No I Congresso Médico Espírita realizado no ano passado no estado de Maryland, nos Estados Unidos, um senhor ainda muito forte, apesar dos seus mais de 80 anos, encantou a todos com sua história de vida: o Dr. George Ritchie, médico psiquiatra conhecido no Brasil por ter lançado, em 1980 um livro intitulado "Voltar do Amanhã". Nele, há um comovente relato de uma experiência de quase-morte por ele vivida na época da II Guerra Mundial. Aliás, foi ele quem inspirou o Dr. Raymond Moody Jr. a escrever o famoso livro, "Vida depois da vida", amplamente divulgado entre nós. O ponto alto da narrativa é quando o ser de luz que o recebe quando ele se vê fora do corpo lhe pergunta: " o que você fez da sua vida?" Diante do vazio com que se deparou naquela hora, sentiu-se envergonhado. Analisava os seus vinte anos de vida e não encontrava nada que pudesse vir a seu favor, a não ser o fato de ter sido escoteiro. O ser de luz tornou-se mais preciso. Queria saber quanto amor ele havia dedicado aos seus semelhantes; o que fizera do amor que Deus havia colocado no seu coração. Percebeu, então que ele falava do sentido da vida e, a partir daquela experiência tão profunda, prometeu a si mesmo que se houvesse um novo encontro com aquele ser, ele poderia dizer que vivera para servir e amar. Todos que o conhecem são testemunhas que ele, de fato, tem vivido para cumprir essa promessa.
O maior investimento
Será que o fato de se estar na mocidade é desculpa para se viver exclusivamente para si? Será que voltar-se para o próximo é tarefa apenas para os mais velhos?
É evidente que não. Estamos aqui para cumprir nossa evolução espiritual, embora nem todos o admitam e, mesmo entre os que conhecem essa verdade, muitos vivem como se tudo se resumisse à matéria. Às vezes, o envolvimento familiar com as questões do dia-a-dia é tão forte que o que há de mais importante vai ficando à margem das atenções. Investimentos são feitos pensando no futuro material dos filhos, mas pouco se faz em relação ao seu futuro espiritual. No entanto, como nos diz o Evangelho Segundo o Espiritismo, a única coisa que realmente conta a nosso favor após a vida terrena é o bem que tivermos feito. Por isso, é sempre oportuno trazer a questão do sentido da vida para a reflexão.
Aprender a ser solidário
O espírito de solidariedade é algo que precisa ser desenvolvido na criança. Se somente agisse segundo o seu desejo, dificilmente sairia do seu egocentrismo. É, inicialmente, a vida social com suas trocas, seus jogos e brincadeiras, intercâmbios de papéis - ora ela vence, ora é vencida - que vai lhe sinalizando que ninguém é uma ilha, que o seu prazer e a sua alegria dependem do outro.
Mas esse não é um processo a que se chega sozinho. Ao contrário, precisa de mãos seguras para a sua condução. Cabe aos pais e educadores oferecer oportunidades para que as crianças, antes mesmo que possam ser capazes de entenderem o sentido da vida, sejam incentivadas a sair do seu egocentrismo, passando a incluir o outro nas suas atividades. Não é tarefa fácil, é verdade, mas pais atentos saberão usar os meios adequados para transformá-las em pessoas colaboradoras e generosas. No princípio, às vezes, o que funciona é o sistema de sanções: "Se você não quer emprestar o seu brinquedo, ele também não emprestará o dele que você está desejando tanto". Outras vezes, é o próprio exemplo observado na intimidade do lar que convencerá a criança da importância do descentramento de si mesma. Mas, de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde, não se poderá abrir mão de se levar o adolescente a se questionar sobre o que veio fazer aqui; sobre o que está fazendo da sua vida. Por isso, levante a questão. Puxe o fio da meada, fazendo-o pensar nas respostas. Aproveite que nessa época o seu cérebro está em plena transformação, abrindo-se para as questões abstratas. Não o deixe seguir pela vida sem ter a chance de crescer espiritualmente. Faça a sua parte. Invista, enfim, naquilo que realmente irá valer a pena.
Publicado no Jornal Correio Espírita edição 33 de Março de 2008