Outubro é considerado o “mês de Kardec” no meio espírita. Então me lembrei de um livro de Deolindo Amorim com o título Allan Kardec, em que ele discorre sobre o codificador, considerando o homem, a época, o meio, as influências e a missão – obra imperdível para todos os espíritas que desejem conhecer um pouco mais nosso mestre espírita e todas as condições que o circundavam na ocasião em que se dedicou e se debruçou inteira e diligentemente à grande obra da elaboração da doutrina espírita (1).
A 3 de outubro de 1804, renasce em nosso mundo Hippolyte Léon Denizard Rivail, em Lyon, na França, o qual, tendo se tornado professor, aos 24 anos apresenta um “Plano para a Melhoria da Educação Pública” que, em virtude da situação política e da supremacia religiosa elitista da época, estava em situação bem precária (tal como, em muitos casos, atualmente ainda aqui em nosso país). Já naquele momento a visão de educação do professor Rivail era a de que “a educação é a arte de formar homens, isto é, a arte de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício (...) Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais”. E ainda, em 1834, portanto aos 30 anos, em discurso numa distribuição de prêmios, afirma “Disse, no começo, que a educação é a obra da minha vida, não faltarei à minha missão, pois penso compreendê-la. Inimigo de todo charlatanismo, não tenho o tolo orgulho de acreditar cumpri-la com perfeição, mas tenho ao menos a convicção de cumpri-la com consciência”. Já podemos ali vislumbrar Allan Kardec, despertado em 1855... (2)
É por isso que Deolindo Amorim, seu livro citado (1), relata que José Herculano Pires diz que Allan Kardec nasceu no dia 18 de abril de 1857 – que Allan Kardec nasceu com a Doutrina Espírita, e a Doutrina veio com “O Livro dos Espíritos”, no dia 18 de abril de 1857, em Paris. Quem nasceu antes, em 1804, foi o professor Denizard Rivail...
Podemos entender Kardec como humanista, pois, além de à sua época essa ser a tendência nas artes e nas letras, ele sempre demonstrou interesse pelo ser humano. Deolindo Amorim destaca que isso fica claramente demonstrado na elaboração de O Evangelho segundo o Espiritismo, quando selecionou os ensinos morais do Cristo que mais diziam respeito ao amor ao próximo como regra básica de vida. Igualmente se percebe a sua linha racionalista ao sempre recomendar o uso da razão e do bom senso, a nada aceitar sem séria e criteriosa análise. Assim, conjugando-se razão e sentimento, experiência de educador e fé, trabalho consciencioso e moralidade, pode-se compreender sua visão universalista e progressista. Todos esses aspectos Kardec, de certa forma, imprimiu ao Espiritismo. Com a conjugação desses elementos, Kardec não cristalizou a doutrina, não a encerrou nem estabeleceu o que até então tinha sido colocado como palavra final, definitiva – o que aliás declara em várias oportunidades dentro do corpo doutrinário.
Quando hoje, século XXI, nos dedicamos ao estudo da doutrina, não há mais condição de nos furtarmos a reconhecer essa sua extensão. Não há como simplesmente nos determos em seu aspecto considerado como religião, sem nos apercebermos de sua abrangência, sem entendermos que sua filosofia e mesmo sua área científica, abertas a justos e comprovados acréscimos, atingem todos os campos de atuação da criatura, sejam culturais, políticos, sociais, científicos, educacionais, pedagógicos, até mesmo a compreensão da religiosidade e tantos outros...
E vou encerrar com um texto de um livro de uma pedagoga espírita de grande atuação no movimento espírita, Dora Incontri, com cabedal de conhecimentos bem maior que o meu, em seu livro Para Entender Allan Kardec (3):
“Todo espírita deve, enfim, considerar Kardec um mestre digno de ser estudado e seguido e não dogmatizado, compreendendo que se trata de um espírito de grande envergadura moral e intelectual, que cumpriu com fidelidade sua missão e deixou uma contribuição ainda muito mal entendida por aqueles que o seguem e por aqueles que o perseguem. Entender Kardec é entender o espiritismo, pois a obra é reflexo do homem. Embora tenha a contribuição de tantas inteligências encarnadas e desencarnadas, que ainda continuam constituindo a doutrina, que nunca pára de se desenvolver, ele será sempre a medida do bom senso e o exemplo de equilíbrio, que propôs com seu gênio novas maneiras de conhecer a realidade e existir no mundo”.
Bibliografia:
Livro Allan Kardec, de Deolindo Amorim.
Livro Textos Pedagógicos, tradução, apresentação e notas de Dora Incontri.
Livro Para entender Allan Kardec, de Dora Incontri.