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Artigo do Jornal: Jornal Maio 2020

Sobre o autor

Cláudio Conti

Cláudio Conti

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Muitas vezes creditado às mulheres e referenciado como sexto sentido feminino, o pressentimento faz parte do cotidiano da humanidade em decorrência da nossa essência puramente espiritual. Neste sentido, tanto homens quanto mulheres possuem a potencialidade para pressentir eventos prestes a acontecer ou que ainda estejam por vir.

Em O Livro dos Espíritos temos que o pressentimento “é o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos quer bem. Também está na intuição da escolha que se haja feito. É a voz do instinto. Antes de encarnar, tem o Espírito conhecimento das fases principais de sua existência, isto é, do gênero das provas a que se submete. Tendo estas caráter assinalado, ele conserva, no seu foro íntimo, uma espécie de impressão de tais provas e esta impressão, que é a voz do instinto, fazendo-se ouvir quando lhe chega o momento de sofrê-las, se torna pressentimento”[1].

Assim, o pressentimento pode tanto ser decorrente do conselho de um Espírito amigo ou do conhecimento oculto sobre a própria encarnação.

Contudo, outras abordagens são pertinentes.

O pressentimento está, de certa forma, relacionado com eventos ao longo do tempo. Portanto, a questão do tempo passa a ser um importante fator a ser considerado.

Já apresentamos aqui, neste jornal, que uma mudança de como compreendemos o fluir do tempo altera a nossa percepção de conceitos espíritas [2,3]. Nesta ocasião, dissertamos sobre a eternidade não ser compreendida na visão temporal, mas, atemporalmente, fora das limitações impostas pelo que consideramos como passagem, ou fluir, do tempo. Nas palavras do cientista Paul Davies: "Do passado fixo ao presente tangível e ao futuro indeterminado, é como se o tempo fluísse inexoravelmente. Mas essa é apenas uma ilusão”[4].

Os conceitos de tempo e de espaço sofreram uma mudança brusca com a teoria da relatividade, elaborada por Albert Einstein, a qual demonstra que não são entidades fixas e constantes como eram compreendidas até então, são, como consta no próprio nome da teoria, relativas ao “observador”, isto é, ao referencial.

Sob esta ótica, podemos compreender melhor o que nos dizem os Espíritos. Com relação ao passado, dizem que “o passado, quando com ele nos ocupamos, é presente”[5] e, com relação ao futuro, “quando o vêem, parece-lhes presente”[6]. Podemos, então, dizer que o passado e o futuro passam a ser o presente, dependendo da condição em que o espírito se encontra em relação com o contínuo espaço-tempo conhecido, isto é, do referencial.

Apesar de ser um pouco conflitante esta visão do tempo por diferir do senso comum, abre portas muito amplas para o entendimento da nossa existência espiritual e da nossa relação com o processo evolutivo. O tempo, não sendo fixo, passa a estar relacionado com o estado mental do espírito, assim como sua própria existência material. Nos desvencilhando de passado e futuro, podemos manter o foco naquilo que realmente importa, que é o presente, pois, o cuidado pessoal com o presente estabelecerá, não apenas o seu próprio futuro, mas, também, o seu passado.

Nesta abordagem, o pressentimento também pode ser entendido de uma forma mais simples. Dependendo da atenção que o espírito presta aos eventos que ocorrem ao seu redor e no mundo como um todo, poderá concluir por eventos específicos que estariam no futuro. Mesmo na visão trivial de futuro, tem-se que os eventos que estão por vir são decorrentes das condições de contorno do presente.

Assim, por exemplo, podemos dizer que um motorista seguindo por uma determinada estrada chegará ao seu destino e, inclusive, estimar a hora de chegada. A destreza do motorista, o tipo de automóvel, as condições da estrada e do clima seriam as condições de contorno e, assim, a previsão é possível. Verificamos, nesta análise, que, quando tratamos com fatos facilmente relacionáveis, chamamos de previsão, quando não chamamos de pressentimento.

Assim, os meteorologistas preveem chuva baseados em observação e estudos; porém, aquele idoso que diz que vai chover porque o joelho dói, diz-se que tem um pressentimento.

A atenção dedicada aos eventos tem fundamental importância para o processo evolutivo do espírito. Muitos passam toda a existência corporal sem se atentarem para o que fazem e o que os outros fazem, nem, tampouco, para as consequências das ações para com os outros. Em outras palavras, passam a vida inconscientemente. A consciência dos próprios atos e do entorno é a única forma de garantir uma existência corporal adequada e saudável, útil para si próprio e para os outros, além, é claro, de favorecer o processo evolutivo, para que, quando soar o momento da partida para outra condição de existência, o espírito possa estar tranquilo de que está partindo em melhor condição do que aquela quando chegou.

Notas bibliográficas:
1. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, questão 522.
2. Claudio C. Conti. Vida Eterna, Jornal Correio Espírita, abril de 2017.
3. Claudio C. Conti. Ensaio sobre Questões Espíritas, http://ccconti.com/livros/livros.htm
4. Scientific American Brasil. Outubro, 2002. Paul Davies.
5. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, questão 242.
6. Ibidem, questão 243.

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