“Ai do mundo por causa dos escândalos. Porque é necessário que sucedam escândalos, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo.” (1)

E escândalos não nos têm faltado! A cada dia mais um, e cada um mais escandaloso do que o outro, se é que isso ainda é possível, provocando cada um ainda mais dor, se é que se pode medir e definir a extensão da dor, do sofrimento... No mundo inteiro eclodem escândalos os mais variados, cada vez mais impactantes, quer sejam individuais ou coletivos, perpetrados por pessoas das mais diversas classes, inclusive governantes e/ou grupos destacados.

Diante de tanta barbárie num século de tanto progresso intelectual, tecnológico e científico, desafiando nossa capacidade de suportar e de superar esses fatos, a nós, espíritas, resta-nos buscar entender essas situações através de um estudo mais criterioso das leis naturais tão claramente explicitadas em nossa doutrina espírita, na terceira parte de O Livro dos Espíritos, muito bem denominadas por Allan Kardec de “Leis Morais”.        

Quando Jesus afirmou ser necessário que houvesse escândalos, obviamente referia-se a ações e atos praticados por espíritos inferiores, espíritos imperfeitos que, por ignorância ou mesmo pouco desenvolvimento moral, fazem escolhas, tomam decisões que provocam o escândalo; e assim, em geral sem o perceber, ou pretendendo estar acima da lei, acionam a lei de causa e efeito que, mais cedo ou mais tarde os atinge, conforme o Mestre ressaltou no mesmo ensinamento: “ai daquele por quem venha o escândalo”. 

No entanto, somos muitos, milhões, bilhões, os que já conhecemos e até compreendemos relativamente às leis naturais que regem toda a criação. Mesmo os que não são espíritas tomam conhecimento das leis de Deus, de uma forma ou de outra. Inclusive por instinto, intuitivamente a criatura humana, desde os tempos mais remotos, teve consciência de uma Lei Superior, vinda de um Ser Superior. Leis perfeitas, criadas para nos servir de ferramenta na construção do nosso crescimento espiritual, luzes para nos mostrar o caminho seguro do nosso desenvolvimento.

“Ai do mundo por causa dos escândalos” sentenciou Jesus. Ai de nós, visto que sabemos estarmos todos inseridos nesse contexto... Não somos marinheiros de primeira viagem. Vimos caminhando há muito tempo, gerando ou participando de escândalos, ou ainda, nos omitindo face a situações e acontecimentos que reclamavam uma atitude de nossa parte.

Portanto, vamos acompanhar Kardec quando afirma que “não basta se cubra de verniz a corrupção, é imprescindível extirpá-la” (2) e fazer a nossa parte, procurando extirpar paulatina e incansavelmente a corrupção de nossa vida, mesmo aquela mais pequenina e aparentemente inofensiva, mesmo aquela travestida de “benesse” e, se possível, tentar extirpá-la inclusive do meio que nos cerca. Temos para isso todos os meios, particularmente a nossa consciência.

Já é tempo de compreender melhor o que seja a caridade esclarecida que inclui o reconhecimento e a não aceitação do erro; de melhor entender o que seja o amor ao próximo consciencioso e lúcido que não o condena quando erra mas que lhe reprime o ato nocivo. Hoje, pelo menos nós, espíritas, já não podemos alegar ignorância, desconhecimento do ensinamento de que “a quem muito foi dado muito será pedido” (3).

Bibliografia

1. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.VIII, item 11.
2. Allan Kardec, Obras Póstumas, cap. Credo Espírita.
3. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.XVIII, item 10.