Natanael, filho de Elias, há mais de vinte anos paralítico, finalmente era apresentado ao Cristo, em Cafarnaum, no salão simples da casa de Simão Pedro, casebre humilde, de pescador, próximo ao mar que lhe provia o sustento, sob a brisa leve do oceano a refrescar os presentes a mais um dia de curas físicas.
Lá estava presente aquele homem, levado em uma padiola, pela misericórdia alheia. Olhos túrgidos, boca salivando, ossos perfurando a pele e apenas um pano sujo a cobrir-lhe as intimidades. Aproxima-se o Cristo, o qual impressionava pela própria figura, a todos os presentes. Olhos que pareciam chispar faíscas luminosas, mãos calejadas, fronte larga, cabelos aos ombros e uma paz imperturbável. Adentra o Mestre na intimidade psíquica de Natanael, médico de almas que é, coletando sentimentos e pensamentos; Ajoelha-se para falar-lhe mais de perto e pergunta: Natanael, filho de Elias, tu crês que eu possa te curar?
Ao leigo, a palavra “cura” pode apresentar-se sob a superficialidade do “voltar a andar”, é, porém, muito mais. O paralítico tinha muito pouco a oferecer, dependia na totalidade de outrem, era um “recebedor” da misericórdia alheia. A cura dava-lhe a oportunidade de mudar para o outro lado, gabaritava-lhe a auxiliar. Tratava-se, portanto, de muito mais que simplesmente voltar a andar, era-lhe um convite a tornar-se um colaborador da mensagem Cristã, no decorrer do caminho.
A cura física, pouco compreendida por muitos, nada mais é do que a permissão ao fim da paralisia, um convite ao recomeço, desta vez acompanhando as trilhas do comprometimento moral íntimo.
Bem, quanto a Natanael, filho de Elias, todos sabemos como termina a história.
Chegará, talvez, o dia em que os torvelinhos domésticos se converterão em hálito insuportável, na química das relações familiares. Nos convidando ao abandono do parente-problema a própria sorte.
Onde existe o convívio, existe a responsabilidade.
É possível que o familiar te arroje aos piores adjetivos e te compartilhe vis sentimentos. Não, porém, jamais ignore que o doente necessita de ajuda, mesmo que se apresente sob as vestes tolerância, paciência e oração. Não permita-se a paralisia dos sentimentos nas trilhas da reencarnação, convite maior a reconciliação.
Quando cansar-lhe o coração, diante do abandono e insensatez dos seus, recorda o Mestre, “LEVANTA-TE E ANDA”, prossegue os dias renovando teus sentimentos no desfiar do tempo que te compete e te é permitido.
É possível que as vicissitudes te apresentem a escassez ou a desgraça. Guarda-te da revolta, abstém-te do desespero. Ambos apenas te guiarão a que vivas em torno de ti mesmo. É impossível ser feliz quando nos importamos apenas conosco.
O egoísmo é paralisia maior do espírito.
Recorda o Cristo e roga-lhe as forças para prosseguir, apesar das intempéries e obstáculos impostos para o teu próprio burilamento, levanta-te e anda, não te permitindo estacionar os sentimentos no amargo da revolta. Perceba, então, que não é a maca a paralisadora, é simples instrumento, criação própria para acomodar a respectiva dificuldade.
Portanto, talvez alguns, aceitando os convites da revolta, se acomodem desconfortavelmente nas padiolas do excesso do amor próprio, paralisando de forma dolosa as respectivas possibilidades e labores. Aqueles que se arrojam a revolta jamais terão as credenciais do equilíbrio atender e tendem a paralisar-se incomodamente no cadinho dos sentimentos amargurados.
Outros, porém, escolhem deitar-se no colchão confortável e anestésico dos prazeres mundanos.
A escolha é individual, a colheita, também.
A rota da fuga da alienação será paralisia fatal a missão ordinária e individual. Jamais poderá acolher corações aquele que se enclausura nas sensações. A escolha é difícil e carrega o sobrepeso das antigas paixões, ainda vivas no espírito, as fantasias infelizes revividas paralisam a tua alma.
Levanta-te e anda, sem permitirdes a perda de tempo.
Ninguém atende lágrimas entregue ao desânimo; Jamais um revoltado consolou um coração; Ainda, sob a égide da vaidade e orgulho, a palavra nunca encontrou o endereço da sinceridade e exemplo. Sendo, portanto, semente inútil e, talvez, falsa.
Se te encontras neste meio, apressa-te em desvencilhar-te. Coloca-te em pensamento e oração, fitando os olhos luminosos do Cristo, roga-lhe ao coração e escuta em teu íntimo “LEVANTA-TE E ANDA”
Paz a todos.
Referências:
Cap.7 Primícias do Reino, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco