Foi o nosso querido Chico Xavier quem nos disse que se não podemos fazer um novo começo, sempre poderemos escrever um novo final... Sábias palavras! Palavras que nos fazem refletir e entender que já somos senhores daquilo a que muitos chamam destino - que não está "escrito nas estrelas" nem se trata de fatalidade.
Cada nova etapa reencarnatória é nova oportunidade que a lei do progresso nos oferece, indefinidamente, quantas nos forem necessárias para nos lapidarmos como Espíritos e atingirmos o patamar de Espíritos puros, ministros de Deus e a quem é delegada a função de cocriador, de protetor maior de criaturas e de coletividades (LE qs. 132 e 500).
Assim também cada ano que recomeça, para o qual tantos fazemos tantos projetos e promessas - a outros e a nós próprios - nos traz mais uma oportunidade de reescrevermos nosso presente, visto que este é a planilha de planejamento para o nosso futuro. Ali se fará a contabilidade espiritual que nos deixará com créditos ou débitos para o período seguinte - ainda nesta ou em outra vida...
Cada ano, ou mesmo cada dia, é como se fosse uma nova reencarnação, para a qual trazemos nosso acervo, ou seja, a bagagem ético-moral que nossas atitudes e pensamentos juntaram no ano anterior, ou no dia anterior; ao reiniciarmos, nos propomos umas tantas atividades e comportamentos que desejamos praticar, bem como outros tantos que não mais queremos "cometer".
Tudo o que aconteceu até ao presente momento em nossa caminhada, de bom ou de ruim, foi extremamente importante para a elaboração de um complexo conjunto psíquico, que será a força motriz para novas aquisições - se estas serão positivas ou negativas, caberá a nós decidirmos. É nossa responsabilidade o bom uso do nosso livre-arbítrio, duramente conquistado em tempos remotos, à custa de muitos tropeços e desacertos.
Nesse primeiro mês deste novo ano, nós, meio e movimento espíritas, e espíritas individualmente, em vez das promessas e intenções em geral acima de nossas possibilidades, quem sabe podemos nos propor uma análise mais séria de nossa parte acerca da nossa doutrina, esse valioso legado de Allan Kardec e dos Espíritos que com ele trabalharam; talvez fosse bom se, mais uma vez, "RE-começássemos do início"; se mais uma vez (ou seria a primeira?) nos debruçássemos sobre a codificação, livro a livro, não apenas lendo, mas estudando, refletindo, apreendendo...
Empolgam-nos os livros psicografados por Chico Xavier, Divaldo Franco, os filmes, os romances, as palestras que nos emocionam até às lágrimas, os passes com que nos fortalecemos energeticamente - ou ainda, como muitos esperam, nos curam de nossos males; as casas espíritas grandiosas, os médiuns ditos "poderosos" a quem podemos consultar a fim de que resolvam nossos problemas; e os eventos, ah!, os eventos, como nos fascinam, com sua pompa, seu ritual, seu cerimonial, algo judaico-cristão onde ainda estão fincadas as raízes de muitos de nós...
Os centros pequenos, cumprindo discretamente sua tarefa, sem alarde nem fanfarras, esses que justamente seguem a recomendação tantas vezes repetida por Kardec de que melhor seria, por exemplo, dez centros de vinte pessoas do que um de duzentas (LM cap. XXIX e REAK dez. 1861); esses pequenos centros, como dizíamos, em geral não merecem a nossa admiração. Apesar das explicações tão claras acerca da importância da homogeneidade de pensamentos e de propósitos, ainda nos sentimos arrastados a valorizar a quantidade em detrimento da qualidade - foi isso que aconteceu com o cristianismo primitivo quando, após ter sido adotado e "adaptado" pelo Estado Romano, cresceu em número e decresceu em pureza e simplicidade...
Na Introdução do Livro dos Médiuns, Kardec afirma: "Diariamente a experiência confirma a nossa opinião de que as dificuldades e desilusões encontradas na prática espírita decorrem da ignorância dos princípios doutrinários (...) A prática espírita é difícil, apresentando escolhos que somente um estudo sério e completo pode prevenir". Também na Introdução do Livro dos Espíritos, item VIII - Perseverança e Seriedade (na tradução de José Herculano Pires), o mestre espírita adverte: "O estudo de uma doutrina, como a espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova e grande, não pode ser feito com proveito senão por homens sérios, perseverantes, isentos de prevenções e animados de uma firme e sincera vontade de chegar a um resultado".
Então, companheiros de ideal, deixo aqui o convite para esse novo recomeço nesse novo ano: vamos ser esses "homens sérios, perseverantes" e nos dedicar verdadeiramente à compreensão da mensagem espírita, que só encontraremos íntegra e consistente nas obras kardecianas e cujo valor maior repousa no fato de que ela se apóia integralmente nas leis naturais, nas leis divinas, sem misticismos nem alegorias. A todos, FELIZ E PRODUTIVO 2011!
Publicado no Jornal Correio Espirita edição 67 Janeiro 2011