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Artigo do Jornal: Jornal Dezembro 2019
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O mais deslumbrante advento em nosso planeta, certamente foi o nascimento do nosso Mestre, constituindo o primeiro Natal, comemorado com grande esplendor pelas legiões angélicas, tendo sido seguramente um acontecimento transcendental.

Segundo o espírito de Emmanuel, o Cristo dirige o orbe terrestre, considerando a circunstância de que cada mundo, como cada família, tem seu chefe supremo, ante a justiça e a sabedoria do Criador (1). Sendo um espírito puro, supremo criador da Terra, com segurança pode-se afirmar que a encarnação do excelso Jesus foi reconhecida e reverenciada por incomensurável número de seres resplandecentes, principalmente dos contingentes espirituais situados em escalas superiores, estabelecidos nos maiores graus de adiantamento espiritual.

Compulsando o Evangelho, verifica-se, realmente, a condição de pureza do Mestre já estabelecida antes da formação do planeta: “Pai, eu desejo que os que me deste estejam comigo onde eu estou e contemplem a minha glória, a glória que me outorgaste porque me amaste antes da criação do mundo” (2), como igualmente: “E agora, Pai, glorifica-me junto a Ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (3). Mais citações importantes: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (4) e “Em verdade, em verdade vos asseguro: antes que Abraão existisse, Eu Sou” (5).

Em duas ocasiões, o Cristo aponta que todos os seres espirituais poderão chegar ao patamar evolutivo em que ele se encontra, clamando: “Vós sois deuses” (6) e que poderíamos fazer as obras que ele realizou e, além de tudo, que seríamos capazes de realizá-las de forma ainda superior (7). Portanto, o Pai quando nos criou, nos outorgou dons perfectíveis a serem paulatinamente exteriorizados, através de inumeráveis experiências evolutivas, através das reencarnações (“nascer de novo”). Em verdade, Jesus revela a toda humanidade que existe um caminho evolutivo espiritual possível a ser percorrido, tendo a excelsa referência do amor como lei basilar desse desiderato.

Jesus não feriu as leis biológicas da Terra

Em verdade, quando comemoramos o Natal, estão implícitos o reconhecimento e a subsequente gratidão de toda a humanidade pelo incomensurável esforço despendido por um ser puro como Jesus para encarnar em nosso orbe, ainda marcadamente inferior, planeta de provas e expiações. Uma entidade de altíssima categoria hierárquica superior se faz presente, revestindo um corpo material como o nosso, diferindo apenas no agente organizador da forma, uma vestimenta perispirítica sutil, irradiando a luz incomensurável da perfeição.

A Doutrina Espírita, fundamentada na obra “A Gênese”, de Allan Kardec, entende que o Mestre teve sim, como todos os homens, um corpo de carne, além do corpo fluídico inerente a todas criaturas terrenas (8). Assim sendo, para os espiritistas, em sintonia com o Evangelho (9), o Cristo não encarnou para revogar qualquer lei terrena, sendo inconcebível, então, que sua presença acontecesse de forma não material, como alguns espiritualistas, não espíritas, acreditam, ressuscitando o pensamento dos antigos docetas, partidários de uma doutrina cristã do século II, considerada herética pela Igreja primitiva e que negavam a existência de um corpo material a Jesus.

Segundo essa assertiva, Jesus utilizou-se tão somente de um corpo fluídico, visível e tangível, sob a aparência da corporeidade humana, isto é, teria sido um agênere, um ser que não foi gerado, um ser extrafísico, momentaneamente materializado, assumindo as formas de uma pessoa encarnada, ao ponto de produzir uma ilusão completa, fazendo com que tudo na vida do Cristo tenha sido aparente, até mesmo o seu nascimento e sua desencarnação. Jesus dissimulava ser humano.

Esse empreendimento sacrificante do Messias em dar vida a uma vestimenta física, espelhando o amor divino sobre nós, é depreciado pela doutrina docetista e depois rustenista, às quais são rotuladas como anticrísticas pelo Evangelho de Jesus: “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo” (10).

Efetivamente, os docetas acreditavam que o Mestre sendo a própria divindade não podia ser uma pessoa humana. Assim sendo, pregavam a absurda preposição de que o Messias revestiu um corpo “aparente”, dando a impressão de que era um ser físico, o qual, certamente, fingiu sentir fome, sede e, ainda por cima, agiu como um prestidigitador, simulando o derramamento de sangue e a própria morte.

Jesus não é o próprio Deus

A Doutrina Espírita, felizmente, como o Consolador Prometido, põe por terra as afirmativas de Jesus ter encarnado como um agênere, assim como não crê que “o Mestre tenha assumido a natureza humana sem deixar de ser Deus”, conceito dogmático afirmado pelo Concílio I de Nicéia, sendo apontado o Cristo como a própria divindade.

Uma das afirmativas dos exegetas dogmáticos partidários da deificação de Jesus é a citação: “Eu e o Pai somos um”. O importante é não confundirmos a essência ou centelha divina, que nos dá a vida, que é criação do Pai, tendo saído Dele, com o próprio Criador. É claro que todos nós somos um com o Pai, porquanto Ele foi o responsável por nos conceder a vida revestida da imortalidade. Para que não houvesse confusão em relação a isso, o Mestre afirmou: “Vós sois deuses” (11). O Antigo Testamento afirma que fomos gerados à imagem e semelhança do Pai (12).

