Os leitores que acompanham todas as edições deste Correio Espírita certamente pensarão: mas ele já escreveu sobre isso. Todavia o assunto sempre pede ponderações.
Costumo comentar uma frase muito repetida no meio espírita, que diz: “São os Espíritos que fazem tudo”. Sobre ela digo e repito: “não, eles não fazem tudo”, pois se assim fosse, caberia a réplica: então, por que eles não fazem?
Quantos casos, quantas enfermidades, quantas situações graves existem e eles, em tese, não apresentam as soluções que seriam de se imaginar? – Esta colocação deixa muitos espíritas apreensivos, como se eu não acreditasse na ação e na força eficiente dos Espíritos, mas é preciso ponderar.
Para mim a resposta à pergunta é muito clara: eles simplesmente não podem fazer tudo, pois se fizessem, dentre outras coisas não haveria sentido se reencarnar, pois um dos mais vigorosos motivos para reencarnarmos é o do aprendizado e da aplicação com sucesso de tudo o que vimos assimilando. Outro ponto é que eles, do lado de lá, não dispõem de todo domínio da matéria, a qual está bem mais acessível ao encarnado. E ainda tem a situação de que aqui estamos numa “escola”, onde professores nos ensinam e orientam, mas que cabe a nós o desenvolvimento do aprendizado, o qual é aferido nas provas; eles (os Espíritos) tudo fazerem significaria que quem deveria fazer nossos exames seriam os mestres e não nós, enquanto alunos; seguramente isso nos roubaria qualquer crédito e, portanto, não saberíamos se tínhamos aprendido as lições.
Por outro lado, seria bobagem se imaginar que o mundo espiritual deixaria de atuar em nossos atos, especialmente quando nos voltamos ao atendimento àqueles que nos buscam pedindo auxílio. E quando pensamos nos atos magnéticos então, isso fica ainda mais claro, como destacamos na própria palavra deles, em resposta a Allan Kardec: 3ª Há, entretanto, bons magnetizadores que não creem nos Espíritos? – Ao que eles responderão: "Pensas então que os Espíritos só atuam nos que creem neles? Os que magnetizam para o bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que nutre o desejo do bem os chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo desejo do mal pelas más intenções, chama os maus" (O Livro dos Médiuns, item 175).
Sim, os Espíritos atuam, ajudam, fazem muito, mas não fazem tudo. O que eles precisam, de verdade, são bons “instrumentos”, os quais ofereçam elementos materiais de qualidade e em quantidade suficiente (os fluidos humanos), além da base de sabedoria e amor.
Se você quer ser passista precisa mais do que orar e esperar obrar milagres; precisa também estudar fluidos e doá-los com conhecimento de causa;
Caso você pretenda curar, não pense que apenas dizer isso o leve às vitórias esperadas; muito mais do que dizer é pôr mãos à obra e agir de forma conveniente, conforme orientou o próprio Allan Kardec;
Se é seu o desejo de crescer em grandes tarefas assistenciais abra-se tanto ao estudo bem conduzido como também estabeleça metas e objetivos, pois o acaso não produz “telas ou sinfonias de mestres”;
Pretendendo ser instrumento feliz nas mãos dos anjos do Bem empenhe-se e dedique-se, tanto à teoria como à prática do que almejas.
Ingenuidade é o nome que se dá a quem pensa que basta alguns gestos impulsivos e um Pai Nosso balbuciado de forma mecânica que trará o condão de atrair os Bons Espíritos e estes, impressionados com tais gestos, operarão os arroubos dos milagres. É preciso muito mais, inclusive em termos de liberação de energias (fluidos) a fim de que eles tenham o que “manipular”. Só que essa “oferta” de fluidos deve ser sábia o suficiente para que o trabalho de parceria (espírito, magnetizador e paciente) seja coroado de êxito. Daí se pedir que os magnetizadores, que pretendam ser bons em suas tarefas, não apenas leiam e estudem, mas que mantenham padrões equilibrados e harmoniosos de alimentação, repouso, exercícios, cuidados com o falar, com o condenar, manter foco em objetivos nobres e desenvolver virtudes eloquentes, tais como a perseverança, a fé, o devotamento ao que faz, preservar os bons sentimentos e agir com amor e sabedoria.
Parece que tudo isso é fácil ou óbvio, mas se não for feita (e bem feita) a parte dos encarnados, dificilmente teremos a ação eficiente do mundo espiritual, por mais que digamos neles acreditar, por mais que oremos pedindo suas intervenções, por mais que julguemos merecedores de sucesso os casos de nossos pacientes.
Não nos enganemos: os Espíritos podem quase tudo, desde que façamos ricamente nossa parte.