Prova da Imortalidade
A Volta de Catullo da Paixão Cearense
O que mais me chamou a atenção ao ler os poemas do livro Catullo – a volta de Catullo da Paixão Cearense, psicografado por Nair Machado e publicado em setembro de 1993, foi o espírito manter na linguagem escrita a mesma forma de falar do sertanejo.
Vejamos um deles:
ESPERANÇA
Nois agora vai falá
Da esperança tombém
Em tudo qui vancê pensa
Ela vai dizendo Amém.
Tem fôlgo de sete gato
Num pede ajuda a ninguém,
Carrega o mundo nas costa
Cum os recado qui tem.
Quando os recado é dereito
De fazê consolação,
A esperança cum a prece
Penetra no coração.
"Quem espera sempre arcança"
É um ditado qui diz,
Mais para o bem arcançá,
Corte o má pela raiz.
A esperança é o ataio
P'rá gente tudo arcançá,
Traz sempre esta lição:
- Tem carma, vamo isperá.
Esperança é num sei quê
Nascendo dentro da gente,
Transforma nossa tristeza
Transformando nossa mente.
"- Num há bem qui sempre dure
Nem má qui nunca se acabe".
Felicidade, onde mora?
A esperança é qui sabe.
" - Quem espera sempre arcança",
É o ditado qui diz.
Isperei anos a fio,
Mais agora tô feliz.
Crítica literária
Pois bem, essa obra mereceu da Professora-Adjunta da Faculdade de Educação da UFRJ, Nadja do Couto Valle, uma análise da obra literária do poeta-cantador, ou melhor, verdadeiro estudo crítico da sua obra, do qual destacamos:
“Conceber-se que a linguagem dos cantadores afasta-se radicalmente da norma culta urbana é conclusão precipitada, porque há pontos de contato entre as duas normas linguísticas. E muitos dos desvios encontrados nos cantadores são, ademais, também característicos das camadas semicultas e incultas das regiões urbanas e até da linguagem coloquial das pessoas cultas. Portanto é descabida qualquer atitude preconceituosa em relação a uma arte que se expressa através de "erros"; o que há são procedimentos linguísticos mais ou menos constantes que podem servir de elemento de caracterização da norma linguística desse tipo de literatura, como contraponto ao uso tradicional, oral ou escrito, coloquial ou literário, dos grandes centros urbanos”.
E mais adiante a Professora Nadja considera:
“E como o caboclo só sabe falar fazendo comparações, o estilo é metafórico, revelando, sobretudo em Catullo, a tradição de percepções espirituais.
A frequente "incorreção" da linguagem e a quase total ausência de pontuação – academicamente imperdoáveis até recentemente – constituem elemento estético, característico da linguagem oral, que, aliás, foi incorporado pela poesia moderna”.
Aval de Chico Xavier
Contam-nos os irmãos dedicados tarefeiros espíritas, Glaciomar Machado e Dirceu Machado, filhos da nossa querida Nair Machado, que fizeram inúmeras visitas a Chico Xavier. Porém, a de 09 de maio de 1990 teve um sabor especial, pois nela levaram os originais do livro psicografado por sua mãe para apreciação do querido médium e amigo. Com os originais, o pedido para que escrevesse o seu prefácio.
Lidos alguns trechos ao acaso, Chico entusiasmou-se tanto que recomendou urgência nas providências para sua publicação, prometendo o prefácio para ocasião oportuna. Entretanto, após mais alguns minutos de edificante e gostoso bate-papo, Chico recomendou uma prece para que pudesse receber, quem sabe, naquela mesma hora, a mensagem prometida.
De suas mãos ágeis, o lápis deslizou rápido sobre o papel até que a comunicação fosse integralmente transmitida. Findos os trabalhos, a leitura da página encheu-os de inusitada alegria, pois certamente ali estava a apresentação que faltava ao livro. Desconheciam, porém, o seu autor – Leonardo Motta.