Ao mesmo tempo, o Mestre ressaltava a sua unicidade de pensamento com Deus. Aliás, na oração sacerdotal, o Cristo pede a Deus que permita que Ele (Jesus), seus discípulos e o Pai sejam um (13). Pretenderão as igrejas tradicionais que, em virtude dessa frase, o Mestre tenha querido acrescentar à Trindade mais doze pessoas?

Outro texto é oferecido pelos dogmáticos como prova da deificação do Cristo: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou” (14). Entretanto, Devemos frisar que antes que a Terra fosse formada, o Mestre já existia como Espírito puro, visto que ele foi o criador do nosso planeta, constituindo-se em dirigente supremo do orbe. Lembramos que João Batista disse: “O que vem depois de mim é maior do que eu, porque já existia antes de mim” (15). Portanto, quando a personalidade Abraão apareceu, em nosso mundo, Jesus já era o Cristo (“Eu Sou”).

Os teólogos dogmáticos também argumentam a favor do dogma da divindade do Mestre, utilizando o seguinte pensamento do apóstolo João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (16). Considerando que o Verbo de Deus é a vontade ou a palavra do Pai que se fez carne, quer dizer, manifestado à humanidade, através do Messias, podemos afirmar que Jesus foi o encarregado de transmitir aos homens o pensamento de Deus. O Cristo veio ao mundo físico revelar a todas as criaturas o Pai amado, Criador de todas as coisas: “Quem crê em mim, crê não em mim, mas naquele que me enviou” (17); “Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar” (18); “As cousas, pois que eu falo, como o Pai me tem dito, assim falo” (19); “Tudo por meu Pai me foi entregue” (20).

Sempre que Jesus se refere a Deus, nunca se intitula ser ele próprio. Muito pelo contrário, identifica a divindade como alguém irmanada com ele, mas nunca ela mesma: “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem…” (21)); “E, clamando o Mestre com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou” (22).

Constatamos, com facilidade, pela leitura atenta e descompromissada dos textos do “Novo Testamento”, que, na realidade, Jesus não é o próprio Deus. Ele mesmo o afirma, dizendo a Maria Madalena: “Não me toques porque ainda não subi a meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos, e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (23)). Ao ser abordado por um mancebo muito rico que lhe chamou de “Bom Mestre”, o Cristo lhe repreendeu: “Por que me chamas bom? NINGUÉM HÁ BOM SENÃO UM SÓ, QUE É DEUS”... (24) (os grifos são nossos).

Outra passagem bíblica digna de registro contra o dogma da deificação do Mestre: “Quando será o dia ninguém sabe, nem mesmo os anjos que estão nos céus, nem mesmo o Filho, mas tão-somente o Pai” (25). Nesta afirmação de Jesus a respeito do dia da sua volta ao planeta, está contido o protesto antecipado do Cristo a respeito do papel que os homens lhe incumbiriam de ser o próprio Deus.

O que ensina o Espiritismo?

Allan Kardec afirmou que “Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão da sua lei, porque ele estava animado do Espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra” (26). Em “Obras Póstumas”, no capítulo sobre a Natureza do Cristo, diz o excelso codificador que Jesus era um messias divino pelo duplo motivo de que de Deus é que tinha a sua missão e de que suas perfeições o punham em relação direta com o Pai. Kardec ressalta, igualmente, que o próprio Mestre deu a si mesmo, com persistência notável, a qualificação de “Filho do Homem”, expressão que significa o que nasceu do homem, em oposição ao que está fora da Humanidade. O Mestre de Lião diz que, “pelos imensos resultados que produziu, a encarnação de Jesus neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios" (27).

Natal à luz da razão

Portanto, utilizando-se a fé raciocinada e já conhecendo a verdade que liberta (28), o Natal passa a ser festejado com mais esplendor, desde que o nascituro se revela, distanciado das correntes trevosas que intentam depreciá-lo, como um excelso enviado do mundo cósmico, sendo arquiteto maior de nosso orbe e que, submetido a intensos sacrifícios, por amor à humanidade, encarnou, nas condições biológicas normais, entre nós.

O Natal representa a Luz Divina se fazendo presente, por meio de seu excelso enviado, iluminando o caminho que trilhamos, através dos nossos próprios passos, e nos apontando um sublime e resplandecente porvir, em felicidade suprema, na Eternidade.

Bibliografia
1- Emmanuel, “A Caminho da Luz”, cap. IX, pág. 83;
2- “O Evangelho Segundo João”, XVII: 24;
3- Idem, versículo 5;
4- Idem, cap. I:10-11;
5- Idem, cap. VIII: 58;
6- Idem, cap. X: 34;
7- Idem, cap. XIV: 12;
8- Kardec, Allan, “A Gênese”, XV: 66;
9- “O Evangelho Segundo Mateus”, V:17;
10- “Primeira Epístola de João”, IV: 2-3;
11- “O Evangelho Segundo João”, X: 35;
12- “Gênesis”, I: 26;
13- “Evangelho Segundo João”, XVII: 21;
14- Idem, VIII: 58;
15- Idem, I: 15;
16- Idem, I: 14;
17- Idem, XII: 44;
18- Idem, XII: 49;
19- Idem, XII: 50;
20- “O Evangelho Segundo Lucas”, X: 22;
21- Idem, XXIII: 34;
22- Idem, XXIII: 46;
23- “O Evangelho Segundo João, XX: 17;
24- “O Evangelho Segundo Marcos, X:17-18;
25- “Evangelho Segundo Mateus”; XXIV: 35-36;
26- Kardec, Comentário da resposta da questão 625 de “OLE”;
27- Kardec, “A Gênese”, cap. 15;
28- “O Evangelho de João”, VIII: 32.

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