Quando se pensa em educação, naturalmente lembramos dos professores, professores de todo tipo e de todas as áreas, as exatas, as humanas e, particularmente, as de cunho moral. Pelos séculos adentro, milênios mesmo, e pelo futuro afora, são os professores os construtores dos alicerces necessários ao progresso da humanidade, em todos os sentidos. E não nos faltaram, nem faltam, professores... De leste a oeste, de norte a sul, sob sol ou chuva, frio ou calor, com ou sem condições adequadas, lá estão eles, incansáveis, obstinados, devotados.
Houve um professor nos idos do século XIX que, ao propor um plano para a melhoria da educação pública, afirmou que “a educação é a arte de formar homens, isto é, a arte de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício; de desenvolver sua inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim, de formar o corpo e lhe dar força e saúde. Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais”. Esse professor foi Hippolyte Léon Denizard Rivail, futuramente Allan Kardec (1).
E foi já como Allan Kardec que ele reafirma:
“(...) há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação, a que consiste na arte de formar os caráteres, aquela que cria os hábitos; quando essa arte for bem conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência” (2).
Assim, com um pouco de séria reflexão, imparcialidade e isenção de ânimo e prevenções, temos efetivamente que concordar com a frase que se viu inscrita em várias faixas nas manifestações realizadas no dia 15 de maio passado em diversas cidades de nosso país: educação não é gasto, é investimento. É investimento em melhor qualidade de vida no presente, tanto quanto possível, e certamente em futuro próximo. Levando-se em consideração ainda e também a educação como um todo, aquela que já começa no berço, que orienta os primeiros passos, as primeiras escolhas.
Muito pouco nos preocupamos com a cidadania, uma forma de educação no individual e no coletivo. É a nossa conscientização de que somos cidadãos, com deveres e direitos perante a sociedade, a família e nós próprios que nos confere o necessário discernimento dentro do contexto social. Deolindo Amorim, por muitos chamado professor, colocou com muita propriedade que “o movimento espírita não pode ficar alheio aos problemas sociais, cumprindo-lhe, por isso, interferir na solução desses problemas, em harmonia com o legítimo pensamento da doutrina, que não quer o espírita fora do mundo, mas dentro do mundo, ajudando a transformá-lo” (3).
Outro grande vulto na história da humanidade, Mahatma Gandhi, conhecido pela teoria e prática da não-violência, afirmava que “a desobediência civil é um direito intrínseco de um cidadão. Ele não pode renunciar a esse direito sem deixar de ser um homem. A desobediência civil nunca é acompanhada pela anarquia. Reprimir a desobediência civil é tentar aprisionar a consciência” (4).
Consequentemente, nós, espíritas, não somos apenas espíritas de carteirinha dentro de nossos núcleos espíritas, delegando a Jesus, “que está no leme”, a responsabilidade que nos compete na conjuntura social – somos antes de tudo cidadãos, não nascemos espíritas, mas nascemos cidadãos, com registro em cartório!
Desse modo, é imperiosa a nossa participação consciente e equilibrada na tessitura do progresso harmonioso da humanidade, da melhor forma possível a cada um de nós, sempre naturalmente de modo pacífico e fraterno. Mas sem omissões, respeitando o conhecimento relativo das leis naturais que já temos a felicidade de ter conquistado, e pela implantação das quais tantos se sacrificaram, inclusive, o Mestre nazareno. E entre elas figuram as leis de progresso, de igualdade, de liberdade, de justiça, amor e caridade... (5)
Se somos considerados por alguns como “massa de manobra etc etc etc”, sejamos massa de manobra no bem, colaborando na implantação e implementação dos meios necessários para uma educação lúcida, eficaz e eficiente, erguendo bem alto a bandeira da paz, da caridade, do respeito, da justiça e do amor ao próximo como a si mesmo.
Bibliografia
- Livro Textos Pedagógicos, Dora Incontri
- O Livro dos Espíritos, q.685a, comentário de Allan Kardec
- Livro O Espiritismo e os Problemas Humanos, Deolindo Amorim
- Livro As Palavras de Gandhi, Richard Attenborough
- O Livro dos Espíritos, Terceira Parte, As Leis Morais