de calor no impacto. William Crookes voltou sua atenção para o recém descoberto fenômeno da radioatividade e, em 1900, conseguiu separar o Urânio de seu produto de transformação ativo, o "Urânio-X".
Homenagens recebidas
Foram-lhe outorgadas várias medalhas pelas relevantes descobertas no campo da física e da química. Entre essas homenagens é de se destacar o título de “Cavaleiro do Reino” – “Sir”- concedido pela Rainha Vitória da Inglaterra em 1897, Em 1910, recebeu a "Order of Merit" (Ordem do Mérito) do Rei Eduardo VII. Por várias vezes foi presidente da Chemical Society (Sociedade de Química), da Institution of Electrical Engineers (Instituição dos Engenheiros Eletricistas), da Society of Chemical Industry (Sociedade da Indústria Química), da British Association (Associação Britânica) e, de 1913 a 1915, da British Royal Society, onde há um retrato seu pintado por E. A. Walton (há outro na National Portrait Gallery, por P. Ludovici NPG 1846).
Pesquisas Espíritas
Em 1870 Crookes decidiu que a ciência tinha a obrigação de estudar os fenômenos associados ao Espiritismo. A julgar por cartas de família, Crookes já tinha uma visão favorável ao Espiritismo desde 1860. No entanto, ele estava determinado a conduzir sua investigação de forma imparcial e descreveu as condições que ele impunha aos médiuns da seguinte forma: "Deve ser na minha própria casa e com minha própria seleção de amigos e espectadores, sob minhas próprias condições e podendo eu fazer o que achar melhor quanto a dispositivos". Entre os médiuns que ele estudou estavam Kate Fox, Florence Cook, e Daniel Dunglas Home (Doyle, 1926).
Os fenômenos que ele testemunhou incluíram movimento de corpos a distância, tiptologia, alteração de peso dos corpos, levitação, aparência de objetos luminosos, aparência de figuras fantasmagóricas, aparência de escrita sem intervenção humana e circunstâncias que "sugerem a atuação de uma inteligência externa" (Crookes, 1874).
O relatório de Crookes sobre suas pesquisas, em 1874, concluiu que esses fenômenos não podiam ser explicados como prestidigitação e que pesquisa adicional seria útil. Crookes não estava só nessa opinião. Companheiros cientistas que passaram a confirmar a veracidade da comunicação de espíritos incluiam Alfred Russel Wallace, Oliver Joseph Lodge, Lord Rayleigh, e William James (Doyle, 1926). No entanto, como a maioria dos cientistas, à época, tinha a opinião pré-concebida de que os fenômenos de efeitos físicos eram fraudulentos, o relatório final de Crookes não foi bem aceito. Falou-se até na possibilidade de cancelar sua filiação à Royal Society (Sociedade Real)". Crookes tornou-se mais cauteloso a partir de então e não mais discutiu seu ponto de vista em público até 1898, quando sentiu que sua posição estava segura. Foi nesse ano, em seu dicurso de posse na presidência da British Association for the Advacement of Science (Associação Britânica pelo Avanço da Ciência), que afirmou:
"Já se passaram trinta anos desde que publiquei um relatório dos experimentos tendentes a mostrar que fora de nosso conhecimento científico existe uma Força utilizada por inteligências que diferem da comum inteligência dos mortais ... Nada tenho a me retratar. Confirmo minhas declarações já publicadas. Na verdade, muito teria que acrescentar a isto". (Crookes, 1898).
E numa entrevista na The International Psychic Gazette, em 1917, ele repetiu:
"Nunca tive jamais qualquer ocasião para modificar minhas ideias a respeito. Estou perfeitamente satisfeito com o que eu disse nos primeiros dias. É absolutamente verdadeiro que uma conexão foi estabelecida entre este mundo e o outro". (Fodor, N. - Encyclopaedia of Psychic Science, U.S.A.: University Books, 1974, p.70).
Daquela data até à de sua morte, em 1919, cartas e entrevistas mostram que Crookes manteve suas considerações em relação à comunicação de espíritos.
William Crooks, cientista, físico, químico, glória da Coroa Britânica, é mais um exemplo de que Ciência e Espiritualidade podem caminhar juntas.
Fontes
1: William Crookes, 1874 - "Researches in the phenomena of the spiritualism" – (Fatos Espíritas) - tradução de Oscar D'Argonnel, publicação da Federação Espírita Brasileira.
2: Conan Doyle, 1926 – “The History of Spiritualis” – (História do Espiritismo) tradução de Júlio Abreu Filho, publicação da Editora Pensamento. O prefácio da versão em português é de José Herculano Pires.
3: ABC do Espiritismo, de Victor Ribas Carneiro
4:Personagens do Espiritismo, de Antonio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy.