A PRECE
Sob o guante da treva, o Homem gemia:
- Senhor, a carne é a minha sepultura!
Por que a jornada tormentosa e escura
Em que sofro o rigor da ventania?
Padeço, errante, a imensa noite fria
De aflição, desconforto e desventura...
Alivia-me as chagas de amargura,
Socorrendo-me a senda de agonia!...
Respondeu-lhe o Senhor: - Espera e ama!
Receberás do Céu Sublime Chama
Para a angústia revel que te domina!
E deu-lhe a Prece por brilhante estrela.
Desde então, o Homem, forte e calmo, ao tê-la,
Seguiu da sombra para a Luz Divina.
Chico Xavier - Livro - Estrelas no Chão
DESILUSÃO
Quem sou eu? Quem sou eu? No abismo escuro
Do meu atribulado pensamento
Sinto ainda as áscuas do pavor violento
Em que andei como nau sem palinuro!
E... ouço uma voz: "Tu és verme obscuro
Vitimado no grande desalento,
Que procurou a mágoa e o sofrimento
Sem caridade, o amor sagrado e puro".
Ó promessas do "nada" inexistente!...
A morte abriu-me as portas do presente
Amargo e interminável pela dor;
Infeliz do meu ser fraco e abatido,
Pois o anseio de nada, paz e olvido,
Foi apenas um sonho enganador!
LIRA IMORTAL - Francisco Cândido Xavier
FRÁGIL REI
Disse a Vaidade ao Homem: - "Não te dobres!
Reges a Terra e a vastidão divina..."
E o Orgulho ajuntou: - "Vence e domina,
Humilhando os mais fracos e mais pobres."
Disse o Egoísmo: - "A paz com que te encobres
Provém da bolsa que não desatina.
Cerra teu cofre e esquece a vã doutrina
Que elege os bons e os tolos por mais nobres".
O Homem riu-se e reinou... Mas, veio um dia
Em que a dor invisível, muda e fria,
Mirou-lhe as torres do castelo forte...
E o frágil rei, fugindo ao falso gozo,
Desceu triste, cansado e desditoso
Para o vale de lágrimas da Morte.
(Francisco Cândido Xavier por Espíritos Diversos. in: Nosso Livro)
DETERMINISMO
Nas estradas do mundo, no infinito,
Nas incontáveis eras milenárias,
Na aluvião de idéias multifárias,
O homem é o mesmo ser errante e aflito...
E ouve-se, a todo o tempo, o estranho grito
De heroísmo das almas solitárias,
Guias de luz dos miseráveis párias,
Saturadas de amor puro e bendito.
Mas segredos eternos e divinos
Pesam sobre a balança dos destinos,
Subjugando o mundo descontente.
E a humanidade, ansiosa de bonança,
No mistério do sonho e da esperança.
Conquista o céu, lutando eternamente.
LIRA IMORTAL - Francisco Cândido Xavier
MORTOS? NÃO
Nós não somos os mortos condenados
Aos sepulcros de treva e cinzas frias,
Tristes evocações das agonias,
Sob os dobres dos sinos de finados...
Não estamos nas lápides sombrias
Dos cemitérios ermos e isolados,
Somos somente amigos apartados
Pelo... espaço das horas fugidias.
Crede que a luta é a nossa eterna herança,
Com a qual marchamos plenos da esperança
Que une os mundos e os seres nos seus laços.
Depois da morte, a luz de um novo dia
Resplende, transbordante de harmonia
Pela serenidade dos espaços.
LIRA IMORTAL - Francisco Cândido Xavier
NA LEMBRANÇA DOS MORTOS
Das sombras, onde a Morte se levanta
- Enlutada madona do poente -
Também procede a luz resplandecente
Da verdade imortal, profunda e santa.
No túmulo, o mistério se agiganta,
Torturando a razão desfalecente...
Em seu portal, o Sol volta ao nascente
E a vida generosa brilha e canta.
Oh! ciência, que sondas de mãos cegas,
Em vão procuras Deus! Debalde negas!...
A miséria de luz é o teu contraste.
Além da morte, encontrarás, chorando,
O quadro doloroso e miserando
Dos monstros pavorosos que criaste.
Casa Espírita
Juiz de Fora - MG 07.07.1947
Fonte: livro "Marcas do Caminho"
Psicográfia: Francisco Cândido Xavier
Espíritos diversos
O MONSTRO
Vi um monstro pairando sobre a Terra,
Como um corvo de garras infinitas,
Cobrindo multidões tristes e aflitas:
Visão de luto e lágrimas que aterra!
Vi-o de vale em vale, serra em serra,
E disse: - "Quem és tu que abre e excitas
Os pavores e as cóleras malditas?"
E o monstro respondeu: - "Eu sou a guerra!
Não há forças no mundo que me domem,
Sou o retrato fiel do próprio homem,
Que destrói, luta e mata e vocifera!
Venho das trevas densas da voragem,
Dos abismos de dor e de carnagem
Para mostrar ao homem que ele é fera!"
LIRA IMORTAL - Francisco Cândido X
VOZES DA MORTE
No mundo para vós ainda impreciso,
Que a ciência da Terra não pondera,
Eu via a morte, em forma de quimera,
Como um anjo de dor, vago e indeciso.
E murmurei: - "Ó morte, eu bem quisera
Que me desses no nada um paraíso!...
Por que, anjo na dor, se faz preciso
Da tua espada que nos dilacera?"
E ela disse: - "Sou a própria vida errante,
Vida renovadora e triunfante
Que tudo envolve em luz resplandecente,
Para que eu leve a alma à glória eleita
De ser pura e sublime, alva e perfeita,
É preciso lutar eternamente!"
LIRA IMORTAL - Francisco Cândido Xavier