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Artigo do Jornal: Jornal Fevereiro 2019

Sobre o autor

Sônia Hoffman

Sônia Hoffman

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Diversas são as possibilidades espirituais responsáveis pela presença do transtorno do espectro autista (TEA). Bem analisadas, provavelmente não são causadas somente pelo indivíduo, mas também pelo seu grupo familiar ou social porque geralmente estão compartilhadas.

Muitas vezes confundida como psicótica ou com alguma deficiência intelectual, a pessoa com autismo tem sua autocentração, refletida em dificuldades desarmônicas no seu desenvolvimento, em função da deficiência nos sistemas que processam a informação sensorial recebida. Com isto, há uma diversidade de condutas e reações aos estímulos: desde exacerbadas, desconectadas, sem limite, débeis ou mesmo bloqueadas.

Movimentos de autoestimulação ou autorregulatórios (como balançar mãos, bater pés, estalar dedos, fazer sons repetitivos, girar objetos ou o próprio corpo, por exemplo) são bastante comuns em alguém com autismo. Talvez esse comportamento estereotipado seja para proporcionar a ela sensações, bem estar ou simplesmente uma tendência à repetição: o que pode ser inofensivo, desestressante e auxiliar na sua concentração.

Contudo, e o mais importante, estudos vêm apresentando um conjunto de sinalizadores que podem auxiliar na elaboração do processo interativo e exploratório, a ser construído com ética, amorosidade e eficiência empaticamente inclusiva.

Primeiramente, é necessário o desenvolvimento da sensibilidade de perceber quais são os estímulos desestruturantes, indiferentes e agradáveis para aquele ser. O descarte da presença de alguma alteração sensorial (como a surdez, a cegueira e as demais deficiências auditivas e visuais, por exemplo) também deve ser feito. Com o estabelecimento apropriado do diagnóstico do autismo, é fundamental não atribuir necessariamente a falta ou precariedade de inteligência e de afeto. Não é raro a presença de uma inteligência aguçada e, frequentemente, o que pode estar existindo é um empobrecimento na estimulação, desconhecimento da manifestação e da forma de expressão do sentimento e da ação. Para tal, é importante uma "alfabetização vivencial e emocional", um enriquecimento interativo.

A mudança brusca da rotina e a realização de atividades sem a explicação antecipada do seu acontecimento, duração, desenvolvimento, necessidade e consequências podem trazer desconforto, desconfiança, medo, insegurança, desencadeando reações de comportamento e no humor – facilmente administradas, despotencializadas ou disciplinadas por quem não apresenta o TEA.

Assim, a garantia de espaços previamente determinados, situações previsíveis e episódios desameaçadores tem a maior chance de despertar e aprofundar comportamentos e relacionamentos confiantes.

A dissociação de imagens e o excesso de informações ou de estímulos parecem causar impacto e ansiedade, pois surge uma dificuldade para seleção, encadeamento e finalização da atividade de modo tranquilo, como se a pessoa não encontrasse lógica ou quisesse vivenciar tudo ao mesmo tempo. Neste momento, é preciso "despoluir" o ambiente e a atividade do excesso de sons, apelos visuais e táteis não porque falte a inteligência mas pela possível dificuldade de processamento e ordenamento, com serenidade, da causa e efeito.

Por isto, não é incomum que a pessoa com autismo permaneça ausente, confusa ou hiperativa: mas quem de nós não reage diferentemente? Quem de nós não passou ou passa por um processo (auto)educativo e precisa de um tempo, ajuda e orientação para fazê-lo?

Sem a mínima tentativa de banalização, se buscarmos em nossas recordações e meditações, provavelmente encontraremos razões e motivos para isolamento, fuga, impetuosidade, agressão, resistência... então, onde está a dificuldade para entendermos que pessoas reencarnem com tais peculiaridades acentuadas? Por que nos é tão difícil exercitar a paciência e a caridade para conosco e o próximo com autismo, quando na maioria das vezes nos centramos em vitimizações, como autistas morais?

A inclusão é possível: basta VAP - vontade, ação, perseverança.

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