Quem já internalizou as proposições do Espiritismo tem clareza quanto à importância do processo interativo e de socialização humana, pois já existe a conscientização da ressonância na interdependência e necessária reciprocidade no convívio entre o eu e o outro. Ele sabe não ser possível um encontro entre singularidades no qual não circule algo de novo em alguma dimensão, perspectiva ou conotação, levando ao repensar, fortalecer ou modificar seu comportamento, atitude e tendência.
O estabelecimento de contato e confronto com o próximo toma a importante função de espelhamento das diferenças, qualificando ações, valores e pensamentos que tanto podem se organizar, desconstituir, contrastar, moldar, construir, conservar, ressignificar, a partir dessa interação na mais completa observância das Leis Morais tão bem explanadas em O Livro dos Espíritos pelas indagações e comentários de Allan Kardec e através das respostas obsequiadas pelos Espíritos atuantes na estruturação das bases doutrinárias.
O princípio do reconhecimento tanto da individualidade quanto da diferença, pelo processo de equidade ou critérios de justiça, é notável. O testemunho do respeito aos valores é observado, sem a ingênua pressuposição de que o sempre bom e útil para nós precisa ser exatamente bom e de utilidade para o outro na mesma proporção ou igualdade. Antes de tomar decisões pelo outro, invadindo sua privacidade e dele retirando a oportunidade do seu fortalecimento como ser individualizado, o melhor é perguntar a ele sobre o desejado; antes de fazer qualquer coisa pelo e para o outro, indagar e refletir sobre suas necessidades e daquilo que realmente ele precisa ou prioriza.
A aplicação deste princípio solicita a colocação em prática do circuito empático. Ou seja, aprendemos a capitar o pensamento e sentimento do nosso interlocutor, nos tornando mais atentos, ouvindo de forma ativa, nos importando sensivelmente e perguntando respeitosamente para colaborar de verdade e colocar em prática o princípio da moralidade: não faça com e para o outro aquilo que não quer que façam com e para você. Isto significa evitar a agressão, a indiferença, o desrespeito, as ofensas, o abandono, as ameaças, o esquecimento e tantas outras atitudes nocivas.
O circuito empático atua efetiva e ativamente em todos os seus componentes de tal maneira que, após determinado espaço de tempo, é possível a fluidez de ações entre os participantes do convívio. No entanto, convém o conhecimento de cada elemento para atuarmos fraterna e solidariamente, rompendo vínculos indesejados com o egoísmo, orgulho e a vaidade e, pelo autoconhecimento, traçar intrínseca relação entre os aspectos empáticos, sem ficarmos ancorados a um dos seus estágios.
Primeiramente, temos a empatia cognitiva, a qual permite ver e perceber o mundo do outro por sua ótica ou consideração, tomando a sua perspectiva e entendendo os modelos mentais estruturantes da sua visualização sobre os acontecimentos. Empatia emocional, seu segundo constituinte, significa ou representa sentir o que o outro sente, nos proporcionando o sentimento imediato das emoções vivenciadas pela outra pessoa. O terceiro aspecto do circuito empático relaciona-se à preocupação empática, nos levando a importar o outro para dentro de nós e nos ocupar com o bem-estar da outra pessoa, a querer ajudá-la quando está em necessidade, confusão, conflito ou crise de alguma ordem. Esta preocupação empática forma a base ou o lastro da compaixão, enquanto as empatias cognitiva e emocional, embora essenciais para todo o processo, podem se tornar ferramentas no serviço do puro autointeresse e simples curiosidade, descartando o outro do nosso projeto evolutivo. Contudo, acionando a preocupação empática, estes dois aspectos do circuito empático entram em sintonia e articulam-se no serviço do bem.
Portanto, o ideal é a disponibilização de um olhar sensível e de uma ação conjuntamente raciocinada e afetuosa para a construção de interações mais saudáveis, preciosas e libertadoras.