Como resposta das leis evolutivas, bem como de causa e efeito, somos colocados a frente dos antigos algozes, os quais nos oferecem a lídima oportunidade da promoção do arrependimento e regeneração. É diante destes irmãos, os quais surgem como os grilhões das inconsequências pretéritas, que referendamos as virtudes, as quais, futuramente, nos garantirão os ingressos aos portais da felicidade.
Segundo Emmanuel, a família é o cadinho redentor, compreendendo que “cadinho”, nada mais é do que o recipiente onde o metal é colocado em estado líquido, mediante grande temperatura. Eis a definição de “lar”, para Emmanuel. Ao defrontar espíritos antagônicos, naturalmente, a lógica divina compreende a expectativa de reconciliação, visto que os irmãos adversários já possuirão um cabedal evolutivo mais apurado, bem como maior preparação e compreensão das respectivas responsabilidades, espera-se ainda a dissensão, contudo, em menor escala, no que, gradualmente, resultará em reconciliação, mesmo que sejam necessárias muitas oportunidades reencarnatórias.
De maneira geral, este é o mecanismo divino para aproximar almas ditas oponentes, usando o tempo, bem como as oportunidades e circunstâncias, para reaproximá-las, ou, simplesmente mantê-las juntas, uma a outra.
Contudo, hoje desejamos focar especialmente na tão desvalorizada célula matrimonial, sob a ótica espírita.
O casamento é marco de maior importância na programação espiritual, obviamente que, por questões diversas, inclusive missionárias, por vezes não reencarnamos com a previsão de adquirir núpcias. Excetuando-se estes casos, devemos entender a devida importância do casamento em nossas existências.
Faço questão de ressaltar tal ponto, pois, diante da banalização do matrimônio, vemos quase sempre posição egoística e teimosa ao ceder a velhos vícios, ou ainda, a tratar-se a união matrimonial como um obstáculo ao prazer fugidio, responsável pela vida miserável de muitos, levando-se assim ao divórcio fácil, a ausência dos desforços para se consagrar os laços familiares à respectiva existência. Obviamente, aos negligentes do amor, o tempo de Deus os aguarda, na sua paciência e misericórdia, bem como na Sua divina persistência.
É bem verdade que a teimosia do vício é grande causa destruidora de oportunidades sob o lar, contudo, devemos entender que a falta de compreensão de muitos, acerca da configuração familiar, é também objeto de aflições e conflitos entre os consorciados.
Todos recebemos, na condição de filhos, criações e valores educacionais diferentes. Famílias, mesmo que desajustadas, se adequam a determinados costumes, criam os respectivos “ecossistemas” e habituam-se a estes. Algumas famílias expõem problemas abertamente, outras preferem se fechar; existem famílias com maior afinco a educação, outras nem tanto; Umas são mais disciplinadas e organizadas, outras desvalorizam tal conduta. São variações as quais certamente serão levadas pelo indivíduo no percorrer da existência.
Imaginem agora, por exemplo, uma pessoa nascida e criada em uma família acostumada a falar “verdades”, como se alguém fosse dona da mesma, consorciando-se a outra pessoa criada em família mais reservada. Teríamos, por certo, alguém sendo constantemente atacada e, possivelmente, magoada.
Talvez, portanto, a grande causa dos divórcios seja a insensibilidade para perceber o início de uma nova jornada familiar, a qual exige que cada um dos seus participantes se “reconfigure” em relação a criação recebida, infelizmente, o que percebemos é um firmar teimoso de posição, exigindo que o outro se adapte a nós, afinal, fomos criados assim! Devemos conhecer a pessoa do outro lado, seus hábitos e valores, nos adequando e adaptando, em um movimento bilateral de reajuste. Tal reajuste, naturalmente, compreende questões corriqueiras, como o controle de emoções, reposicionamento de hábitos, culminando em aperfeiçoamento dos vícios, através do desenvolvimento natural do amor entre as partes, talvez, no passado, conflitivas. É através da convivência que o Pai maior atinge nos nossos corações no desenvolvimento da fraternidade, basta-nos, estarmos abertos e dispostos a tal.
Não pensemos que esta reconfiguração se exige apenas no momento do matrimônio, outros marcos da família exigem o mesmo, por exemplo, o nascimento de um filho, recepção dos pais idosos no lar, mudança na condição financeira, alteração na saúde de um dos integrantes da família, perdas de entes queridos, etc. Deus nos promove inúmeras oportunidades de melhoria interior, de desenvolvimento das virtudes, sendo o principal através dos laços afetivos. Devemos estar atentos a estas oportunidades, através das circunstâncias da vida, aproveitando-as em sua plenitude para o exercício do amor, resignação e paciência.
Compreender a necessidade de entender o outro lado e nos adaptamos ao mesmo é perceber que a família deve carregar a sua própria identidade, ser uniforme. Talvez agora entendamos as palavras do Cristo ao se referir a união matrimonial como uma comunhão de almas, unidas para um bem maior, adaptando-se e adquirindo o laço indissoluto do amor, atuando ambos como se fossem apenas um, uma só carne (Marcos 10:8).