De regresso ao Rio, puseram-se a pesquisar quem era ele, solicitando ajuda de professores e bibliotecas. Foi constatado que se tratava de um contemporâneo e amigo de Catullo e de Cornélio Pires, este tão conhecido dos leitores espíritas.
Os resultados das buscas dos irmãos Dirceu e Glaciomar Machado foram levados ao Chico, que se encheu de alegria com o esclarecimento de mais esta surpresa da Espiritualidade, sugerindo, ali mesmo, o título do presente livro.
Prefácio do Espírito Leonardo Motta
Ele é sempre o mesmo grande amigo. Aqui vem saudar-nos a cada um. Conduziu-nos para um grande salão, cujas paredes teriam sido feitas com fibras que desconhecemos. Colocando os olhos dele nos meus, disse conhecer-me e, respondendo à curiosidade que me esfervilhava na mente, acentuou: “Você é o amigo Leonardo Motta, mais conhecido por Leota”.
Em seguida convidou-nos para conversar no grande salão e conduziu-nos com gentileza para dentro. E ele, pois realmente reconheci nele o nosso Catullo, começou a falar:
“- Leota, sei a razão
De sua vinda até nós:
Você quer levar-nos ao povo
Que deseja nossa voz”.
“Você pretende mostrar-nos,
Poetas que sejam do Novo Dia,
No entanto não tenho agora
Senão pedaços de poesia”.
“Das muitas rosas que tive
Adornando-me os caminhos,
Somente me resta hoje
Grande colheita de espinhos.”
“Dos amigos que me lembram
Nas tarefas do passado
Só vejo Nair, a irmã
Que me deixa abilolado.”
“De meus sonhos mais antigos
Para mim grande proeza
Já não tolero a cidade
Quero mato e natureza.”
“Casamento no passado
Era festa para dois,
Agora é farra e algazarra
A criança vem depois.”
Houve silêncio.
Escutamos.
Quando chegaram aos gritos
Um bando de periquitos.
“- É, Leota, agora parto
Agradecido e encantado.
E peço-lhe agradecer
À médium Nair Machado.”
Ergueu-se dizendo:
“- Hoje sou de minhas aves
Que me aliviam a mente
Para dias mais suaves.”
“- Sigo com meus periquitos
Que me guardam num abraço.”
E Catullo volitando
Seguiu para o Grande Espaço.
Leonardo Motta
Psicografado por Francisco Cândido Xavier em 09/5/1990
Uberaba, MG
A médium Nair Machado
Nasceu no interior de Minas Gerais e fez seus estudos em Juiz de Fora, onde se graduou em Farmácia. Residiu nesta cidade até se aposentar como farmacêutica fiscal do Serviço de Fiscalização do Exercício Profissional da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais.
Distinguiu-se pela assistência que prestava a todos os que a procuravam em busca de ajuda material e de orientação espiritual por parte dos espíritos benfeitores, principalmente da Irmã Kantian. Residiu no Rio de Janeiro, onde militou no Movimento Espírita, vindo a desencarnar em 6 de setembro de 2000.
Possui inúmeras mensagens psicografadas ainda inéditas e outras já publicadas na imprensa espírita. Os poemas que compõem o livro Catullo – A volta de Catullo da Paixão Cearense foram recebidos entre 1972 e 1975. Alguns foram publicados na revista O Médium, de Juiz de Fora, como é o caso de Noite, em dezembro de 1972; Cartía, em janeiro de 1973, Riquezas, em fevereiro de 1973; e Esperança, em fevereiro de 1974.
Palavras finais
Encerramos o nosso artigo sobre a volta de Catullo da Paixão Cearense com a feliz expressão da professora Nadja do Couto Valle, no estudo que fez da obra psicografada:
“Ontem, ao luar, Catullo cantou a alma do povo em cujo seio Deus o plantou, e hoje, na luz, canta, com o mesmo estilo, para as almas deste povo de Deus, a lírica do amor do Evangelho”.
NA FOTO: LEONARDO MOTTA – CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE – CORNÉLIO PIRES
Gerson Simões Monteiro
Vice-Presidente da FUNTARSO
Operadora da Rádio Rio de Janeiro
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