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Artigo do Jornal: Jornal Abril 2017

Sobre o autor

Jacob Melo

Jacob Melo

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Muito embora seja considerada comum e, por isso mesmo, muito repetida, não pode ser verdadeira a frase de que “os Espíritos fazem tudo”. Se de fato fizessem, logo vem a inquieta pergunta que, por si mesma, põe em xeque o que se pretende afirmar: então, por que não fazem?

E é na hora do passe, principalmente quando não se quer reconhecer a parte efetiva da ação magnética humana no fenômeno, que ganha força a dita frase, como se ela explicasse e justificasse muita coisa, ou pior; muita acomodação e pouca produtividade.

Acredito que o leitor saiba que praticamente todas as semanas estou em algum lugar aplicando cursos, estudos e treinamentos sobre Magnetismo. Nesses encontros, uma das queixas ou referências mais frequentes é exatamente essa: a de que é dito, em muitas Casas Espíritas, que não se precisa desses conhecimentos todos acerca desse tal de Magnetismo, não são necessárias técnicas, pois são os Espíritos que verdadeiramente fazem tudo e que nós, os encarnados passistas e magnetizadores , somos quase nulos nos procedimentos. Acrescenta-se a isso que a participação humana deve se restringir a impor as mãos, de forma estática, fazer preces e desejar muito amor ao recebedor do passe.

Como diz um amigo: “Seria ótimo se assim fosse”. Além de que não haveria necessidade de estudos, cuidados com comportamentos e, logicamente, nada de preocupação com resultados, pois a tudo os bons Espíritos proveriam e, decerto, ainda poderíamos afirmar possuir uma “prece forte”, um amor magistral e a crença de que Eles fariam maravilhas.

Imaginemos, todavia, que eles, os Espíritos, façam tudo. Ficam as perguntas: então, por que não conseguem curar pessoas portadoras de muitos tipos de moléstias graves? Por que, por exemplo, eles não curam Alzheimer, Parkinson, escleroses, lúpus, gota, diabetes, hipertensão, enfim, uma lista enorme de doenças?

Por outro lado, convenhamos, quando há grupos ou pessoas que estudam e aplicam o Magnetismo tal como deve ser compreendido e empregado, por que será que já se obtém resultados favoráveis frente a essas enfermidades? Será porque os Espíritos, nesses casos, conseguem melhor atuação? Se sim, então por que os passistas não se dedicam mais a serem magnetizadores? O que ou quem os impede?

É verdadeiramente perturbadora essa ideia de que os Espíritos fazem tudo, quando quase tudo demonstra que não é e nem pode ser assim. Todos estamos encarnados para exercermos funções de vida, ou seja: aprendizado, aplicação, vivência e progresso. Mas, como progredir se o que se poderia aprender para se fazer de bom e de bem não nos competiria, posto que somente aos Espíritos isso seria permitido?

Os Espíritos podem e fazem muitas coisas. Nos passes eles nos intuem, apresentam opções, dirigem nossos fluidos, impulsionam-nos a procedimentos desconhecidos na maioria das vezes fazem isso principalmente porque não quisemos ou não pudemos estudar antes , atraem pacientes para o atendimento, favorecem à ambientação fluídica dos recintos, e ainda tentam proteger alguns pacientes dos absurdos técnicos que muitos cometem por puro desconhecimento de como fazer correto e de forma segura. Sem eles conosco nossas limitações certamente provocariam mais equívocos do que acertos e é provável que as práticas magnéticas já nem mais existissem, de tão ineficientes que seriam. Entretanto, daí não se pode deduzir que eles façam tudo.

As ações magnéticas são, em si mesmas, ações físicas, no sentido literal da palavra. Por isso, aos Espíritos fica quase interdita uma ação mais direta sobre as “cargas energéticas” que são projetadas, manipuladas ou mesmo retiradas dos pacientes. Seria como se imaginássemos que tudo o que fosse arremessado contra alguém encontraria uma barreira espiritual a impedir que o movimento fosse concluído, por ação puramente espiritual. Se alguém arremessa algo contra outra pessoa, o amigo espiritual certamente tentará intui-lo a se desviar do arremesso, do contrário ele se ferirá. Disso não se deve imaginar que o Espírito irá mudar a trajetória do objeto, pois seria pretender derrogação de Lei Natural.

Quando digo que os Espíritos não fazem tudo, por mais que a frase espante a alguém, ela nada tem de redutora do que se atribui ao poder e saber dos Espíritos; apenas colocamos coerência nas ideias e, em cima destas, podemos novamente pensar que o estudo é imprescindível, que a prática é inadiável, e que a ação humana sempre é requerida, tanto mais e melhor quanto ela for bem lastreada no saber e nos bons sentimentos.

É como diz “um Espírito protetor”, no capítulo 19 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 12: “Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas”. (Paris, l863.)

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