A palavra deficientização traz em si um elevado resultado da atitude de alguém em relação à sua ou à deficiência de outra pessoa. Comum muitos limitarem-se ou serem limitados para além das contingências da sua doença, falta ou qualquer condição de saúde. Frequentemente, encontram-se atitudes de rejeição, excesso de proteção e mesmo desconhecimento das reais habilidades e potenciais de alguém. Contudo, uma situação é ter verdadeiramente uma limitação ou impedimento, outra, porém, é supor ou agir como uma pessoa sem possibilidades.
Quando uma criança apresenta cegueira, por exemplo, está com sérias recolhas de estímulo visual do ambiente. Entretanto, é completamente desnecessária a postura do outro social em impedir que ela se desenvolva com a utilização dos demais sentidos remanescentes. Se isto não acontecer, ela deixará de amadurecer como indivíduo, provando e conquistando viabilidades interativas significativas para o seu presente e seu futuro. O mesmo pode ser pensado relativamente a outras patologias e síndromes.
A vivência de experiências e aprendizagens oferece condições para sua organização intelectual, psíquica e moral. Se alguém impede sua ação, ela continuará desconhecendo suas reais capacidades e incapacidades. Sua existência será muito mais uma suposição do que uma realidade.
Portanto, não possibilitar o desenrolar humano de alguém com deficiência é atribuir, e mesmo formar, um conjunto de inabilidades que talvez, na verdade, provoquem um impedimento interativo. A isso é dado o nome de deficientização.
Uma analogia bastante interessante é pensarmos em um rio, suas margens e a quantidade de água. Se este rio não encontrar margens adequadas e o volume de água for intenso, ele irá provavelmente transbordar e transformar o seu redor em um charco; se o volume de água for muito baixo, embora as margens estejam presentes mas distantes, esse rio pode modificar-se em filete e até secar.
O mesmo pode acontecer com uma pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. Se ela não tiver a oportunidade de interagir, se ela não receber estímulos apropriados e for incentivada pelos desafios e pelas curiosidades, há uma grande chance de inviabilizar-se socialmente. Quando tal se dá, pode surgir não só alterações motoras, mas especialmente profundos danos afetivos, intelectuais e mesmo morais. A sensação e a percepção de ser alguém inutilizado pode até mesmo conduzir essa pessoa à depressão e ao suicídio.
Talvez seja impactante, contudo, a deficientização poder ser comparada a um deficienticídio ou homicídio social. Precisamos ficar atentos sobre o quanto estamos colaborando para o aprisionamento ou para a libertação de quem, por algum motivo, apresenta como prova ou como expiação alterações que o conduzam à deficiência.
O Centro Espírita e todo o movimento, a partir dos seus dirigentes e trabalhadores, devem repensar a sua prática, para que mais oportunidades interativas do tema inclusão e acessibilidades e mesmo a pessoa com deficiência, condutas atípicas e mobilidade econômica-social circulem nas palestras, equipes de trabalho, eventos de formação e difusão do doutrinária, a fim de não se tornarem colaboradores efetivos da deficientização, pela sobrecarga ou pela indiferença.