A Codificação Kardequiana nos coloca de forma muito explícita o tríplice aspecto da Doutrina Espírita. Narra a necessidade da observação científica diante do fenômeno mediúnico. Constrói a motivação e causa de tais fenômenos através da análise filosófica, conduzindo-nos a novos conceitos e trazendo-nos novas perspectivas e objetivos dentro da própria existência. As novas motivações de caráter moral, trazidos pelo conhecimento científico-filosófico, nos remetem aos postulados de viés religioso. A moral trazida através do desenvolvimento lógico dos fatos nos mostra as tramas da causa e efeito, a ligação do passado e futuro, em simbiose com a as leis de amor, a reger o universo.
Entretanto, apesar da clareza e objetividade Doutrinária, os inúmeros estágios da evolução não são galgados através de páginas literárias. Livros e conhecimentos teóricos são apenas o suporte das escolhas, diante das provas experimentadas pelo espírito, estejam estas conectadas com as inconsequências do passado ou tendo como meta a elevação espiritual futura. Importante reflexão se faz necessária para a análise da fase na qual nos encontramos.
Temos os científicos, aqueles que se detém apenas no fenômeno, entendem a clareza da manifestação mediúnica e a admiram, estudam, buscam em suas entranhas os pormenores das manifestações. Acreditam, apreciam e entendem a capacidade de comunicação entre mundos. Porém, são incapazes de trazer à tona o verdadeiro significado, as entrelinhas, do processo mediúnico. O materialismo predominante no espírito não os permite vislumbrar que após a noite chegará um novo dia, que o reflexo da comunicação mediúnica, a mensagem trazida do além-túmulo, esta vivamente conectada com a atuação moral de cada um.
Aos que já entendem tal mensagem, conseguem adentrar o estágio seguinte, compreendem a sistemática mediúnica e ao mesmo tempo as motivações espirituais acerca da Doutrina. Baseiam-se nos postulados espíritas, conhecem exatamente os meandros da lei de causa e efeito, adornam a alma de conhecimentos conectados entre a ciência e a filosofia espírita. Proferem palestras, esclarecem dúvidas, são os “respondedores de perguntas” de tantos quantos os rodeiam. Contudo, não sabem trazer tais conhecimentos aos escaninhos da própria alma. Não reconhecem em si a necessidade da transformação moral, da mudança de atitude.
O orgulho contido na bagagem do conhecimento não lhes permite o iniciar da respectiva reforma íntima. Mais cômodo se faz ser o responsável pela base do desenvolvimento do próximo, mais fácil tocar a alma do semelhante, em detrimento da reeducação dos respectivos sentimentos. Se não experimentam a reforma interior, igualmente não colhem os louros da felicidade da alma com a sensação do caminhar.
Em ambos os casos, na grande maioria, são irmãos em fuga de si mesmos, preferem ocupar-se com o fenômeno ou a problemática alheia, pois são mais fáceis de lidar do que as respectivas mazelas morais, ainda não conseguem enfrentarem a si próprios. A fé que possuem não suportaria tal encontro, mesmo alicerçadas na base dos conhecimentos adquiridos. Condição, esta, de muitos irmãos do colégio espírita.
Por fim, temos os irmãos que entendem o resultado religioso dentro da observação e contato mediúnico, entreveem os objetivos através do estudo filosófico e finalmente conseguem traduzir ambos, ciência e filosofia, em mudança moral, a reforma íntima a qual nos religa a Deus, o aspecto religioso da Doutrina. O que nos coloca em contato com o Criador não é o conhecimento apenas, e sim a atitude no amor, o aprendizado além das páginas dos livros, cravados na alma, inseridos no coração sob a anuência da inteligência.
Vale a reflexão íntima de onde nos encontramos, quais as respectivas características de ação dentro do campo espírita, em suma, onde esta o nosso “tesouro” (Lucas 12:34 “Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”).
Se nos detemos na materialidade da observação e estudo da mediunidade. Se nos aprofundamos em conceitos e leituras, nos locupletamos com a argumentação e sede de respostas ágeis aos questionamentos dos irmãos, por vezes, em característico fenômeno de exacerbação do ego, da vaidade. Ou, se humilde e conscientemente, nos reconhecemos dentro dos padrões de nosso planeta de provas e expiações e, juntamente com a observação e estudo mediúnico, do adquirir do conhecimento Doutrinário que resulta em auxílio à elevação do próximo, já igualmente nos admitimos estropiados morais, filhos pródigos (Lucas 15) e necessitados do amor de Deus.
Muitos irmãos acreditam que pelo fato de estarem inseridos na Doutrina Espírita, especialmente os que nutrem as tarefas de liderança, estão na Terra por “missão”, quase que por caridade, pois são participantes ou candidatos de outras esferas evolutivas. Entrando de “salto alto” nas lides espíritas, pois se creem já evoluídos, saudáveis moralmente, esquecendo-se que o Cristo veio para os doentes (Marcos 2:17).