A proposta de evangelização de bebês vem difundindo-se cada vez mais nas instituições espíritas brasileiras. Seus propósitos são a promoção e incentivo da formação moral da criança, desde cedo; a difusão dos ensinamentos para a família e o estreitamento de vínculos reencarnatórios mais sadios.
A cena evangelizadora inclusiva é fundamental para a conquista desses objetivos, pois ela oferece o tempo, o espaço e a atividade para constituição de interações significativas e modificadoras pela ação recíproca de Espíritos, experiências e aprendizagens peculiares.
No entanto, questões surgem para nossa reflexão: como este processo de atividade evangelizadora acontece e é conduzido, quando o Espírito reencarnante traz em si a marca da deficiência ou de alterações intelectuais/psíquicas? Agregado a isso, como é procedido ou conduzido o protagonismo e a mediação, quando pais/familiares/evangelizadores (ou algum deles) não estão preparados para esse acolhimento? Mais ainda: que atitude ou qualidade interativa será adotada pelo evangelizador, diante da perplexidade, dúvida, medo, rejeição dos pais ante um diagnóstico médico apresentando esse bebê como inviável aos padrões ortodoxos de normalidade? O que será dito ou feito, quando pais e familiares buscam, na evangelização de bebês com fundamentação espírita, a cura ou pelo menos uma explicação plausível que retire dos pais o sentimento de culpa, ou de acusamento de culpabilidade do cônjuge, pelo surgimento de um bebê considerado falho? Como será interpretado e conduzido o comportamento de pais/familiares/evangelizadores desavisados frente à frustração de nenhuma alteração fisionômica, comportamental ou de movimento do bebê (porque ele não vê o sorriso ou a tristeza no rosto do seu interlocutor, não ouve ou registra sons e palavras de quem interage com ele, não brinca ou se desloca para o começo ou continuidade de um jogo proposto pelo outro, se isola em si porque seu mundo começa e termina nele mesmo)? Como esse Espírito será acalmado e esclarecido, porque sentiu o preconceito dos pais desde o primeiro ato, que deveria ser inclusivo no planejamento reencarnatório, que teme os obstáculos a surgirem no seu desenrolar infantil e de jovem, que sofre pelo receio de nova falência e busca no suicídio um escape para o aplacamento do seu orgulho, da sua dor?
Neste sentido, percebe-se logo não ser suficiente o evangelizador ter somente boa vontade. É fundamental a presença de disposição e conhecimento doutrinário consolidado, associado à firmeza e disponibilidade no entendimento de possibilidades de vias alternativas. É necessária a compreensão de que todos, talvez, tenham de, constantemente, reprogramar a rota, fazendo a busca de recursos cognitivos/tecnológicos, conhecimentos pedagógicos/clínicos, conquistando equilíbrio psicológico e desenvolvendo criatividade e capacidade de apontar para os pais/familiares/outros, assim como para o próprio Espírito, agora em um corpo de bebê, que uma nova oportunidade surge, que o refazimento e a credibilidade são importantes investimentos para o sucesso não da expiação ou da prova, mas especialmente do melhoramento moral.
Não se trata aqui de transformar o evangelizador em um especialista, mas de o conclamar à profunda reflexão do seu compromisso (provavelmente assumido desde a Espiritualidade) de que ninguém, nem mesmo ele, tem o direito e o dever de sobrecarregar o planejamento reencarnatório de quem quer que seja com a sua displicência ou conivência com a exclusão, indiferença, superproteção, porque existe um processo de aprendizagem individual e coletivo em curso.
Assim, a nobre tarefa da evangelização de bebês é uma proposta enriquecedora, complexa, que não demanda um recreador ou mecanicista, mas um coconstrutor de oportunidades, motivador de aprendizagens, "pescador de almas".