O discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para cumprir o ministério que lhe é cometido. O governador da terra, entre nó, para atender os objetivos da política do amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus, junto do coração humano, sem necessidade de portarias e decretos, respeitáveis embora. (Emmanuel) Vinha de Luz. F. Cândido Xavier.
Política de Doutrina Espírita
Inicialmente, vamos nos situar quanto à origem do problema, buscando a etimologia da palavra política. Esta palavra deriva do grego politiké e teria os sentidos de: doutrina do Direito e da moral; teoria do Estado; arte ou ciência de bem governar e estudo dos comportamentos intersubjetivos.
A Política, tal como a entendemos, porém, nasceu quando a cidade (polis) alcançou tamanho nível de complexidade que se tornou necessário construir uma ciência ( episteme ) em torno dela. Em seu famoso livro Ética a Nicômaco, escreveu Aristóteles: " Esta parece ser a política. Com efeito ela determina quais são as ciências necessárias nas cidades e quais são as necessárias a cada cidadão e até que ponto se deve aprendê-la. " Esta noção aristotélica de política ocupara um largo espaço na tradição filosófica do Ocidente.
Com o passar do tempo, a política tornou-se uma atividade fundamental às sociedades e surgiram os partidos políticos, ou seja, conjunto de indivíduos que formavam associações de pessoas com idéias semelhantes, que tomam, para si, o direito de eleger delegados: vereadores, deputados, senadores etc. que representam o partido a que pertencem e as pessoas que comungam com os idéias partidários. Do conceito de partido é que surge o que se chamou de política partidária, ou seja, política feita nos partidos. Ao lado desta política, está a política pura ou seja, aquela que pressupõe a participação do indivíduo nos destinos de sua comunidade, de seu país e do mundo, sem pertencer a um partido qualquer.
Como deve se portar o espírita ante à questão política ? Jesus, em um certo momento, mandou que se desse a César (poder político temporal ) o que é dele, ou seja os impostos e a Deus ( poder espiritual), o que é de Deus, isto é, um coração puro e uma alma voltada para o bem. Ainda é Jesus quem nos diz: " O meu reino não é deste mundo." Assim, ao que parece, o cristão em geral e o espírita em particular, deve exercer o seu direito de cidadania pois paga seus impostos e cumpre outros deveres para com o estado, ou seja, dá a César o que é de César. Por outro lado, precisa ser também um cidadão cristão, no verdadeiro sentido desta palavra, e dar a Deus o que é de Deus.
Não é fácil que, fazendo a política partidária, o Espírita possa dar a Deus o que é de Deus. Muitos são os compromissos, muitas são as situações conflitantes e muitas as seduções que, em espíritos imperfeitos como nós, exercem uma grande atração.
Muitas pessoas, cheias de boas intenções, já se candidataram em ficaram frustradas por não poderem levar à frente os seus ideais. Allan Kardec, certa feita, se referiu ao perigo de oferecermos armas aos nossos opositores e a participação política partidária é um espaço favorável a isso. Jamais devemos nos esquecer de que o espírita representa, onde ele está o Espiritismo e se não o fizer bem, a critica à sua conduta vai além dele e respinga na Doutrina. Poder-se-ia argumentar que os evangélicos estão formando grupos corporativos, estão ganhando poder, entretanto, voltemos a Jesus lembrando a fragilidade do poder material, e é isso que eles conseguem, não deve ser a meta primeira dos espíritas.
Por fim vamos lembrar que um espírita deve ter uma posição sobre o aborto; a pena de morte; a redução das armas de fogo; a questão ecológica; o casamento dos gays; a maior idade penal; a ação da polícia nos morros; o modo de acabar com as drogas e assim por diante. Deve lutar por seus pontos de vistas se os considera legítimos, entretanto, daí candidatar-se em nome do Espiritismo, tornar-se um vereador ou deputado espírita, vai uma distância muito grande. O Espiritismo, porém, não proíbe que um espírita seja político, mas esclarece a respeito das conseqüências de nossos atos, deixando a este que use o seu livre arbítrio para que faça uma escolha acertada.